"46 Eu vim como luz para o mundo, a fim de que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas.

47 Se alguém ouvir as minhas palavras e não as guardar, eu não o julgo; porque eu não vim para julgar o mundo, e sim para salvá-lo.

48 Quem me rejeita e não recebe as minhas palavras tem quem o julgue; a própria palavra que tenho proferido, essa o julgará no último dia." [João 2: 46-48]

 

Desde que Jesus morreu e ressuscitou inaugurando uma nova dispensação que chamamos de graça, o juízo imediato do pecado e do pecador foi suspenso, e Deus tem transferido todo o juízo para efeito de condenação para o último Dia, em que será instaurado o Tribunal em que cada um dará  contas de si mesmo.

A principal razão disso é para que haja uma oportunidade de arrependimento estendida a toda a humanidade, de forma que, os que estão sendo chamados para a vida eterna possam alcançá-la.

Mas, isto não deve ser confundido com o fato de Deus ter suspendido toda e qualquer visitação de pecados com juízos, onde for necessário, mesmo na dispensação da graça, pois exerce Sua soberania para manter a continuidade da vida na Terra.

Jesus está disposto a conceder graça a qualquer que creia nEle, salvando-o da condenação eterna e, por conseguinte aquele que o rejeitar e as Suas palavras permanece sob a referida condenação, de modo que até mesmo todo o empenho para um viver virtuoso, apesar de ser importante será perdido no tocante à questão da salvação da alma, pois o único meio designado para que seja salva é o arrependimento e a fé em Jesus Cristo.

E, o modo de se evidenciar que estamos na posse desta fé salvadora é a perseverança na santificação, pela prática da Palavra de Deus no poder do Espírito Santo.

Simples argumentos de que buscamos evitar um modo de viver dissoluto, e ter um bom caráter, enquanto desprezamos a Jesus e ao Seu ensino contido na Bíblia, não poderá responder por nós favoravelmente, no dia do Juízo, porque somente Jesus pode nos libertar da escravidão ao pecado, e da natureza decaída no mesmo, que herdamos de Adão.

Há uma conta de justiça a ser paga a Deus, e esta somente pode ser paga para nós com a Justiça e obediência perfeitas de Jesus; daí o Senhor ter dito também, o que lemos em João 14.19-24:

“Ainda por um pouco, e o mundo não me verá mais; vós, porém, me vereis; porque eu vivo, vós também vivereis".  

"Naquele dia, vós conhecereis que eu estou em meu Pai, e vós, em mim, e eu, em vós". 

"Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele". 

"Disse-lhe Judas, não o Iscariotes: Donde procede, Senhor, que estás para manifestar-te a nós e não ao mundo"?

"Respondeu Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada".

"Quem não me ama não guarda as minhas palavras; e a palavra que estais ouvindo não é minha, mas do Pai, que me enviou”. 

 

Não faria sentido e teria qualquer efeito, enviar o Espírito Santo para habitar em ímpios que pretendam permanecer na impiedade, ou em desobediência à Palavra revelada de Jesus, porque um dos principais motivos de Ele ter sido enviado aos que creem é para que possam ser transformados, e viverem no amor de Deus.

O ímpio não somente rejeita o amor divino, como também tem aversão a ele, e procura destruí-lo naqueles que o possuem. Daí, Jesus ter dito que o mundo não pode receber o Espírito Santo, em razão de permanecer deliberadamente na impiedade em que vive.

“O Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós. [Jo 14: 17]

 

Se o caráter que está sendo formado em nós é o de Cristo, então tudo irá bem conosco, mas se estamos nos fundamentando em formar nosso caráter sem Cristo, então este nunca será aceito por Deus, pois a inimizade entre o pecador e Ele somente pode ser derrubada pela graça, mediante a fé em Jesus, como se vê em [Romanos 5: 1]

Se a barreira não for desfeita, a guerra com Deus continuará, pois a natureza terrena não está sujeita a Ele e nem mesmo pode estar. E, ainda que alguém declare amar a Deus e a Cristo, não tendo sido libertada desta condição natural, então o que haverá realmente é ódio à santidade, à Sua Palavra e vontade, pois da carne é dito ser um estado de inimizade contra Deus.

Este ódio do mundo por Jesus e o Evangelho é  sem causa e injusto, porque ao dizer que o amor do Pai, dEle e do Espírito Santo se manifestam naqueles que guardam os Seus mandamentos, não há nisto uma referência de que a manifestação deste amor, se daria somente no caso de perfeita obediência a toda a Lei, uma vez que na nova aliança, Deus determinou ser longânimo e perdoar todas as transgressões do Seu povo, por meio da obra que Jesus faria em favor dos crentes.

E, a priori ninguém está sendo impedido de fazer parte do povo de Deus, pois o convite de salvação do Evangelho é dirigido a todos, de forma que aqueles que crerem serão recebidos como filhos de Deus. 

 

Os mandamentos de Deus sob a antiga aliança exigem de nós santidade universal, em todos os atos, deveres e graus, que mediante a menor falha em substância, circunstância ou grau não permitem que nada mais façamos; em vez disso eles determinam que somos transgressores de toda a lei, pois com respeito a eles:

"Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna  culpado de todos". [Tg 2: 10]

 

Agora, eu reconheço que disso decorre uma obrigação de santidade para aqueles que estão sob essa aliança, e é de tal necessidade que sem ela certamente perecerão. Mas, esta consideração do comando não sabe nada sobre isso, visto que em nossa condição decaída, o cumprimento é absolutamente impossível, pois não podemos nos esforçar por coisas que são impossíveis.

É por isso, que nenhum homem é influenciado apenas pelos mandamentos da lei, ou pelo pacto de obras, absolutamente considerado em qualquer particular que ele possa ser forçado ou compelido, sempre sinceramente direcionado ou empreendido pela santidade universal.

Uma inadequada compreensão de que na dispensação da graça Deus não está convocando pecadores ao perfeito cumprimento da Lei, para serem aceitos por Ele, mas que se arrependam e tenham fé em Cristo, para serem transformados pela graça, pela regeneração e santificação do Espírito Santo é o que leva muitos a desistirem de se tornarem cristãos, por pensarem erroneamente, que devem se tornar perfeitamente justos na prática para não serem rejeitados por Deus, sem saber que, apesar de Ele exigir esta justiça perfeita, todavia isto foi provido para nós,  pelo Evangelho, por meio da fé em Jesus Cristo.

Ele foi pronunciado desde as profecias do Velho Testamento, de  que ser Aquele que seria a nossa Justiça.

 

Os homens podem ser subjugados pelo poder da lei, e compelidos a se habituarem a um estrito curso de dever. E, tendo uma vantagem por uma constituição natural sossegada, um desejo de aplauso, justiça própria ou mesmo superstição podem fazer uma grande aparência de santidade.

Mas, se o princípio do que eles fazem é apenas os mandamentos da lei, então nunca irão pisar o verdadeiro passo nos caminhos da santidade.

O fim ou a razão pela qual esses mandamentos exigem todos os deveres de santidade de nós, é que eles possam ser nossa justiça diante de Deus, ou que possamos ser justificados por eles.

Assim, Moisés descreve a justiça que vem da lei:

“Ora, Moisés escreveu que o homem que praticar a justiça decorrente da lei viverá por ela”. [Rm 10: 5]

 

Que o homem que faz essas coisas viverá por elas, isto é, exige  todos os deveres de obediência para este fim; que possamos ter justificação e vida eterna por eles.

Mas, também não é por isso que qualquer argumento pode ser feito, como às coisas que investigamos, pois pelas obras da lei nenhum homem pode ser justificado.

"Se observares, Senhor, iniquidades, quem, Senhor, subsistirá?" [Sl 130: 3]

Davi ora:

"Não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não há justo nenhum vivente". [Sl 143: 2]

“visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado”. [ Rm 3: 20]

“sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado”. [Gl 2: 16]

 

E, se ninguém pode atingir o cumprimento perfeito de todos os mandamentos, pois neste sentido, eles não podem, então que argumento podemos tirar disso, para prevalecer com eles quanto à necessidade de obediência?

Quem pressiona os homens para a santidade, apenas com base nas ordens da lei e para os fins da lei, apenas os coloca em um tormento, inquietam e enganam suas almas, no entanto, os homens são indispensavelmente obrigados pela lei, e aqueles que não cumprem ou não querem, pela fé cumprir com o único remédio e a provisão que Deus fez, neste caso pela graça do evangelho, devem perecer eternamente por falta do que a lei exige.

Por esta razão, somos obrigados a negar a possibilidade da salvação para todos aqueles a quem o evangelho não é pregado, bem como para aqueles por quem é recusado, pois eles são deixados com esta lei, cujos preceitos não podem satisfazer, e cujo fim não podem atingir.

Sob a nova aliança, ou evangelho, é diferente em ambas as contas, no que diz respeito aos mandamentos de Deus quanto à santidade, porque:

1. Embora em seus mandamentos, Deus exija santidade universal de nós, Ele não o faz daquela forma estrita e rigorosa que a lei exige, porque se falharmos em qualquer coisa quanto ao assunto ou maneira de seu desempenho, em sua substância ou nos graus de sua perfeição - tudo o mais que fazemos é rejeitado.

Em vez disso, Ele requer  com um temperamento de graça e misericórdia, porque se houver sinceridade em relação a todos os Seus mandamentos, Ele perdoa muitos pecados e aceita o que nós fazemos, mesmo que seja insuficiente para a perfeição legal.

 

Ele faz as duas coisas por conta da mediação de Cristo, no entanto não exime a lei ou o comando do evangelho de exigir santidade universal de nós, e perfeição nisso.

Nós devemos fazer o melhor para nos esforçar, a fim de cumpri-lo, mesmo que o alívio seja fornecido em sinceridade de um lado e misericórdia do outro, porque os comandos do evangelho ainda declaram o que Deus aprova (que é nada menos do que toda santidade por um lado), e o que Ele condena (que é todo pecado, por outro) – exatamente e extensivamente como sob a lei, pois a própria natureza de Deus assim o exige.

 

O evangelho não é o ministério do pecado, de modo a permitir o menor pecado, embora no evangelho o perdão seja fornecido por Jesus Cristo, para uma multidão de pecados.

A obrigação de santidade é igual à que era segundo a lei, embora o alívio é fornecido pelo evangelho onde ela inevitavelmente nos falta, portanto nada há mais certo do que isto; nenhum relaxamento é dado a qualquer dever de santidade exigido pelo evangelho, nem há qualquer indulgência do menor pecado.

 

Ainda, supondo a aceitação da sinceridade e uma perfeição das partes em vez de graus, com misericórdia fornecida para nossas falhas e pecados, um argumento pode ser feito de seu comando para uma necessidade indispensável de santidade, incluindo o maior encorajamento para se empenhar por isso - pois junto com o comando há a administração da graça, capacitando-nos para aquela obediência que Deus aceitará, logo nada pode anular ou evacuar o poder deste comando, e do argumento feito a partir dele, exceto um desprezo teimoso a Deus decorrente do amor ao pecado.

Tudo isto se comprova pelo fato e realidade que quando o crente peca, ele perde a comunhão com o Senhor até que confesse seu pecado, se arrependa e seja renovado pelo Espírito Santo - isto demonstra que Jesus não revogou de fato, nenhum jota ou til da Lei, pelo fato de nos reabilitar mediante o exercício da nossa fé nEle. 

 

 

Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 20/12/2021
Reeditado em 11/04/2022
Código do texto: T7411365
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