Triste, mas Feliz

Quando preparava-me para iniciar a tradução do comentário de Matthew Henry sobre o livro de Provérbios, que trata sobretudo de orientações para a vida prática quanto a se ter uma sábia conduta diante de Deus e dos homens, sofri um ataque devastador da parte de potestades malignas do ar, a saber, de demônios, que me causaram tão grave transtorno a ponto de disparar minha pressão arterial para níveis altíssimos, bem como descompensar o meu sistema nervoso central, com grave prejuízo para a minha comunhão e paz espiritual que vinha mantendo com o Senhor até então, e produzindo profunda depressão a ponto de querer desistir da vida.

Como todas as coisas cooperam juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, reunindo um pouco de forças e capacidade racional saudável que me restavam, orei ao Senhor não somente pedindo que me ajudasse a superar tudo aquilo, bem como a entender o que Ele estava pretendendo me ensinar ou mesmo relembrar para que houvesse um propósito útil na clara compreensão da razão daqueles ataques sofridos e o efeito que haviam produzido sobre a minha pessoa.

Se há muitas outras coisas que não fui capaz de entender, uma pelo menos ficou apreendida e relembrada de que pouco ou para nada serve toda a nossa aplicação em deveres morais que nos conduzam a uma boa e adequada educação e civilidade, conforme pode ser aprendido de muitos dos conselhos apresentados no livro de Provérbios e em muitas outras passagens das Escrituras, caso não seja vencido o combate permanente que temos entre a carne e o Espírito, e também contra os principados e potestades deste mundo tenebroso. Em outras palavras, se nos faltar assistência operante do Espírito Santo para nos livrar de todos os estados ruins de alma, que são produzidos por uma vitória da carne, do diabo ou do mundo sobre nós, o resultado é que não podemos viver de modo agradável a Deus, nem para nós mesmos bem como para as demais pessoas.

Não é sem motivo que somos ordenados a andar no Espírito para que possamos vencer as obras da carne:

16 Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne.

17 Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer.

18 Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais sob a lei.

19 Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia,

20 idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções,

21 invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam.

22 Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade,

23 mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei.

24 E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências.

25 Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito.”

Não podemos jamais esquecer que não havia ainda nos dias do Velho Testamento, quando foi produzido o livro de Provérbios, a manifestação do reino do Céu, que ocorreria somente depois da manifestação de Jesus ao mundo, em carne, e realizando a obra que ele consumou ao morrer, ressuscitar e ascender ao céu, para derramar o Espírito Santo, desde o dia de Pentecostes, para habitar nos crentes, em todas as nações da Terra. De modo, que esta luta entre a carne e o Espírito; do diabo com os santos e vice-versa, na disputa por suas almas, não está claramente descrita nas páginas do Velho, como a temos plenamente revelada nas páginas do Novo. De modo que, em toda consideração a cada ordenança contida no Antigo Testamento, sempre devemos lembrar da vital necessidade que temos de termos nascido de novo do Espírito e estarmos sendo santificados por Ele, por um constante andar sob sua direção, instrução e poder, para que possamos ser mais do que vencedores sobre o mal, e praticantes de todo o bem, por meio da fé em nosso Senhor Jesus Cristo.

Também não devemos esquecer que em todo o período do Antigo Testamento, no qual foi escrito o livro de Provérbios, não existia uma clara e direta teologia sobre a justificação pela graça mediante a fé. Muito ao contrário, a dispensação da Lei apontava desde o princípio até o seu final com o advento de Jesus, para uma justiça que era segundo as obras, pois lá se dizia: faze e viverás, e não creia e viverás, como é o caso desde que Cristo se manifestou. A glória e o triunfo de Deus Pai através do Filho, estava reservado à fé, e não às nossas obras, porque importa que em tudo não haja qualquer espaço para que nos gloriemos em nós mesmos, senão apenas nAquele que nor salvou por meio da fé nEle.

Esta é a razão que quando Deus quis se prover de um apóstolo para os gentios, Ele não foi buscá-lo na pessoa de alguém que já fosse um dos maiores santos da Terra, mas em Saulo de Tarso, que foi um grande perseguidor da própria Igreja, e que se encontrava apoiando o martírio de Estevão, a ponto de designar a si mesmo como sendo o principal dos pecadores, para que por meio do seu próprio exemplo de vida transformada por Cristo, todos pudessem crer que de fato a salvação operada por Jesus, pelo poder do Espírito Santo, é somente por meio da fé nEle, e não por qualquer boa obra ou mérito de nossa parte. A nós cabe somente o arrependimento e continuar andando no Espírito, pela fé, olhando apenas para o Seu autor e consumador.

1 Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo;

2 por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus.” (Romanos 5.1,2)

“1 Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.

2 Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte.” (Romanos 8.1,2)

“16 sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado.” (Romanos 2.16)

“1 Ó gálatas insensatos! Quem vos fascinou a vós outros, ante cujos olhos foi Jesus Cristo exposto como crucificado?

2 Quero apenas saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé?

3 Sois assim insensatos que, tendo começado no Espírito, estejais, agora, vos aperfeiçoando na carne?

4 Terá sido em vão que tantas coisas sofrestes? Se, na verdade, foram em vão.

5 Aquele, pois, que vos concede o Espírito e que opera milagres entre vós, porventura, o faz pelas obras da lei ou pela pregação da fé?

6 É o caso de Abraão, que creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça.

7 Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão.

8 Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos.

9 De modo que os da fé são abençoados com o crente Abraão.

10 Todos quantos, pois, são das obras da lei estão debaixo de maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da lei, para praticá-las.

11 E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé.

12 Ora, a lei não procede de fé, mas: Aquele que observar os seus preceitos por eles viverá.

13 Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro),” (Gálats 3.1-13)

Pelo Evangelho. grandes pecadores podem ser salvos e trasnformados em santos, mas isto é somente pela pregação da fé em Cristo, e não pela pregação de obras, pois está designado por Deus que o justo deverá viver pela fé, e somente por meio da fé que se alcança a salvação. Nisto, toda a glória é dada a Cristo e ao Seu grande poder.

Tanto que se não fosse por fé, não poderíamos permanecer firmes em nossa união com o Senhor, porque são muitos os motivos de tristezas que temos neste mundo, tanto por meio de variadas tribulações e aflições, dores, sofrimentos, decepções, angústias, traições, e toda sorte de ofensas e sofrimentos que possam nos causar, além de nossos próprios pecados e os que vemos nos outros. Contudo, pela fé, podemos dizer com o apóstolo Paulo: Triste, mas felizes; porque a graça de Cristo, e a nossa fé em exercício nEle, nos guardará e manterá firmados nele e na prática do bem, perseverando no caminhar no Espírito até o fim, até aquele dia em que nossa paz e alegria não terão mais qualquer momento de nuvens de tristezas misturado a elas.

Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 03/05/2024
Código do texto: T8055359
Classificação de conteúdo: seguro