Discurso de Jogador de Truco:
Meu pai era um capiau da grota. Nunca conheceu a cor do asfalto. Bem lá das profundezas da garganta da grota, era tão grotesco, que chegava ser demente. Asno chucro que só. Mascando um toco de cigarro de palha no canto da boca, não saía nem arrastado do condado. Aliás, morreu e foi enterrado lá mesmo: "aqui nasci, aqui morrerei, aqui serei enterrado".
Quando dava um passeada, era para jogar uma trucada com os compadres. Aproveitava para exalar suas inutilidades e pensar. Nos papos sem pé e sem mente, de vez em sempre, saía com essa: "Oh, lugar para ter cervinho, compade! Como reproduzem esses bichos! É veado e boi chifrudo que não acaba mais, sô"!
Enrolava as aparas do bigode amarelado pela sopa vermelha tingida pelo urucum no canto da boca e voltando ao jogo, pedia truco; ou subia na cadeira para mandar um seis na cara dos adversários:
- Vem não, boi Lambão! Vem não, que aqui cê toma tento nos zoio afora! Abaixa o gaio, abaixa o gaio, compade, que eu apanho as fruita. Perdi tudo, até a muié botei a perder, mas aprendi. Os homi rouba em Brasília e mandá no cêis e aqui, quem roubá e manda na trucada é eu! Vem não ladrão, vem não ladrão de meus bago de mio. Vem não com chorumela! Lugá de pato e marreco é no baraio, corre logo!
E abria as sobras do baralho em duas partes para o falsário entrar no meio.
- A espora nem cresceu, ainda não empenujou, não cobriu o rabo com penas e já quer mandar no terreiro alheio, quer comê galinhas veias? Sai pra lá frangão; vai se criar primeiro! Então, truco travez!