"Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor".
"Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda".
"Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado";
"permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira, assim, nem vós o podeis dar, se não permanecerdes em mim".
"Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim
nada podeis fazer". (João 15: 1-5)

Permanecer em Cristo é a expressão chave em todo este discurso do Senhor Jesus. Se o ramo não permanecer na Videira, ele não terá vida, será cortado e queimado. Não é difícil então, entender que permanecer em Jesus pouco ou nada tem a ver com o próprio conhecimento intelectual da letra da Palavra, e muito menos com o conhecimento intelectual de coisas naturais, mas ao conhecimento pessoal e íntimo da pessoa do próprio Cristo, em espírito, participando de Sua vida por viver e andar no Espírito Santo, de modo que aquele que possui grande conhecimento sobre o modo como é que operam as realidades espirituais, mas que não as pratica pelo poder do Espírito, está em desvantagem em relação àqueles que, mesmo tendo falta deste conhecimento quanto ao modo pelo qual elas operam, as conhecem na prática, pela regularidade de sua consagração e devoção ao Senhor, no exercício dos meios de graça da adoração pública e particular, da oração, da comunhão e da meditação e prática da Palavra.

 

Uma coisa é saber muito sobre os modos de operação da graça e não ter nenhuma graça no viver, e outra muito diferente, saber pouco sobre estes modos, mas ter o coração revestido com graça.

É como alguém que sabe tudo sobre as propriedades da água para limpar, mas não toma banho; e outro que nada sabe sobre tais propriedades, mas que vive de modo asseado permanentemente.

É possível ouvir muito de Cristo e das coisas do Seu reino, no entanto pouco ou nada possuir de experiência pessoal e real com Ele, de modo que ainda que seja muito importante ter uma mente esclarecida sobre os meios e modos de operação da graça, todavia é muito melhor e superior possuir uma experiência real com a graça operando em todo o nosso ser, nos conduzindo cada vez mais à semelhança com Cristo.

Se assim não fora, os que são pouco dotados intelectualmente estariam em grande desvantagem em relação àqueles que são bem dotados.

O diabo e os demônios creem e tremem, conhecem todas as coisas que estão registradas na Bíblia, no entanto não têm poder e graça da parte de Deus para amá-Lo e fazer a Sua vontade; de igual modo, até mesmo um crente pode conhecer toda a letra da Palavra, e não estar vivendo, amando, e praticando realmente esta Palavra e ao Deus que a produziu.

Ele não amará negar-se a si mesmo, tomar a sua cruz diariamente, buscar despojar-se continuamente do velho homem e revestir-se do novo, pois para isto é necessário crescer na graça e no conhecimento de Jesus. (II Pedro 3: 18)

 

Vemos portanto, que o propósito supremo de Deus em relação ao crente quanto à imagem e semelhança com Jesus, consiste não em mero conhecimento intelectual, mas em uma vida realmente santificada, da qual ninguém é excluído em razão de sua capacidade intelectual ser grande ou pequena.

Este permanecer na Videira, que é Cristo, é feito principalmente por meio de uma mente espiritualmente renovada. Somente aqueles que têm se esforçado para alcançar e manter uma mente espiritual podem se regozijar em estarem unidos ao Senhor, em um só espírito, possuindo a mente de Cristo, discernindo e fazendo a Sua vontade, e alimentando-se continuamente das palavras de vida eterna que encontram nEle, na meditação e prática prazerosa diária que fazem da Sua Palavra revelada na Bíblia - pois a inclinação da carne dá para a morte, e a do Espírito, para vida e paz, de modo que vemos em Romanos 8: 6-13, que se caminharmos segundo a carne (pecado) morreremos, mas se a mortificarmos pelo Espírito, viveremos.

Daí ser necessário permanecer em Cristo, como o ramo na Videira, pois é Ele que efetua em nós tanto o querer quanto o realizar, de modo que sem Ele nada podemos fazer que seja de fato agradável a Deus, dando frutos espirituais de justiça para Ele.

Santificação completa é um efeito necessário da união do ramo com o caule da Videira Verdadeira, em seu tempo e estação apropriados como se vê em João 15:1-5.

 

Onde o trabalho de santificação e limpeza espiritual é realmente iniciado em um crente, a pessoa inteira é considerada, designada santa; por conseguinte, porque Cristo, a cabeça é santa, todos os seus membros são santos de acordo à sua medida; pois mesmo que possa haver contaminações aderindo às suas ações, ainda assim  são pessoas santificadas.

Nossa união com Cristo é imediatamente em e, pela nova criatura em nós, pela natureza divina que vem do Espírito de santidade, que é pura e santa. Para isso e por esta nova criatura, o Senhor Jesus Cristo se comunica às nossas almas e consciências, e por meio disso temos todas as nossas relações com Ele.

Todo o corpo de Cristo e tudo o que pertence a Ele é santo, embora aqueles que são membros deste corpo sejam muitas vezes poluídos em si mesmos, mas não em qualquer coisa que pertença à sua união.

O apóstolo descreve a dupla natureza ou princípio que está em crentes; a nova natureza pela graça e a velha natureza do pecado, como uma pessoa dupla, Rom 7: 19, 20.

É o primeiro, o renovado, que é o sujeito da união com Cristo, e não o outro, que deve ser destruído. O último, a velha natureza, ele também chama de "ego", mas corrige essa expressão, por assim dizer, chamando-o de "pecado que mora em mim."

Sempre deve ser trazido à nossa consideração, que o acordo na Trindade foi o de restaurar pecadores pela atuação conjunta e obras específicas do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Sendo uma obra de restauração há de se levar em conta, que haverá muitas imperfeições a serem removidas, e várias virtudes a serem implantadas em cada crente, aqui embaixo, de modo que sempre se verá alguns mais avançados nesta restauração do que outros, mas todos são santos e filhos amados de Deus.

Quando os meios de purificação são devidamente usados, nenhuma contaminação resulta de qualquer pecado em que os crentes caem, que obstrua ou possa obstruir totalmente a comunhão com Deus, em Cristo - isso está de acordo com o teor da aliança.

Para muitas coisas no Antigo Testamento que tipificavam homens contaminados, que eram responsáveis por elas, foram fornecidas purificações que os santificaram quanto à purificação da carne.

Agora, nenhum homem foi absolutamente cortado ou separado do povo de Deus, por ser assim contaminado, mas sendo contaminado, alguém que não se preocupou em ser purificado de acordo com a lei, deveria ser excluído do meio do povo.

É da mesma maneira nas coisas espirituais e evangélicas. Existem muitos pecados pelos quais os crentes são contaminados, mas existe uma maneira de purificá-los que ainda está aberta para eles. Não é meramente a incidência de uma contaminação, mas a negligência da purificação, que é inconsistente com seu estado e interesse em Cristo.

 

A regra de comunhão com Deus e, consequentemente, da união com Cristo em seu exercício, é expressada por Davi no Salmo 19: 12,13,

"Quem há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas".
"Também da soberba guarda o teu servo, que ela não me domine; então, serei irrepreensível e ficarei livre de grande transgressão".

O desígnio do salmista deve ser preservado em tal estado e condição, para que ele seja reto diante de Deus. Ser justo diante de Deus é o que Deus requer de nós na aliança, para que possamos ser aceitos por Ele e desfrutar as promessas da mesma, "Quando atingiu Abrão a idade de noventa e nove anos, apareceu-lhe o Senhor e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso; anda na minha presença e sê perfeito".
(Gn 17: 1)

Aquele que é justo estará longe da grande transgressão, ou abundância de pecados, que é inconsistente com o amor da aliança e o favor de Deus.

Nosso Salvador distingue as coisas espirituais e celestiais, daquelas que são terrenas, e isso é visto, por exemplo, em João 3: 12:

“Se, tratando de coisas terrenas, não me credes, como crereis, se vos falar das celestiais?”

 

O que a mente não pode compreender, o coração admira e adora, deleitando-se em Deus e dando glória a Ele em tudo. As afeições agem para com eles com prazer e grande ação de graças.

A experiência da graça de Deus nos crentes e sobre os crentes é doce para suas almas, mas de uma forma ou de outra eles se apegam a todas elas; pois não têm uma aversão predominante a nenhuma delas.

Eles têm respeito por todos os preceitos de Deus, um deleite em todos os Seus conselhos, um amor a Ele e a todos os Seus caminhos.

Qualquer outra mudança que seja operada nos afetos, se não são renovados espiritualmente, não é assim com eles, pois eles não se apegam a quaisquer coisas espirituais, em sua verdadeira natureza própria, de maneira devida, por causa das evidências da presença de Deus nelas.

E assim, para aqueles cujas afeições não são renovadas, sempre há algumas coisas espirituais às quais eles mantêm uma aversão e inimizade. Assim foi com os ouvintes de nosso Salvador, em João 6.

Houve uma grande impressão em suas afeições, pelo que Ele lhes ensinou sobre “o pão de Deus, que desceu do céu e deu vida ao mundo”. Jo 6: 33

Ao ouvi-lo, clamaram: “Senhor, dá-nos este pão para sempre”, versículo 34.

Mas, quando o mistério dele foi explicado, não gostaram, e clamaram:

“Duro é este discurso. quem pode ouvir?” versículo 60.

Então, se afastaram dEle e de Sua doutrina, embora o tivessem seguido por tempo suficiente para serem considerados seus discípulos, versículo 66.

Portanto, eu digo; sempre que as afeições dos homens não são renovadas, qualquer outra mudança que possa ter sido feita, como eles não têm verdadeiro prazer em quaisquer coisas espirituais ou verdades para si mesmos, e em sua própria natureza, então há alguns casos em que manterão sua natureza natural.

Mas, afeições que são espiritualmente renovadas se apegam a todas as coisas espirituais como tais; pois a verdadeira razão formal de fazê-lo é a mesma em todos eles, a saber, Deus nelas.

As “coisas celestiais” são os profundos e misteriosos conselhos da vontade de Deus.

 

O primeiro e principal assento da sensibilidade do pecado está nas afeições. Como estes são grandes na juventude natural, também são espiritualmente na juventude espiritual.

"... Assim diz o Senhor : Lembro-me de ti, da tua afeição quando eras jovem, e do teu amor quando noiva, e de como me seguias no deserto, numa terra em que se não semeia".  (Jeremias 2: 2)

Além disso, essas pessoas são recém descobertas de suas convicções, em que foram constrangidas no coração.

Tudo o que toca uma ferida é sentido; então, a culpa do pecado antes da ferida dada por convicção ser completamente curada.

Mas agora, quando as afeições começam a decair naturalmente, eles começam a decair também quanto às suas atuações sensíveis e movimentos nas coisas espirituais.

Embora eles melhorem na graça, ainda assim podem decair no sentimento; pelo menos, o sentimento espiritual não está radicalmente neles, senão apenas por meio de comunicação.

Agora, nestas decadências, se a alma não se preocupar em conservar um profundo senso de pecado na mente e no julgamento, perpetuamente afetando o coração e as afeições, ela irá decair.

E aqui, o engano da lei do pecado se interpõe. Ele produz uma sensação de pecado para decair nas afeições e desvia a mente de uma consideração devida, constante e fixa. Podemos considerar isso um pouco, em pessoas que nunca progridem nos caminhos de Deus, além da convicção.

Quão sensíveis ao pecado serão por uma temporada! Como eles vão chorar sob um sentimento de culpa! Como resolverão cordialmente contra isso!

As afeições são vigorosas e, por assim dizer, dominam suas alma, mas eles são como uma erva que florescerá por um dia ou dois com rega, embora não tenha raiz, porque um tempo depois vemos que esses homens, quanto mais experimentaram o pecado, menos têm medo, como o sábio intima em Eclesiastes 8:11; e, finalmente, eles são os maiores desprezadores do pecado no mundo.

 

Não há pecador como aquele que pecou em suas convicções de pecado. Qual é o motivo disso?

O sentimento do pecado estava em suas convicções, fixado em suas afeições. À medida que decaíam, eles não se importaram em tê-lo profundamente fixado em suas mentes. Com isso, o engano do pecado os privou e arruinou suas almas.

Em certa medida, é assim com os crentes. Se, à medida que a sensibilidade das afeições se desintegra; se, à medida que se tornam pesadas e obtusas, a grande sabedoria e graça não é usada para consertar a sensação de pecado na mente e no julgamento, o que pode provocar, excitar, animar e provocar as afeições todos os dias, e resultarão grandes decadências.

Na primeira tristeza, o problema, o sofrimento,e o medo afetaram a mente e não lhe dariam descanso. Se, depois, a mente não afetar o coração com tristeza, o todo será expulso, e a alma corre o risco de ser endurecida.

Estes são alguns dos modos pelos quais o engano do pecado desvia a mente da primeira parte de seu quadro de preservação segura, ou a tira da sua vigilância constante contra o pecado e todos os efeitos dele.

Outro modo de a mente ser desviada de seu dever de ser espiritual e vigilante, pelo engano do pecado consiste em se desprezar um espírito contrito e abatido, que nos leva a chorar pelos nossos pecados, pois disto é dito ser a nossa bem-aventurança, pois é por este meio que chegamos a não apenas ser convencidos pelo Espírito de nossos pecados, mas também movidos a confessá-los em sincero arrependimento.

 

Como isto existirá, quando nos acomodamos com a mera ideia de que Deus é longânimo, misericordioso e bondoso, o que Ele é de fato, mas não somente isto. Como O teremos julgando, que Ele sempre se mostrará favorável a nós, mesmo quando não lutamos contra o pecado, pela convicção de que em Jesus não necessitamos nos preocupar  com isto?

Assim, por se confiar somente na longanimidade de Deus, pode-se abusar dela e se permancer na triste condição das igrejas de Sardes e Laodiceia, em Apocalipse, que tinham de si mesmas uma noção de que eram vivas e ricas, quando que na verdade estavam mortas espiritualmente (sem força da graça na alma para amar a Deus e vencer o pecado), na condição em que Jesus as descreve como infeliz, pobre, cega, miserável e nua.

Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 28/01/2022
Reeditado em 08/06/2022
Código do texto: T7439218
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