O poema do Corpo

 

O poema traz as lembranças dos nãos, 

Dos muros que carrego nas mãos.

Traça a fronteira do dito e não dito,

Separa o desejo do vício e eterniza o grito.

 

O poema me coloca no topo das palavras,

Ao sabor da maça molhada ao mel.

 A afar da boca em chama no meu céu.

Meu corpo chora à margem do poema

Sujo do descaso das mentes embriagadas.

 

Roça na alma, impregna na pele selva

O poema leve, o poema fome, o poema seiva;

O poema terra, o poema que me come.

 

O poema são todos os sentidos

Que correm do corpo para os dedos

Até o papel fresco e branco,

E derrama leve sussurros, fortes suspiros,

Nos braços fechados em total abandono.