Mas o que, exatamente, estamos procurando nos tornar? Deus nos salvou para sermos santos – entendi. Precisamos ser santos como Deus é santo – confere. Fomos separados para servir a Deus – gostei. Mas como que a santidade se parece? Vamos procurar retirar isso da estratosfera teológica e trazê-la no nível do chão onde nós adoramos, trabalhamos e nos divertimos. Vou começar com vários exemplos do que santidade não é.
Santidade Não é Mero Obedecer a Regras
A palavra “mero”, aqui, é de extrema importância. Santidade não é menos do que obedecer mandamentos. Afinal, Jesus não disse:
“Se vocês me amarem, vocês desistirão de obedecer a regras e religião e farão o que bem entenderem”. Ele disse: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (João 14.15). Assim sendo, gente santa obedece, mas isto não é um simples guardar de normas.
Piedade é mais que simples moralidade e escrupulosidade. Os fariseus eram externamente morais, mas o coração deles, frequentemente, estava longe de Deus (Marcos 7.7). Neville Chamberlain foi escrupuloso ao praticar a chamada “política de apaziguamento” com Hitler, mas dificilmente alguém consideraria Chamberlain um dos heróis da história. Não me entenda mal, levando tudo em conta, prefiro ser uma pessoa educada, que planta árvores, paga seus impostos, assiste filmes proibidos a menores de 14 anos quando chegam nos cinemas, a ser um eremita beberrão que aposta em briga de galo e se veste como se estivesse antiquado para as típicas Feiras da Renascença. Mas santidade vai além de valores de família típicos da classe média.
É simples demais transformar a batalha de fé numa santificação-por-lista-a-ser-ticada. Livrar-se de alguns maus hábitos, desenvolver alguns bons hábitos, e está tudo resolvido. Mas uma lista de checagem moral não leva em conta os ídolos do coração.
Talvez nem sequer tenha o Evangelho como parte da equação. E, inevitavelmente, espiritualidade baseada em lista de checagem costuma ser altamente seletiva. Por isso você acaba se sentindo bem sucedido quanto à santificação porque conseguiu se manter longe das drogas, perdeu peso, trabalhou no sopão distribuído pela igreja, e deixou de usar produtos feitos de isopor. Mas acabou negligenciando a bondade, humildade, alegria e pureza sexual. Deus nem chegou perto de seu coração. Eu provavelmente poderia vender muitos livros se exigisse dos cristãos que lessem a Bíblia duas horas por dia, jogassem fora a televisão, vendessem o que possuem, e fossem viver em comunidade. Nós gostamos dessas listas. Alguns até gostam de ser surrados por coisas assim e aí serem informados o que precisam fazer para se tornarem verdadeiros gigantes espirituais. Esse tipo de exortação pode, a princípio, soar promissora, mas com o tempo se mostra ineficaz. O simples guardar de normas não é a resposta porque santidade não pode ser reduzida a uma simples e pequena restauração ética.
Santidade Não é Imitação Geracional
Já que sou uma pessoa jovem escrevendo (“tipo”) de forma que desafia gente jovem (entre outros), seria tentador para cristãos mais velhos presumir que este livro diz respeito a quão melhor as coisas costumavam ser. Mas, como Billy Joel cantou (viram só, não sou tão jovem!): “Os bons e velhos tempos não eram sempre bons e o amanhã não é tão ruim como parece”. A busca da santidade não é um esforço quixotesco para recriar os idos dos anos 50, para não dizer os idos de 1590.
É claro que há muito que podemos aprender de gerações que nos antecederam. É comum eu procurar exemplos teológicos ou éticos dentre os Puritanos, os Reformadores ou mesmo na geração de meus avós. Mas aprender dos Puritanos não implica em que tenhamos de falar como eles, vestir como eles, ou abolir o Natal como alguns deles fizeram. Não há atalhos para a santificação ao tentarmos reviver os anos dourados de alguma era longínqua. “Se tão somente as coisas pudessem ser como costumavam ser”. Bom, talvez isso ajude se o padrão de decência sexual for o padrão da sociedade, o padrão público, mas os anos dourados não foram tão
dourados assim no que diz respeito ao relacionamento entre as raças. Toda geração tem seus pontos altos como tem seus pontos
cegos. Aprender do que foi bom e evitar o que foi ruim requer sabedoria. Mas sim, eu penso que cristãos em geral costumavam estar mais preocupados com santidade pessoal, em certas áreas. Mas será que Deus quer que recriemos o mundo deles ou reintroduzamos toda a restrição acerca do jogar cartas ou de proibições etílicas? Duvido.