“Propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros":
"Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um, fariseu, e o outro, publicano".
"O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano";
"jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho".
"O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador"!
"Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado.” [Lucas 18: 9-14]
Quão grande é a nossa desonra e ingratidão a Deus, sobretudo em face de Sua grande bondade e misericórdia para conosco, dando-nos tantas oportunidades, enquanto que de nossa parte desistimos de continuar nos santificando, sob a alegação de ser muito cansativa e longa, a luta que temos que empreender contra o pecado.
Muito agrava nossa condição nesse caso, o fato de que é o próprio Deus quem luta por nós, por meio da nossa simples fé em Jesus, segundo a operação da Sua graça e do Espírito Santo, para uma vitória efetiva sobre o pecado, o diabo, e o mundo.
Desde que o pecado entrou no mundo, a sua mortificação não poderá ser feita de outro modo, senão com muito esforço, perseverança, paciência e diligência da parte do crente; não somente para erradicar seus pecados, para que as virtudes de Cristo possam florescer e frutificar no campo da sua vida.
Quando Deus veio até Adão, no jardim do Éden, para confrontá-lo depois que caiu no pecado, Ele acrescentou à criação um sinal de que para o trabalho de cultivar as virtudes em sua alma, Adão teria agora que se manter no trabalho de remoção dos cardos e abrolhos que surgiriam espontaneamente na terra, que competiriam com as plantas úteis para sua alimentação, não somente atrapalhando o crescimento delas, como até mesmo matando-as e impedindo sua frutificação, pois as sufocariam e lhes roubariam a água e os nutrientes necessários para seu desenvolvimento.
Estas plantas úteis que Adão deveria cultivar, conforme a ordem que Deus lhe dera, antes mesmo da entrada do pecado no mundo representavam as graças de Cristo sendo implantadas, crescendo na vida espiritual do crente - e os cardos e abrolhos que foram acrescentados à criação depois que Adão pecou, representariam os próprios pecados que ele deveria combater, para que as graças pudessem se desenvolver adequadamente.
Assim, o trabalho de mortificação do pecado não consiste em uma única ou poucas operações para sua erradicação, mas implica uma ação contínua, disciplinada e perseverante para sua realização.
Devemos lembrar, que as ervas daninhas não precisam ser cultivadas, pois aparecem espontaneamente em todas as partes e crescem até mesmo em condições adversas, sendo achadas inclusive em áreas desérticas.
Já as plantas úteis, que representam as graças divinas, devem ser semeadas, regadas, nutridas, e receber toda a sorte de tratos culturais para que possam crescer até a frutificação.
Nossos pensamentos, ou são da fonte da velha natureza sendo maus, ou da nova, que são sempre bons.
Devemos arrancar essas ervas daninhas da velha natureza, e cultivar as úteis que são representadas pelos pensamentos espirituais que fluem da nova natureza.
Há uma multidão de pensamentos nas mentes dos homens que são vãos, inúteis, e completamente improdutivos.
Estes ordinariamente, por um engano perigoso, não são olhados como pecado e assim, os homens os exprimem expondo sua insensatez e culpa, mas eles surgem de uma fonte corrompida, de uma natureza caída, da carne, e poluem a mente e a consciência.
Onde quer que haja "pensamentos vãos", há pecado [Jr 4: 14).
De toda palavra ociosa, proveniente de tais pensamentos, os homens darão contas no dia do juízo, conforme Jesus afirmou.
Tais são essas inúmeras imaginações que fazem os homens pensarem, que são, o que eles não são; fazer o que eles não fazem, desfrutar o que eles não desfrutam.
Imaginações vãs, enganosas, mentirosas. Isto milita contra a integridade de espírito que a graça tanto almeja criar em nós, para que sejamos pessoas estáveis, firmes, e seguras. Quando damos acolhida a tais pensamentos, nós permitimos que a vaidade domine nossas mentes. Consequentemente o pensamento do rei de Tiro era que ele era um deus, "assentado no trono de Deus". [Ez 28: 2]
Assim, isto se dá em maior ou menor grau com outras pessoas; e tais imaginações impedem que muitos andem humildemente com seu Deus.
A liberdade perfeita destes pensamentos imaginativos e vãos faz parte da bem-aventurança do céu. Os homens devem se examinar quanto ao volume destes pensamentos vãos e inúteis, que perambulam dia e noite para cima e para baixo em suas mentes.
Se a nossa mente está ocupada com aquilo que Paulo recomenda em Fp 4:8; se houver abundância de pensamentos espirituais, divinos e eternos em nós, pouco lugar haverá para tais pensamentos imaginativos e vãos. Isto não é algo opcional, porque pelo dever que nos é imposto por Deus, de sermos espirituais, temos que obrigatoriamente ser transformados em nossa maneira de pensar e agir, pela renovação da nossa mente, não nos deixando dominar por pensamentos relativos às coisas terrenas e seculares deste mundo, não sendo conformados a isto, mas dando o culto racional que é devido a Deus, pela nossa inteira consagração pessoal a Ele, como se nos apresentando como um sacrifício vivo, de modo a sermos governados pelo Espírito, principalmente pelo Seu domínio de nossas mentes para imprimir nelas, os pensamentos que sejam segundo a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. [Rm 12: 1,2]
Há pensamentos que são formalmente maus; eles são assim em sua própria natureza, sendo ideias corruptas para cumprir os desejos da carne em suas cobiças.
Estes também tentarão as mentes dos crentes, mas eles sempre são olhados como inimigos professados para a alma, e lutamos contra eles. Então, eu não farei nenhuma comparação entre eles e os pensamentos espirituais, porque eles só abundam naqueles que são carnais, que andam segundo a inclinação da carne e não do Espírito.
E será observado que, se os períodos que deveriam ser dedicados ao Senhor em nossas meditações da Sua Palavra e orações forem negligenciados, sendo utilizados para outros afazeres, nós veremos que serão os piores momentos empregados de nossas vidas.
Pensamentos vãos e tolos, imaginações corruptas farão um comum assalto às mentes dos homens, e os acostuma à uma expectativa de entretenimento, de onde eles crescerão inoportunamente por terem sido admitidos.
Deus determinou, que separássemos tempo para cuidar de nossas almas e de nossos familiares, e prometeu abençoar nossas vidas em assim o fazendo, mas os insensatos preferem não remir o tempo, sabendo que os dias são maus, e pensam que separar tempo para cultuar a Deus é perda de tempo, e com isso não perdem somente seu tempo, como também vida e paz. E, some-se a isto, que o culto que deve ser dado a Deus, também tem o propósito de nos transformar em pessoas santas e espirituais.