Escre ver

O ofício da escrita viverá em mim

até o esgotamento de todos os tempos

Sem precisar de um motivo para tanto

Sem me bastar solenemente a vocação

Se não houver histórias a serem contadas

Escreverei até a morte física

e viverei até que o espírito se eleve

mas a cada dia terreno mais altivo

ele se torna pela razão literária

A maior importância da minha vida

se reserva ao legado poético

do nobre gesto de escrever

refletido no pensamento incansável

Preciso que o mundo herde

minha escrita obstinada e solícita

não porque pretendo significâncias

mas como retribuição de um dom

Realizo-me em cada letra escrita

Imortalizo-me a cada palavra lida

Rendo-me a tudo o que crio

Porque assim crio a mim mesma

E quanto mais escrevo

mais sinto que preciso mais

Posso escrever a vida inteira

ainda assim não é o suficiente

Para chegar à palavra exata

que resume a minha existência

A vida é breve e a arte é longa

Viver é pouco diante da escrita

capaz de tornar o pouco imenso

e de ressoar na memória humana

O que pretendo não é material

Longe da fama e do reconhecimento

O que eu quero é vencer o tempo

contra o qual a memória luta

na via de resistência escrita

porque o tempo pode ser

mais perverso que a mentira

e mais precioso que tudo

Escrevo para louvar o que há de melhor

em mim e naquilo que me cerca

na faina de lapidar o que é bruto

enquanto ainda me resta agradecer

por admirar e escrever

Flora Fernweh
Enviado por Flora Fernweh em 01/08/2023
Código do texto: T7851171
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