“9 Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas,

10 nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus.

11 Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus. (I Coríntios 6.9-11)

 

Ao apresentar alguns casos de pecadores notáveis e públicos, o apóstolo não pretendia fechar a lista daqueles que permanecendo ainda escravizados às referidas práticas estariam sujeitos a não herdarem o reino de Deus, mas apenas revelar que permanecem sob condenação aqueles que ainda se encontram na condição de serem escravizados ao pecado, por não terem resolvido o problema do pecado original por meio do arrependimento e fé em Cristo.

Mas o seu grande propósito nesta citação não é o de expor tais pessoas a uma condenação inevitável e inapelável, tanto que os que aqui são referidos são levantados pelo apóstolo como um exemplo do poder de Jesus Cristo para libertar de qualquer tipo de pecado, inclusive aqueles associados a vícios considerados insuperáveis. Ele não se refere aos tais como um delegado de polícia ou um juiz togado, mas como a filhos amados que haviam estado sob o domínio e servidão de tão hediondos vícios e pecados e que os haviam vencido ou se encontravam ainda em processo de cura e libertação por meio da graça de Jesus, por aplicação da Palavra e operação do Espírito Santo.

Ele se referiu à purificação e santificação deles como algo já concluído, pelo uso do verbo no passado: "Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus." Mas bem sabemos, que isto é uma referência à justificação, regeneração e santificação inicial que haviam recebido na conversão inicial, e principalmente à expiação do pecado original pela fé em Jesus. Eles foram recebidos como filhos amados de Deus, a par de todos os horríveis pecados em que haviam vivido anteriormente, e este Pai amoroso haveria de cuidar e de curar no tempo todas as sequelas e fraquezas que ainda houvessem permanecido neles como resquícios das trevas em que haviam vivido. 

É aqui que entra a necessidade do progresso em santificação do crente, porque já tendo sido lavado totalmente pela Palavra de Jesus, por meio da fé nEle e no evangelho, ainda há esta necessidade de se lavar diariamente os pés, de toda contaminação que atinge o crente pelo contato com este mundo. 

O principal de tudo então, na santificação, é não perder o primeiro amor a Cristo. Não negligenciar a comunhão com Ele por meio de uma real sinceridade em se desejar obedecer à Sua vontade e Palavra, pois enquanto houver em nós esta luta contra o pecado por amor à Sua glória, nós seremos agradáveis a Deus, a par de todas as fraquezas que ainda possam existir em nós, e contra as quais estejamos ainda lutando para serem vencidas.

Temos um Pai que apesar de não passar por alto os nossos pecados, é cheio de terna compaixão por nós, e que está disposto a nos perdoar setenta vezes sete, sempre que nos arrependermos, e que prometeu por uma nova aliança no sangue de Jesus, perdoar e esquecer todos os pecados e transgressões de Seus filhos. É sobretudo nesta promessa que fez o Deus que não pode mentir, que devemos manter permanentemente a nossa confiança, para nos aproximarmos dEle para formar em nós uma boa consciência e um coração puro, por simplesmente olharmos pela fé para Jesus, que é o autor e o consumador da nossa fé.

 

Em Cristo o crente é feito luz do mundo, mas sua luz somente resplandece quando está santificado.

 

1. A fé é uma parte da nossa santidade, pois é uma graça do Espírito santificador; que é um princípio de santidade, pois purifica o coração e torna-se eficaz pelo amor.

Quanto mais a fé for devida e apropriadamente exercida, mais santos seremos e consequentemente, mais parecidos com Deus.

 

2. O amor tem a mesma tendência e eficácia da fé para nos tornar semelhantes a Deus.

Quer dizer, o amor de Deus. Alguém que deseja ser como Deus deve ter certeza de amá-Lo, ou todos os outros esforços para qualquer propósito serão em vão; quem ama a Deus sinceramente, será como Ele.

No Antigo Testamento ninguém em seu curso geral, era tão parecido com Deus quanto Davi. Ele foi chamado de "o homem segundo o coração de Deus"; e nenhum jamais fez maiores expressões de amor a Ele que ocorrem continuamente nos Salmos.

 

Por este amor nós nos apegamos a Deus; assim nos mantemos perto dEle, e derivamos para nós, virtudes transformadoras dEle.

Cada abordagem a Deus por ardente amor e deleite é transfiguradora, e atua continuamente por:

(1.) Contemplação;

(2.)Admiração; e,

(3.) Deleite na obediência.

 

(1.) O amor age por meio da contemplação.

É de sua natureza meditar e contemplar as excelências de Deus, em Cristo. 

Na verdade, esta é a vida dele, pois onde não é assim, não há amor. Um coração cheio do amor de Deus irá se exercitar noite e dia pensando nas gloriosas excelências de Deus, regozijando-se nelas.

 

(2) O amor também opera por admiração.

Esta é a voz do amor.

"Pois quão grande é a sua bondade! E quão grande, a sua formosura"... [Zc 9: 17]

A alma sendo (por assim dizer) encantada, com aquela visão que tem das gloriosas excelências de Deus em Cristo, não tem como expressar seus afetos, exceto por admiração.

 

Este, também é um avanço mais eficaz de nossa conformidade com Ele, porque trabalharemos em vão sem essas etapas, pois é preciso contemplar pela fé e amor ao Senhor, a Sua formosura, ainda que em meio às maiores provações que possamos ter que enfrentar neste mundo, pois é assim que a Sua graça nos sustentará e manterá firmes com um coração bem disposto e alegre diante dEle.

 

(3) Ainda, o amor dá prazer na obediência e em todos os deveres dela.

 

O amor é inerente à natureza de Deus, por isso somente Ele é a fonte de todo verdadeiro amor, infundindo-o em nós, à medida em que nos revela Jesus Cristo e nos atrai a Ele - e, maiores medidas deste amor, desta inclinação santa para amar o Senhor, nos são acrescentadas por Ele, em nossa perseverança de nos consagrarmos a Ele e ao Seu serviço.

Em resumo, o amor e a semelhança com Deus são inseparáveis e proporcionais um ao outro; sem isso, nenhum dever de obediência faz parte de sua imagem.

Esse amor é confirmado por nossa regularidade em orar e meditar na Palavra, tendo o nosso coração e mente ligados continuamente no Senhor.

Onde isso faltar, o amor enfraquecerá mais e mais.

 

2. Existem, além da fé e do amor, outras graças que evidenciam e manifestam nossa semelhança com Deus. 

1. A primeira é bem, bondade, benignidade, amor, prontidão para fazer o bem, para perdoar, ajudar e aliviar todos os homens em todas as ocasiões; também deve ser considerado, em oposição a um mau hábito da mente que se exerce em muitos vícios, e ainda concordam na mesma natureza geral como raiva, ira, inveja, malícia, vingança, perversidade e egoísmo; todos os quais são diretamente opostos à graça da santidade.

E isso, temo, não é considerado como deveria ser, pois se fosse não deveria ser algo tão comum, como talvez seja, para os homens suplicarem fortemente pela imitação de Deus, e ainda assim eles nos dão uma representação completa do diabo em quase tudo o que fazem, pois  como esta benignidade universal e amor a todos é a maior representação da natureza de Deus na terra, então ferocidade, inveja, ira e vingança são as maiores representações do diabo.

 

Se então, seríamos como nosso Pai celestial se manifestássemos que somos como Ele, para Sua glória; se quisermos representá-Lo em e para o mundo, então deve ser por esta estrutura de espírito e atos que são constantemente adequados para Ele.

Nosso bendito Salvador nos instrui em, e para esta semelhança.

"Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem";
"para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos". [Mt 5: 44, 45]

 

Fortes inclinações da mente para reagir a inúmeras provocações e exasperações que nos sobrevêm, devem ser corrigidas e descartadas.

Muitos deveres devem ser constantemente atendidos, e várias graças mantidas em seu exercício.

Devemos nos exercitar em diligente disciplina, e não ficar como alguns, na expectativa de que algum dia o teremos, sem qualquer esforço da nossa parte. Deus operará em nós, na medida em que nos movermos para obedecê-Lo.

Toda a condução de tentações, cuja força consiste inteiramente em uma pretensão de cuidar de si devem ser dispersadas ou resistidas.

É por isso que na Escritura, um homem bom, misericordioso, útil e liberal é frequentemente mencionado com eminência e distinção como alguém por quem Deus tem uma consideração especial, e a respeito de quem existem promessas específicas.

 

Portanto, se pretendemos ser santos, trabalhemos constantemente por conformidade a Deus em nossas famílias, em nossas relações nas igrejas, em nossa conduta no mundo e nossas relações com todos os homens; nossos inimigos e perseguidores, não permitindo que nossas almas se afastem da presença do Senhor seja pelo motivo que for.

Vamos expressar nossa semelhança a Ele nesta filantropia, bondade, benignidade, condescendência; nesta disposição para servir, perdoar, ajudar e aliviar; sem o que não somos nem podemos ser filhos de nosso Pai que está nos céus.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 20/12/2021
Reeditado em 31/03/2022
Código do texto: T7411348
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