PALAVRAS DESCARTÁVEIS
De que valem as palavras do poeta?
No fim, são só palavras.
Verbos sonhados em madrugadas miseráveis
De sono ausente e sonhos de vigília
Inútil surrealidade
Inúteis palavras
Mas ainda assim escreve
Escreve o grito que esbravejou e ninguém ouviu
Escreve o coração que sangrou e ninguém estancou
Escreve a alma que padece pela prece que ninguém rezou
Escreve, o poeta escreve...
...Escreve o beijo negado
Escreve o abraço frouxo
Escreve o ressentimento que lhe guardaram
Escreve a anistia que não lhe deram
Escreve a segunda chance que não teve
Escreve o bicho que come a carne em dor lacerante
Escreve a culpa que sente o espírito por perdão
Escreve o Não
O grande e maldito Não para tudo
O Não para o riso
O Não para o amor
O Não para a delicadeza
O Não para a ternura que lhe fora prometida e que não veio
O Não para a gentileza que não veio dos céus
Deus!
O poeta escreve
E de que valem as palavras do poeta?
Não valem nada!
Nunca valerão nada!
Mil poemas não poderão mudar nada!
Nem mesmo uma morte tranquila e inodora
Nem mesmo para isso servem as palavras do poeta.