“1 Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados;

e andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave.

Mas a impudicícia e toda sorte de impurezas ou cobiça nem sequer se nomeiem entre vós, como convém a santos;

nem conversação torpe, nem palavras vãs ou chocarrices, coisas essas inconvenientes; antes, pelo contrário, ações de graças.

Sabei, pois, isto: nenhum incontinente, ou impuro, ou avarento, que é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus.

Ninguém vos engane com palavras vãs; porque, por essas coisas, vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.” [Efésios 5: 1-6]

 

Onde estiver o nosso tesouro também estará o nosso coração, conforme Jesus tem dito. Se amarmos as coisas terrenas e se toda a nossa afeição for dirigida a elas, então todas as nossas demais faculdades humanas se dirigirão a elas, e a maioria de  nossas decisões pelo uso da mente e da vontade se inclinarão também a elas.

Não é difícil então, entender porque Jesus diz que não podemos servir a Deus e às riquezas terrenas; que devemos negar a nós mesmos e carregar a cruz diariamente para segui-Lo e sermos seus discípulos.

A razão é porque as coisas celestiais, espirituais e divinas só podem passar a ser o nosso tesouro e o alvo de nossas inclinações e afeições, caso nasçamos de novo do Espírito e, assim sejamos tornados espirituais.

Como vemos em Rm 8: 6-13, ser espiritual dá para a vida e paz, e ser carnal para  morte.

O pendor da carne em Rm 8: 6, não é uma referência ao corpo físico, mas ali, e em outras passagens, segundo o original grego, 'carne' tem o significado de 'princípio do pecado' ou 'natureza terrena decaída no pecado', ou ainda 'velho homem'.

Para um melhor entendimento do que seja vida e morte segundo o ensino bíblico, quanto à nossa condição, é preciso dizer que a palavra 'morte', em tal sentido bíblico não significa, no caso dos seres humanos (que possuem um espírito, além da alma e do corpo), aniquilamento ou extinção de existência no caso do espírito, porque o espírito não pode deixar de existir.

 

Neste caso, em relação ao espírito, a morte significa a perda ou redução de força, vigor, e capacidade para cumprir os deveres de adoração, oração, e comunhão com Deus. A vida abundante que somente Jesus pode nos dar pela graça, é quem nos torna fortes e vigorosos para o cumprimento de tais deveres.

Vemos, por conseguinte, que mesmo os crentes estão sujeitos à morte espiritual, quando são vencidos por pecados - e, sua vida espiritual somente pode ser recuperada por meio da confissão, arrependimento, conversão e abandono do pecado, porque pelo evangelho Jesus adquiriu para eles este direito de renovação espiritual. 

 

Quanto a pessoas não regeneradas, cujo estado de morte espiritual é total e irrecuperável, caso não venham a se converter, esta morte espiritual se tornará em morte eterna, imediatamente após a morte física, sem qualquer possibilidade de vivificação, pois não há possibilidade de arrependimento e conversão a Cristo, depois da morte física.

Então, podemos ter esta chave para interpretar corretamente várias citações bíblicas, especialmente as que encontramos em Romanos 6 a 8, pelo entendimento de que morte espiritual, para os crentes, não significa aniquilação ou extinção de existência, senão enfraquecimento do crente pela redução ou perda de graças, por  se deixar vencer por pecados - e, também do outro lado, em relação ao pecado, morte do pecado significa seu enfraquecimento e perda de domínio, mas não sua extinção total. 

Nenhum pecado pode ser mortificado sem uma mudança operada nas afeições, porque as afeições são a fonte, a raiz, e a causa de todo pecado real no mundo. 

"Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias". [Mt 5: 19]
 

O “coração mau” nas Escrituras são as afeições corruptas dele, com imaginações da mente, pelas quais elas são excitadas e movidas.

"Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração"; [Gn 6: 5]

O Espírito Santo se entristece no crente, quando este se deixa vencer pela lei do pecado, uma vez que, caso ele estivesse se exercitando diariamente na piedade, não permaneceria debaixo do domínio do pecado, senão do da graça.

O prazer do Espírito Santo é glorificar a Jesus, e somente Ele pode ser glorificado por meio da nossa adoração, em espírito e em verdade, pela nossa oração com fervor no Espírito, e com a meditação e prática da Sua Palavra, pela qual somos santificados.

A lei da graça está sendo implantada por Deus na mente do crente, à medida que ele cresce por meio da graça e do conhecimento de Jesus.

O fato de a lei do pecado guerrear contra a mente do crente, para colocá-la fora de combate, para que não decida segundo a lei da graça na qual ele aprendeu a ter deleite e temor de Deus para que não peque, por agir atuando principalmente nas imaginações, pensamentos, vontade, emoções, afetos e sentimentos do crente, para levá-lo a desejar coisas que sabe que Deus condena, ou que ainda seja duvidoso, ou ignorante quanto àquilo que Ele não aprova, e que por fim, pela não interferência da mente acabe praticando aquilo que não gostaria de praticar, ao sentir o Espírito Santo se entristecendo nele, por estar permitindo que a batalha contra o pecado seja perdida.

Mas, graças a Deus por Jesus Cristo, e a nova aliança que foi feita através dEle, pela qual podemos nos recuperar, segundo a lei do evangelho, que nos oferece a oportunidade da conversão pelo arrependimento para sermos restaurados e renovados, de modo que ainda que haja muitas falhas em nossa adoração e serviço ao Senhor, todavia em Cristo; Ele se determinou e prometeu perdoar todas as nossas transgressões e esquecer todos os nossos pecados, desde que nos entristeçamos, nos humilhemos por causa deles, e busquemos sinceramente o perdão que há em Jesus para sermos renovados pelo Espírito Santo.

 

Não se pense portanto, que no texto de Romanos 7, o apóstolo Paulo estaria justificando ou apresentando como algo muito natural e aceitável, que o crente seja vencido pela lei do pecado que opera em suas afeições - que o apóstolo designa como sendo os membros do crente.

É pelo exercício dos meios de graça designados por Deus, que a nossa mente é renovada, bem como todas as nossas demais faculdades.

Somos ordenados a permanecer em Cristo, a continuar na prática destes deveres sagrados da oração, da meditação e prática da Palavra, da adoração particular e pública, pelos quais somos cheios do Espírito Santo, e Ele manifesta o aroma doce da Sua presença transformando nossas mentes e corações para serem espirituais; o que perceberemos pela manifestação do Seu poder nos comunicando amor, paz e alegria espirituais. 

 

“Renova-te no espírito da tua mente”. [Ef 4: 23]

Há uma renovação da própria mente, pela comunicação de luz espiritual e salvadora. [Veja Rm 12: 2; Ef 1: 17,18]

Mas “o espírito da mente” – aquilo pelo qual ela é vivificada, conduzida e disposta às suas ações – isso deve ser renovado também.

“O espírito da mente” neste lugar, se opõe ao “velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano”, ou afeições depravadas. [Ef 4: 22]

 

Essas afeições são aquele “espírito da mente” que inclina, dobra, e o leva a agir adequadamente em relação às suas inclinações, que é o que significa ser renovado. E, quando nossas afeições são inclinadas pela graça salvadora do Espírito Santo, então elas são renovadas, e não de outra forma.

Nenhuma outra mudança lhes dará uma renovação espiritual; por esta renovação, as coisas que são apenas afetos naturais em si mesmas, tornam-se frutos do Espírito naqueles que creem.

“O fruto do Espírito é amor, alegria, paz”, etc. [Gl 5: 22, 23]

 

Esses que creem, continuam os mesmos que eram em sua essência, substância e poderes naturais, mas mudam em suas propriedades, qualidades e inclinações, sempre que uma nova natureza lhes é dada.

Eles são como as águas de Mara - ainda eram as mesmas águas, antes e depois de sua cura, mas por si mesmas e por sua própria natureza eram amargas, de modo que o povo não podia bebê-la.

Ao lançar uma árvore nelas, se tornaram doces e úteis.

"Então, Moisés clamou ao Senhor , e o Senhor lhe mostrou uma árvore; lançou-a Moisés nas águas, e as águas se tornaram doces"... [Êx 15: 25]
 


 

Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 28/01/2022
Reeditado em 31/05/2022
Código do texto: T7439213
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