FIM DOS TEMPOS
Se a sua voz se manifesta em grito rude
É-me livre o ouvido: por fazer de conta.
Reajo logo no olhar, mas as mãos dizem também. O dorso denuncia: autêntico gesto de quem responde sem rodeios
De quem oferece, como resposta, manias fugidas do ensaio; de quem não sabe a pergunta
mas anda sempre munido da resposta.
Serei nunca desses dias de rascunho, daquela complacência toda; serei eu e serei quando,
serei assim, como o ouvido apruma.
Portanto a sua voz se manifesta,
Rude e livre,
Ojeriza a céu aberto:
– mas é quando eu me coloco em momento antes,
E saco o desaforo do espontâneo,
E a mira não é o alvo que as armas comuns então pretendem,
E o ouvido, somente nesse faz-de-conta,
Apenas mantém-se isolado em ecos, a escutar o diálogo com alguém além de si:
– pra que tanta profundidade? – pergunta o superficial.
– por que a superficialidade? – responde o fim do mundo.