Um Mergulho no Espelho

Um princípio-fim, inteligente e auto-existente,

É a fonte absoluta de Tudo.

No infinito Oceano de Vida,

O infinitamente pequeno e o infinitamente grande se encontram.

São Um.

Essa imensidão sem fim,

Gera mundos e engole mundos.

Que é nosso mundo diante dessa imensidão?

Qual é a nossa importância frente essa imensidão uni-abarcante?

O cosmos desdenha da nossa arrogância,

E nos mostra que nada está em segurança,

Há somente a impermanência constante,

De nebulosas, galáxias, sistemas solares, estrelas, planetas e espécies,

De seres uni e multicelulares,

Do que pode ser percebidos pelos nossos sentidos

E do que está além deles.

A Vida se diverte com nossa ignorância,

Quando lhe atribuímos o que não é,

Quando mistificamos a “divindade”

E o seu oposto:

O espiritual e o material,

A salvação e a perdição,

O céu e o inferno.

Mas, o que é a Vida,

Se não tem por oposto a morte?

Tudo o que nasce, morre,

Entretanto, só a Vida permanece.

Vida, que é tão auto-evidente

E ao mesmo tempo, fugidia à compreensão.

Quando nascemos,

Nossos corpos são gerados por inteligentes partículas minúsculas,

Que vivem nessa imensidão oceânica de energia,

Onde pulula a imperceptível Vida Real,

No perene movimento da forma para a não forma,

Do Ser para o não Ser.

Assim, nossa origem é esse Oceano.

Podemos dar-lhe uma miríade de nomes,

Especular a respeito, criar credos e religiões,

É em vão ...

Essa Realidade que a tudo permeia,

Que tudo contém,

Só se revela,

Quando a árvore e a floresta são uma coisa só,

Quando a Gota é reflexo do Oceano.

Então, tudo o que existe é o Oceano, a Imensidão.

Causa e condição da Vida.

O todo, sempre conteve a parte,

Sempre a conterá.

A parte sempre esteve no Todo,

Sempre estará.

No instante que a parte ver o todo,

Ela não mais existirá.

Uma célula, não pode olhar para um corpo e pensar:

Que imenso corpo! Que coisa incrível! Fantástica!

Ela simplesmente conhece sua função no todo,

Age em sintonia com as demais partes.

Quando uma célula resolve agir por conta própria,

Não importando o estímulo.

O que acontece?

Uma disfunção, uma doença.

O que nos separa do Todo?

Todas as coisas são constituídas de partes,

Do microcosmo ao macrocosmo.

Assim, como o pequeno integra o grande,

O grande integra o maior e assim por diante.

Enfim, Tudo é relativo e está contido no Todo Absoluto.

Sendo assim, há um elo visível e invisível,

Físico e metafísico,

Que nos une à imensidão,

Fonte de todas as coisas.

Então, o que nos separa dessa imensidão?

Enquanto os demais seres estão adormecidos sem sonhar,

Mas “conhecem” sua função, assim como a célula de um corpo,

Nós humanos, num passado remoto,

Acordamos sonhando,

Que a Vida era o que podíamos inventar,

O que poderíamos dispor,

Que éramos fins em nós mesmos.

Até aquele momento,

A Vida em sua múltipla manifestação,

Era um Espelho que se refletia a si próprio,

No infindável oscilar da forma e da não forma,

Do ser e do não ser.

De súbito,"pára" o Tempo Cósmico,

Num movimento em que o pêndulo da Vida

Estava no ser,

Uma espécie despertou do profundo sono na Imensidão,

E o Espelho continuou a refletir a si próprio.

Contudo, agora ele refletia também um pontinho obscuro.

Pronto, estava estabelecida a divisão,

Agora havia um pontinho olhando para o Espelho,

Um fragmento tentando decifrá-lo.

Dentro do movimento do infindável Oceano Espelho,

Um ser principiara a se mover,

Movido por forças que julgava suas.

Espalhou o que descobrira para os semelhantes e,

Desse modo, o Espelho então, passou a refletir a si próprio com muitos pontinhos.

Assim nasceu a consciência.

Essa consciência, acabou por transformar-se num outro espelho.

O espelho dentro do Espelho,

Esse novo espelho, cria seus próprios mundos e gera seus próprios movimentos,

Se torna seu próprio universo.

De tal sorte, que esse novo espelho só consegue refletir a si próprio.

A história total desse ser,

Desde o princípio,

É seu próprio universo agora “auto-existente”.

No movimento incessante desse universo humano,

Mundos surgiram e desapareceram,

Civilizações se ergueram e sucumbiram,

Sob a força permanente dessa consciência “auto-existente”,

Esse espelho universo gera mundos e engole mundos,

No movimento incessante do mundo da forma e da não forma,

Do ser e do não ser.

Acha agora que reflete todas as coisas.

Mas, quando o peso do mundo,

Esmaga suas entranhas,

Essa consciência se desespera

E busca dentro do seu próprio universo espelho

As respostas conhecidas por todos, e

Se conforta.

Assim vive sonhando, assim morre sonhando.

Ignorando o movimento da Vida,

Nasce, vive e morre no seu universo espelho,

Cheio de fantasiosas idéias e imagens,

Que só fazem sentido no próprio universo espelho,

Coletivo e individual.

Como olhar o próprio espelho e não se ver?

Como ver o que está além?

Qual o sentido disso “tudo”?

Por que estamos aqui?

E depois?

Filosofia, ciência e arte,

Expressam a busca contínua de respostas.

O movimento constante de procura,

Produz idéias, produtos, tecnologias,

Que se “renovam” permanentemente,

No afã de nos satisfazer.

Esse espelho ....., ora!

Parece uma barca gigantesca,

Com toda uma parafernália de sobrevivência,

Que vai se adequando as sucessivas gerações.

Já nascemos dentro dela,

Nela estão nossos iguais,

Crescemos, e “seguros”, viajamos juntos

Para o mesmo destino.

O que mostram as janelas dessa Barca?

Oh! As janelas são apenas quadros que enfeitam as paredes, dizem...

E o que se move não são as imagens lá de fora,

É a Barca que se move como uma “coisa” viva

E com ela todos nos movemos,

Num movimento sincrônico,

Que chamamos de “realidade”.

Não existe o lá fora, dizem ....

A Barca-universo-espelho é tudo.

O Alfa e o Ômega.

Mas essa Barca sempre existiu?

Como investigar sua construção,

Se fazemos parte da mesma,

Biológica e culturalmente?

Nossa condição nos torna suspeitos

De uma honesta investigação.

Que tragédia!

Prisioneiros da nossa própria criação.

Uma voz tonitruante, ameaçadora,

Vinda do espelho-consciência-barca,

Reverbera pelos quatro cantos da Terra.

Quem ousa duvidar da sua eterna existência?

Essa voz-consciência-coletiva, procura identificar os que ousam questionar,

Para expô-los ao massacre da sua força milenar.

Em ocasionais momentos da história-consciência,

Do espelho-universo-barca,

Jovens e velhos ousados e de puro coração,

Eram o Espelho com um pontinho,

Que refletia a si próprio,

A Imensidão, .......o início da consciência.

Sem que se tornassem um espelho no Espelho, revelaram

O mistério da imensidão, do Espelho-Oceano,

Da relação das partes e do Todo ,

Do mundo das formas e do Vazio

E os tempos passaram .....

E o que faz o tempo?

Ah! ........

O tempo, a consciência e o Ser,

São as peças chaves que decifram o enigma:

universo-espelho-consciência-barca.

O tempo é uma espiral em movimento de tessitura.

Tecelão da consciência, da rede, onde fomos todos apanhados,

Onde cada ponto-nó é um elo de ligação,

Que confere consistência “lógica” a “realidade” que vivemos.

Assim, ninguém olha por nós,

Mas o Todo nos vê,

Como partes de si mesmo.

Ninguém nos escuta,

Exceto o Silêncio.

Não há Silêncio pessoal,

Há somente o Silêncio Total.

Engendrador da Vida,

E receptáculo da morte.

Nada morre verdadeiramente,

Exceto as formas e as sombras.

Tudo retorna à sua origem,

Do infinitamente pequeno ao infinitamente grande,

A Totalidade é Um.

Assim, Ser a Orígem,

É Ser o Fim!