Brasilidade literária
As histórias encontraram sua tinta na memória
de uma terra esverdeada como os sonhos de Iracema,
que semeou a escrita e foi regada pelo sangue do escravo
em cores melódicas dos sons da flauta-pã indígena
ecoando em versos, a lembrança poética de um povo
O que seria desta gente sem a palavra escrita?
Sem essa fagulha que refugia, que respira, que recorda
Sem essa chama que sem distinção, a todos chama
Sem esse sussurro que mesmo distante, não soube fugir do agora
Apenas um retrato vazio e pobre destituído de moldura
que impregnou a paisagem com uma amnésia nostálgica,
de uma gente errante nas veredas secas dos sertões de Euclides
sedenta por uma identidade que atravessou o São Francisco
e desaguou no Parnaíba, afogando-se na realidade turva
de um dia que esqueceu seu ontem.
À espreita de tudo que se conta e que se vive,
habita o mistério que não tarda a se manifestar
Quando badalar a hora da estrela na lavoura arcaica
coloque as lentes em seus olhos de cigana oblíqua
e vislumbre através da claraboia do cortiço
a senhora, a moreninha e os capitães de areia,
sob a tenda dos milagres, no claro enigma das espumas flutuantes
imortalizando as memórias não-póstumas da literatura brasileira.