“Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós. Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos; levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo. Porque nós, que vivemos, somos sempre entregues à morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal.” [II Co 4: 7-11]
Desde que o pecado entrou no mundo com Adão, Deus instituiu os sacrifícios de animais como forma didática de ensinar à humanidade que o problema do pecado somente poderia ser resolvido por um único sacrifício, a saber, o de Jesus Cristo, porque aqueles sacrifícios que dele eram figura deviam ser repetidos continuamente, revelando assim a insuficiência deles para a purificação da nossa consciência e aperfeiçoamento espiritual para a plena reconciliação com Deus, que é totalmente justo e santo.
A instituição do sacrifício é tão importante que foi regulada amplamente nos cinco livros da Lei, especialmente no de Levítico, e vigorou durante todo o período do Antigo Testamento.
Não se julgue portanto, que Deus abomina sacrifícios de modo genérico, pois foi Ele mesmo que o instituiu, exigiu, e cumpriu na pessoa de Seu próprio Filho, e agora chama a todos aqueles que nEle creem a terem uma participação nisto, oferecendo-se a Ele como sacrifícios vivos e santos, pois todos foram reputados como ovelhas para o matadouro - e ainda que alguém não venha a sofrer o martírio físico, deve viver com o espírito de um mártir, caso pertença a Cristo, pois aquele que amar a própria vida vai perdê-la, conforme o próprio Jesus afirmou.
Nossa justificação e redenção são realizadas, exclusivamente pelo sacrifício do Senhor, e não temos nenhuma participação em ambas, nem se deve pensar que alguém possa ser justificado e redimido por qualquer outro tipo de sacrifício.
Então, por que somos convocados por Deus, a ter este amor sacrificial por Ele?
Por que somos chamados a dar a vida pelos irmãos, e pela obra do evangelho?
Não existe maior prova de amor, do que a de darmos nossa vida por aqueles a quem amamos, conforme disse o próprio Senhor Jesus Cristo, no que foi imitado pelos apóstolos. Mas, se o fizermos sem um verdadeiro e sincero espírito de obediência e amor ao Senhor, para nada servirá nosso sacrifício, conforme o apóstolo afirma.
"E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará". [ICo 13: 3]
"Porém Samuel disse: Tem, porventura, o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros". [I Sm 15: 22]
Este amor sacrificial habitou no apóstolo Paulo, conforme se infere de sua obra e palavras:
"Entretanto, mesmo que seja eu oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, alegro-me e, com todos vós, me congratulo." [Fp 2.17]
Mas, ele sabia que tudo o que fazia e sofria por amor a Cristo e aos eleitos era simplesmente, por pura graça.
"Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo". [(I Co 15: 10]
Somos vasos de barro em que a excelsa glória de Deus se manifesta com seu poder pelo Espírito Santo, de modo que toda a glória e louvor desta obra pertence a Ele e não propriamente a nós.
Todavia, temos uma participação nisto, não em que haja alguma glória de nós mesmos, mas em sermos honrados por Deus, em consentir que sejamos os vasos frágeis de barro em que Ele habita e opera.
Como há necessidade de sermos feitos vasos limpos e novos, somos sujeitados a várias tribulações que têm o propósito de cooperar com a realização de tal obra, de maneira que a morte de Jesus subjuga nossa velha natureza, para que Sua vida ressurreta se manifeste através da nova criatura gerada pelo Espírito Santo, em nosso corpo.
Assim, nosso acesso e abordagem à glória celeste são de acordo com nosso crescimento, e melhoria em nossa semelhança com Deus.
Estamos chegando ao nosso fim natural todos os dias, queiramos ou não; e se não nos aproximamos de nosso fim sobrenatural em glória, com esta semelhança, somos os mais miseráveis.
Agora, os homens se enganam se supõem que estão se aproximando da glória divina, se ao mesmo tempo eles não estão se aproximando dela, na graça, por uma mortificação contínua do corpo de pecado.
É uma representação da glória futura, que seremos como, ou "iguais aos anjos".
Jesus nos diz:
“Pois não podem mais morrer, porque são iguais aos anjos e são filhos de Deus, sendo filhos da ressurreição”. [Lc 20: 36]
Mas, isso respeita apenas a um aspecto particular desse estado. É uma descrição mais excelente dele, que seremos como Deus:
"... Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, pois haveremos de vê-lo como ele é". [1 Jo 3: 2]
Nossa glória, considerada subjetivamente será nossa semelhança com Deus, proporcionalmente à nossa capacidade de criaturas.
Agora, é nosso dever nunca esquecermos que toda a nossa glória futura será decorrente e sempre assim, em razão de Deus Pai ter sido glorificado no Deus Filho, a saber, nosso Senhor Jesus Cristo, por cuja graça fomos transformados e tudo fizemos e sofremos segundo a Sua santa vontade, pela força operante do Seu próprio poder e sabedoria.
Como já nos expressamos anteriormente, importa que em tudo o Pai seja glorificado no Filho, por Suas grandes obras, e não propriamente em nós, que estamos rodeados de muitas falhas e somos pecadores imperfeitos, enquanto neste mundo. Toda a nossa perfeição é assim considerada, em razão da perfeição da justiça de Jesus que nos foi atribuída por graça, e mediante a fé nEle.
Todavia, mesmo em meio a tais fraquezas, quem não tiver glorificado ao Pai, por suas obras realizadas através de Cristo, por um real crescimento em santidade, nunca será glorificado no céu, caso tenha sido chamado para fazê-lo e não o fez.
Em nossos desejos pelo céu, se forem regulares, não consideramos tanto a nossa liberdade de problemas, como do pecado, nem é o nosso almejar a felicidade completa, tanto quanto a santidade perfeita.
Aqueles que desejam o céu apenas para aliviar seus problemas, e não para libertá-los perfeitamente do pecado cairão em um estado, em que o pecado e a angústia serão eternamente inseparáveis, portanto devemos tender continuamente para nosso descanso e bem-aventurança em Cristo.
Temos uma geração entre nós que alegremente se orgulharia de perfeição, enquanto em suas mentes estariam obviamente sob o poder das trevas; corruptos em suas afeições e mundanos em suas vidas.
Mas, nosso dever é estar sempre "aperfeiçoando a santidade no temor de Deus", como nos ordena a Palavra divina:
"Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus."
[2 Co 7: 1]
Pensar e ocupar-se de maneira intensiva com as coisas que são terrenas faz com que automaticamente excluamos Deus e Sua vontade de nossos pensamentos, e não consideramos que tal desprezo possa ser pecaminoso como de fato ele é. Além disso, em razão de sermos entregues a nós mesmos pelo Senhor, sem que tenhamos a direção e mover do Espírito Santo, faz com que fiquemos totalmente abertos para a prática de pecados, inclusive pelo mau uso de coisas que são lícitas por si mesmas. Este endurecimento de coração e mente faz com que pensemos erroneamente que uma vida carnal e mundana pode ser compatível com uma vida espiritual e santa. E isto é muito comum em nossos dias, em que há tantas solicitações para um viver carnal e mundano, e pouco conhecimento e prática de uma verdadeira vida de santidade.
Em Romanos 8.6 lemos que a inclinação da carne dá para morte, mas a inclinação do Espírito dá para a vida e paz. Em outras palavra isto significa que ser carnal é estar morto, e ser espiritual é ter vida eterna e paz.