Extraída do Silêncio
A minha voz ao destino dou
Como o sol se dá ao bosque.
Na junção dos lábios palavras sentidas,
No remexer da lingua palavras apressadas
Que se precipitam a mastigar em silêncio
os decassílabos.
Paro o uivo do tempo para ouvir
A voz do destino, ele virá ao meu encontro.
Faço confidências com os verbos latinos
Na madrugada do quarto onde a alma
Dos versos que escrevo respiram.
Palavras voam antes que eu subtone,
Elas em mim gritam, se desatinam
E em dado momento me atacam.
Ora vem ao meu encontro ora eu ao delas.
Nas linhas finas das páginas vadias
Há uma cumplicidade de espírito
Que se aviva na minha alma agora,
Que busca o outro no par das horas
Onde escrevo em suas folhas vazias.
Há um silêncio que desperta as palavras
Do sono, lá fora, nas dobras do mundo,
No badalar do sino, no Olimpo do Deus vivo
Há na polifônia de Dostoíévski a personagem
Que me acende em um discurso de ato único.
Os sentidos de leves sustenidos devoram
As pautas de Beethoven e mudam páginas
A quebrar o inconsciente para o instante
Do estalo da consciência.
Os risos são aritmias de um coração demente
No exato momento do registro do enunciado
Que destrona o mundo com um voo
Do discurso que a todos alcançam na fala.