ARREPENDIMENTO

Pergunta:

Como pode uma pessoa se arrepender e tornar a cometer o mesmo pecado? Arrependimento não é mudança? Então não deveria cometer de novo. Se cometer, então não foi arrependimento?

Resposta:

Antes de tudo o arrependimento é algo muito mais em relação a Deus do que a nós mesmos.

Eu tentarei explicar e desenvolver melhor esta afirmação nas linhas seguintes.

Primeiro de tudo, apesar de a palavra no original grego no Novo Testamento, ser metanóia, que significa literalmente “mudança de mente”, no arrependimento que conduz à salvação com a consequente mudança, ou transformação da vida de um pecador, há profundidades e multiplicidade de princípios e de conceitos envolvendo este assunto, os quais podem ser pesquisados na Bíblia e confirmados na nossa própria experiência pessoal, conforme posso atestar nos meus quarenta e sete anos de convertido a Cristo, em que pude experimentar várias formas de arrependimento desde a primeira delas relativa à minha justificação e regeneração, ou seja, conversão inicial, em que me voltei para Deus não apenas com minha mente, mas com meu coração e todas as faculdades da minha alma, pois, antes, vagava nas trevas nos meus primeiros vinte e sete anos de vida, sem qualquer conhecimento pessoal de Cristo, do evangelho, da igreja do Senhor e tudo o que se refere à vida celestial, espiritual e divina. Eu vivia totalmente na energia da carne e de forma mundana, e até mesmo afirmava não crer na existência de Deus, e que tudo acabava de vez na nossa morte, havendo total aniquilação do nosso ser.

Mas Deus, em sua grande misericórdia, não levou em conta o meu estado embrutecido, incrédulo e grandemente pecaminoso, e começou a me atrair para um conhecimento pessoal de Jesus, nosso Senhor e Salvador amado.

Eu estava a ponto de tirar a minha própria vida, apesar de ser casado e amar a minha esposa, pois o diabo mais e mais se apoderava da minha mente, e me sugestionava não haver qualquer sentido em viver, e que o melhor seria mesmo eu dar cabo de tudo logo de uma vez.

Lembro de ter chegado mesmo ao ponto de dizer que quem mandava na minha vida e na minha casa era o diabo. Naquele dia Satanás colocou em minha mente que eu saísse e fosse a um botequim, me embriagasse e depois me matasse. Mas, como Deus é o Criador Todo-Poderoso, e não pode e não deve ser comparado com o diabo que é uma mera criatura Sua que caiu de seu estado original para o de grande rebelião... Ele estendeu sua mão para mim, e levou-me a clamar por socorro, e dizer que me arrependia do que havia dito, e que se Ele, Deus, de fato existisse, que me livrasse daquela terrível condição em que me encontrava.

Foi naquela mesma semana que veio morar na casa ao lado da minha, um casal crente que eu ouvia cantando louvores e orando em nome de Jesus.

Aí começou um processo para conduzir-me ao arrependimento que salva, pois ainda estava muito cheio de mim mesmo, e comparava-me com o casal, dizendo que eles tinham a religião deles, mas que eu tinha uma talvez que fosse melhor que a deles (eu havia me tornado amigo do padre de uma igreja católica). Não foi rápido e fácil livrar-me do velho Adão que ainda me dominava, e cheio de orgulho pessoal e religioso, deveria ser quebrado pelo Senhor, para reconhecer qual era de fato a minha condição, e que eu não tinha nada em mim que me recomendasse ao Seu favor. Comecei a sentir nojo de mim e disse ao padre que não havia nada na minha vida que pudesse ser aprovado por Deus. Eu não sabia mas já era o Espírito Santo me convencendo do pecado, da justiça e do juízo. Eu clamava a Deus com a boca no chão da varanda da minha casa, pedindo-lhe que me perdoasse que me fizesse seu filho de fato, através da revelação da presença e da pessoa de Jesus em mim.

Isto durou mais do que dois meses, mas Deus não permitiu que eu desistisse da luta para achá-lo.

Santo Agostinho que foi um grande servo de Deus, teve uma vida muito dissoluta na sua juventude, e sua mãe Mônica nunca desistiu de orar pela conversão dele, e ele conta sua experiência de arrependimentos e conversão em um livro que escreveu intitulado Confissões. Sua experiência ilustra o que acontece com a quase totalidade daqueles que se voltam do pecado para Deus. Veja que usei a palavra arrependimentos (no plural), porque, como disse antes, há vários tipos de arrependimentos ao longo de toda a nossa carreira cristã neste mundo, e a mais comum delas é a relativa a nossos pecados atuais, nossas transgressões da Palavra e da vontade de Deus, no que se refere à nossa conduta carnal e mundana, pelas quais somos conduzidos a confessar nossas faltas para sermos perdoados com base no sangue de Jesus. É a poeira em nossos pés de nossa caminhada neste mundo de trevas, que precisa ser limpa diariamente, pois podemos transgredir em ação, omissão, pensamentos e palavras. Evidentemente, quando deixamos de lado o principal arrependimento, que é o de reconhecer nossos afastamentos de Deus, de um andar no Espírito Santo, pela perda de nosso espírito de louvor, oração, adoração e de prazer e meditação na Palavra revelada na Bíblia, pois sem isto, nenhum outro arrependimento se mostrará eficaz e aceitável pelo Senhor, pois é preciso primeiro se voltar para a Luz para que possamos enxergar e ter um comportamento adequado que é segundo o poder e vontade do Senhor.

Por isso a vida cristã é descrita como uma corrida, uma carreira diária (negar a si mesmo, carregar a cruz dia a dia e seguir a Jesus), e não algo para ser exercitado apenas em um dia de domingo, ou qualquer outro. Se não continuarmos pedalando a bicicleta do céu, certamente cairemos. A graça requer mais graça. Ela somente opera naqueles que se esforçam sinceramente, e não desistem da luta para encontrar a bênção de Deus, por qualquer dificuldade ou tentação que encontrem no meio do caminho.

Há resquícios do pecado que habitam em todos os crentes, e que fazem parte da velha natureza que foi crucificada pela fé em Jesus, mas que deve ser despojada por nós, mediante o Espírito Santo, até o nosso último suspiro neste mundo, e assim deve ser, em plena perseverança, porque somente o que perseverar até o fim buscando uma comunhão sincera com o Senhor é que serão salvos.

Sem esforço não é possível entrar no Reino de Deus, o qual Jesus veio inaugurar com a Sua morte e ressurreição. O Reino não é deste mundo. Não vem com aparência visível pois é espiritual. Um abraço físico é apenas uma pálida imitação passageira do verdadeiro abraço espiritual que somente Jesus pode e quer nos dar, e que aquece o nosso coração e que nos conduz em vitória sobre o pecado, o diabo e o mundo. É preciso permanecer no amor de Jesus para que Ele permaneça em nós, e sejamos mais do que vencedores sobre tudo o que se levanta contra a nossa santificação.

Por isso ao introduzir o evangelho no mundo, tanto João Batista, o precursor, e Jesus o autor e consumador da fé afirmavam: “Arrependei-vos e crede no evangelho porque o Reino dos céus está próximo.” Jesus trouxe a nós o Reino e pelo Seu poder nos introduz e confuz nele, através de nossos sucessivos arrependimentos, pelos quais demonstramos o nosso temor e amor a Deus e à Sua Palavra e vontade, e renunciamos e rejeitamos a toda tentação do diabo, da carne e do mundo.

Louvado seja o Seu grande nome, poder e amor, para sempre e sempre, amém.

 

 

Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 22/07/2024
Reeditado em 22/07/2024
Código do texto: T8112203
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