Ao Passar o Trem
Alcoviteira de Flores e Botões
A Namoradeira, daquelas que não existem mais, passava horas e horas com a cara tafuiada dentro das mãos abertas, unidas em concha; e com os cotovelos dobrados no peitoril da janela, espiava a rua. Dá notícia de tudo, até quantas flores e botões existem nos jardins e camisas e calças dos transeuntes.
Quando dispersava um pouco, visitava os amigos virtuais no sapp; e puxava a ponta dos cabelos para verificar o grau de oleosidade e secura. Entendia Ela que, cabelos queimados e quebradiços é horror.
Vez por outra, aparecia uma Amélia, porém é mais fácil encontrar bromélias, begônias e Orquídeas, que Candinhas nos jardins. Ainda mais nesses tempos áridos, os quais pomares, corações apaixonados e varandas ajardinadas são coisas de solos ultrapassados; os que existem, estão arquivados nas poucas memórias que estão por um átimo de tempo.
Ao passar o trem, se não ía fisicamente, a Namoradeira acenava e embarcava as malas com seus pensamentos dentro. Acreditava piamente, que também é possível viajar nas futilidades e vagareza dos ponteiros dos relógios, plataforma "Paradeiro do tempo".
Correr demais e desatinado, é para o vento; que tem o dom de estar em todo lugar e ao mesmo tempo, em lugar nenhum. Contrário dEla que nascera ali, e existia; até que o trem passou e levou-a, deixando no lugar os pensamentos, como representantes de sua existência.
Aniversário de Sardse ou Esdras?
Para o Anão de passadas compridas, como são as dos Gigantes Gentis da família Fora de Série, a longínqua e inóspita travessia Vau Perigoso, território dominado por onças, Orcs com apenas um olho na testa, leões e ienas famintas, que ao farejar a presa, tilintam os dentes caninos um no outro, corresponde poucos milímetros de cabriolagens.
Abaixo de Deus e sob as sombras do Senhor do Escuro, a sorte é a luz-guia dos destemidos aventurosos; e quando está caminhando de costa para não ver o perigoso, o anão Sardse é um deles. Porém, ao caminhar com as vistas fixas no ocaso e ir de encontro ao perigo, acovarda-se e volta ao normal, de ser Esdras, o Gigante Medroso.
Contudo, tanto Esdras quanto Sardse são o mesmo homem. A diferença é que um é precavido e o outro expõe-se ao perigo; embora que ambos sabem que a curiosidade e o desatino em demasia, assassinam as fantasias de anões e alucinações de gigantes.
P.S.: sentado no trono, com a coroa de espinhos na cabeça, bebericando uma taça de vinho e recebendo os parabéns dos amigos e familiares, todo Anão passará por Gigante um dia.