Brasilidade literária

As histórias encontraram sua tinta na memória

de uma terra esverdeada como os sonhos de Iracema,

que semeou a escrita e foi regada pelo sangue do escravo

em cores melódicas dos sons da flauta-pã indígena

ecoando em versos, a lembrança poética de um povo

O que seria desta gente sem a palavra escrita?

Sem essa fagulha que refugia, que respira, que recorda

Sem essa chama que sem distinção, a todos chama

Sem esse sussurro que mesmo distante, não soube fugir do agora

Apenas um retrato vazio e pobre destituído de moldura

que impregnou a paisagem com uma amnésia nostálgica,

de uma gente errante nas veredas secas dos sertões de Euclides

sedenta por uma identidade que atravessou o São Francisco

e desaguou no Parnaíba, afogando-se na realidade turva

de um dia que esqueceu seu ontem.

À espreita de tudo que se conta e que se vive,

habita o mistério que não tarda a se manifestar

Quando badalar a hora da estrela na lavoura arcaica

coloque as lentes em seus olhos de cigana oblíqua

e vislumbre através da claraboia do cortiço

a senhora, a moreninha e os capitães de areia,

sob a tenda dos milagres, no claro enigma das espumas flutuantes

imortalizando as memórias não-póstumas da literatura brasileira.

Flora Fernweh
Enviado por Flora Fernweh em 27/09/2020
Código do texto: T7073847
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