Justificação e Seus Efeitos
“1 Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo;
2 por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus.” [Rm 5: 1,2]
I. Temos paz com Deus, v. 1
É o pecado que gera a briga entre nós e Deus, cria não apenas uma estranheza, mas uma inimizade; o Deus santo e justo não pode honrar, estar em paz com um pecador, enquanto ele continua sob a culpa do pecado.
A justificação tira a culpa e abre caminho para a paz, e tal é a benignidade e a boa vontade de Deus para com o homem, que imediatamente após a remoção desse obstáculo, a paz é feita.
Pela fé nos apegamos ao braço de Deus e à sua força, e assim estamos em paz.
"Não há indignação em mim. Quem me dera espinheiros e abrolhos diante de mim! Em guerra, eu iria contra eles e juntamente os queimaria".
"Ou que homens se apoderem da minha força e façam paz comigo; sim, que façam paz comigo". [Is 27: 4, 5]
Há mais nesta paz do que apenas uma cessação da inimizade, há amizade e bondade, pois Deus é o pior inimigo ou o melhor amigo. Abraão, sendo justificado pela fé foi chamado amigo de Deus, que era sua honra, mas não sua honra peculiar:
"e se cumpriu a Escritura, a qual diz: Ora, Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça; e: Foi chamado amigo de Deus". [Tg 2: 23]
Cristo chamou seus discípulos de amigos.
"Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos.
Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando.
Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer". [João 15: 13-15]
E, certamente um homem não precisa mais para fazê-lo feliz, do que ter Deus como seu amigo! Mas, isso é por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; por meio dEle como o Grande Pacificador, o Mediador entre Deus e o homem.
(Nota do Tradutor: Deve ser devidamente entendido em que sentido Adão, na inocência não precisava da mediação de Jesus, pois sabemos pelas Escrituras que tudo foi criado por meio dEle e para Ele, de modo que se Adão não pecasse, ainda assim, deveria aprender a viver pela vida de Cristo sendo infundida a Ele, pois não há como se atingir a plenitude da imagem e semelhança com Deus, a não ser por nossa união com nosso Senhor Jesus Cristo, recebendo da Sua plenitude tudo quanto necessitarmos para sermos amadurecidos espiritualmente.)
II. Temos acesso pela fé a esta graça, na qual permanecemos firmes, v. 2. Este é mais um privilégio da justificação, não só a paz, mas também a graça, isto é, este favor.
Observe;
1. O estado feliz dos santos.
É um estado de graça - a bondade de Deus para conosco e nossa conformidade com Ele; aquele que tem o amor de Deus e a semelhança de Deus, está em estado de graça.
Agora, nesta graça temos acesso ao prosagogen - uma introdução, que implica que não nascemos neste estado; somos por natureza filhos da ira, e a mente carnal é inimizade contra Deus, mas somos levados a isso.
Não poderíamos ter entrado nisso por nós mesmos, nem ter vencido as dificuldades no caminho, mas temos uma "manudução", ou seja, uma condução pela mão - somos conduzidos a ele como cegos, coxos ou pessoas fracas que são conduzidas - somos apresentados como ofensores perdoados - somos apresentados por algum favorito na corte para beijar a mão do rei, como estranhos, que devem ter audiência, são conduzidos.
"Prosagogen eschekamen" - expressão grega que significa "Tivemos acesso", ou seja, esse acesso não foi por nossa própria conta, mas Jesus nos tomou pela mão e nos conduziu à presença do Pai.
Ele fala daqueles que já foram trazidos de um estado de natureza para um estado de graça.
Paulo, em sua conversão, teve esse acesso; então ele foi aproximado.
Barnabé apresentou-o aos apóstolos (Atos 9: 27), e houve outros que o levaram pela mão a Damasco (v. 8), mas foi Cristo quem o introduziu e conduziu pela mão a esta graça.
Por quem temos acesso pela fé?
Por Cristo como o autor e agente principal, pela fé como o meio deste acesso.
Não por Cristo em consideração a qualquer mérito ou merecimento nosso, mas em consideração à nossa dependência crente dele, e resignação de nós mesmos a ele.
2. Sua posição feliz neste estado em que estamos. Não apenas onde estamos, mas como estamos, uma postura que denota nossa isenção de culpa; estamos no julgamento (Sl 1: 5) não lançados como criminosos condenados, mas nossa dignidade e honra asseguradas, não jogadas por terra, como abjetos.
A frase denota também nosso progresso, enquanto estamos de pé. Não devemos nos deitar, como se já tivéssemos alcançado, mas permanecer como aqueles que avançam, como servos atendendo a Cristo, nosso mestre.
A frase denota ainda, nossa perseverança; permanecemos firmes e seguros sustentados pelo poder de Deus; fique de pé como soldados que mantêm sua posição, não abatidos pelo poder do inimigo. Denota não apenas nossa admissão, mas nossa confirmação no favor de Deus. Não é na corte do céu como nas cortes terrenas, onde os lugares altos são lugares escorregadios, mas permanecemos em uma humilde confiança nisso mesmo, que aquele que começou a boa obra a completará. Fp 1: 6
III. Regozijamo-nos na esperança da glória de Deus.
Além da felicidade nas mãos, há uma felicidade na esperança, a glória de Deus, a glória que Deus colocará sobre os santos no céu, glória que consistirá na visão e fruição de Deus.
1. Aqueles, e somente aqueles que têm acesso pela fé à graça de Deus, agora podem esperar pela glória de Deus no futuro. Não há boa esperança de glória, senão o que é fundamentado na graça; a graça é a glória iniciada, o penhor e a garantia da glória. Ele dará graça e glória, Sl 84: 11.
2. Aqueles que esperam a glória de Deus no futuro têm o suficiente para se alegrar agora. É dever daqueles que esperam no céu regozijarem-se nessa esperança.
(Nota do Tradutor: Estávamos mortos em delitos e pecados, e a condição de um morto espiritual é não ter força, nem vigor para poder atender à vontade de Deus, tanto no dever de adoração quanto no de serviço, sobretudo no que se refere à nossa transformação de pecadores em santos).
A justificação é pela graça mediante a fé, mas nem mesmo na fé o justificado tem que se gloriar, porque é um dom de Deus para que a justificação seja pela graça e não por obras, afinal, considerando o estado ruim da alma que é constante e ligado à velha natureza adâmica, conhecido por pecado original; que boa obra poderia cobrir todo este estado pecaminoso e culpado diante de Deus, a ponto de se dizer que o pecador foi justificado pelas obras que fez?
Nada, senão a morte exigida pela justiça de Deus, para os transgressores da Sua Lei poderia satisfazê-la. E, isto Ele fez dando o seu próprio Filho Unigênito para morrer a nossa morte, pela nossa união com Ele na morte na cruz, para que pudéssemos viver pela Sua vida.