Vejo o mundo 
Vejo as gentes que vagam pelo mundo 
Vejo as estradas 
Tantas são as estradas 
Muitas levam ao cume de tudo 
Cume de tudo que não leva à nada!

Vejo as dores das gentes 
As feridas que sangram 
Chagas abertas no peito 
Quanto pranto eu vejo meu Deus! 
Quantas vozes caladas pelo medo da vida 
Quanta vida ceifada ainda em broto 
Quanto desperdício de almas 
De bocas que poderiam sorrir 
De braços que poderiam abraçar 
De mãos que conceberiam poemas 
...Quanta ausência de poesia! 
Quanto aborto de alegria! 

Mas eu vejo 
Vejo com olhos velhos de poeta 
Olhos que já viram o sol se pôr sobre tantas cabeças 
E tantas desgraças 
E tantos lamentos
E tantos desamores 
E dissabores 
... 
O que fazer com estes olhos que tudo vêem? 
O que fazer de tudo que eles vêem? 
Se o tempo já não me pertence 
Se o mar já não conta belas histórias 
Se o vento já não acaricia as roupas nos varais. ..

Morre o verso risonho! 
Morrem os sonhos dos meninos 
Seca a saliva na boca sem o beijo 
Definham as virgens sem amor ...

Mas meus olhos ainda vêem 
Estão cansados de ver o mundo 
E as gentes que vagam pelo mundo 
Mundo que gira 
Gira. ..gira. ..gira. ..
E não chega à lugar algum!