ARGAMASSA
A poesia constrói a poesia,
Com a argamassa fina do doer,
Com o arrastar-se duro do soer,
Com o simulado dó que desafia.
E o fingir pisa suave a verdade,
Máscara p'ra nào ser reconhecida,
Já que inteira não será bem vinda
Na mente conduzida da metade.
E entre o que se escreve e o que se lê,
denso o bosque com flores malcriadas,
Vendo e aromando o em que não se crê.
Delírio em recusar a regra dada,
Cresce a poesia que só vê o que não vê,
Deixando um rastro de beleza usada.