Noites vazias
Para uma prosaica noite de terça-feira. Não era de se estranhar a falta de animação no boteco do Claudionor, Nonô para os íntimos. Mesmo assim, Geraldo se esforçava ao máximo pela graça de uma gelada, de graça naturalmente. Ou quase. Tirava do velho e encardido violão, uns poucos acordes que conhecia , cantava boleros e canções românticas na esperança de sensibilizar algum coração solitário ou sangrando por um amor mal resolvido. Não era músico da casa, melhor dizendo, nem era músico. Tocava mal e cantava semitonado, mas tinha um vasto repertório no mais puro estilo dor de cotovelo. Também não era um sucesso, mas, tinha lá o seu público. Cada qual com a sua história. Traição, abandono, amores que findaram ou nem aconteceram. Na maioria das vezes, alguém deixava em sua mesa uma gelada e não era raro um tira-gosto, dos mais baratos, naturalmente. E a noite se arrastava, fustigando as almas boêmias e os boêmios de ocasião. Um sujeito, ligeiramente chumbado, puxou um antigo samba canção. Mexeu comigo, pensei quase em voz alta. É pura dor de corno, resmungou um freguês que tomava uma sopa. Virou o resto da cachaça e ficou calado. Parecia triste. Meus olhos estavam úmidos e antes de qualquer vexame, paguei a minha conta no balcão e mais uma cerveja, que deixei de cortesia na mesa do cantor. Fui caminhando pela noite morna, repetindo os últimos versos da canção: Não falem desta mulher perto de mim...