Economia de Saci
No meio rodovia, tinha um Pé de Sapato. De boca pra cima, respirando poluicão e rigorosamente em cima da faixa amarela contínua, estava o Sá Pato de um pé, na via.
Nem ía pra frente, nem voltava pra trás. Nem para esquerda, nem pra direita, via, baforava, ouvia tudo e o danado, não se movia.
Carros passavam em alta velocidade, tirando fina em suas laterais. Descosturando-o, arreganhando-o, emborcando-o; mas o infâme fazia de conta que não era com ele. Oh, meus Deus, quanto perigo!
Onde estava o pensamento da Cabeça, ao deixar um Pé de Sapato sem perna, em cima da faixa contínua amarela de uma rodovia movimentada como aquela?
Embebedada, sonada, avariada: ninguém sabe, ninguém viu, como aquilo aconteceu. Em última hipótese, seria algum corisco Saci que passou por ali, deixando um dos Pés de Sapatos cair?
Talvez, pois manquitola de uma perna só, a outra é supérflua e ao dispensá-la, o Pé de Sapato foi junto. Em se tratando de Saci, o que veste ou calça os homens em duas ou dois, apenas uma ou um é suficiente. Os Sacis são tão econômicos, que uma calça ou um par sapatos, veste dois ao mesmo tempo; mas esse tipo de querubim fantástico existe?
Se existe ou não, fica por conta da imaginação; mas que no meio da rodovia, em cima da faixa amarela continua, um Pé de Sá Pato, havia; ah isso tinha. E teimoso, resignado, tudo via e ouvia; e de lá, não saía.
Até que um dia..., sumiu. O dono das pernas, que são donas dos pés, vieram lhe buscar? Quem sabe? Assim como ninguém nunca soube como o senhor português Sá Pato foi parar lá; ninguém sabe, ninguém viu, como o objeto sumira.
Na vida cotidiana, algumas ou muitas coisas, são mistérios não desvendados pelos homens de duas pernas, dois braços, duas mãos, dois olhos e uma cabeça em cima do pescoço, entre duas orelhas e um chumaço de cabelos em cima; que quem a possui, gaba-se em dizer que possui uma joia pensante valiosa.