“O SENHOR te constituirá para si em povo santo, como te tem jurado, quando guardares os mandamentos do SENHOR, teu Deus, e andares nos seus caminhos.” [Dt 28: 9]
Nós falamos na parte anterior que a santificação possui um lado prático relativo às boas obras, o qual deve ser reconhecido como bastante negligenciado por muitos cristãos, notadamente pelo fato de viverem de modo grandemente independente, o que é facilitado pelo modo de vida atual em grandes centros urbanos, nos quais sequer se conhece muitos dos vizinhos que vivem no mesmo prédio.
Assim, dificilmente alguém se disporá a usar da prática da hospitalidade para assistir em suas residências com alimento e pousada, especialmente nos casos de acolhida de irmãos que se encontram em atividade missionária em outros países.
Mas, nada servirá de justificativa para negarmos atender a qualquer necessidade de nosso próximo que seja apontada a nós pelo Espírito Santo, para ser atendida, sobretudo as que sejam de caráter espiritual e não material.
Deus não mudou Sua ordenança de amarmos o próximo em razão de o mundo ter mudado muito, dificultando a identificação daqueles que devemos atender, segundo a Sua santa vontade.
Permanece sendo um dever imutável compartilhar as necessidades dos santos, e de nos exortarmos mutuamente com vistas à nossa santificação.
Amamos de fato a Jesus, quando guardarmos os Seus mandamentos.
Uma simples confissão de fé que não possui obras, de nada nos valerá diante dEle.
Além disso, deve ser considerado que ninguém pode amar verdadeiramente a Deus, caso não seja atraído primeiro por Ele, a Jesus, para que se converta a Ele, e ser assim, justificado dos seus pecados, de forma que seja reconciliado ao seu Criador - e isto em amor e santidade, pois prometeu cancelar toda a nossa dívida segundo a Nova Aliança feita no sangue de Jesus.
Mas, muitos pensam erroneamente que não há tal justificação e regeneração que será seguida pela santificação, por serem observados ainda pecados atuais na vida dos crentes, e então, por causa destes pecados permaneceriam na mesma condição de todos os pecadores, continuando debaixo de condenação juntamente com eles.
Dizemos que é errado pensar dessa forma, porque a condenação eterna já não mais alcançará a todos os que foram tirados de debaixo da maldição da Lei, por meio da fé em Jesus, por terem se convertido de fato a Ele, mas quanto aos seus pecados atuais que, a propósito, não podem anular a promessa de salvação de Deus, devem confessá-los e abandoná-los para serem perdoados e retornarem à comunhão andando na luz.
Uma coisa é alguém estar convencido e não convertido, que permanece na prática continuada de pecados sem buscar real arrependimento deles, e outra, alguém ser convertido e aborrecer os pecados que eventualmente pratique, e que busca sempre confessá-los a Deus não somente para ser perdoado, mas para continuar em comunhão com Ele, visando ao seu crescimento espiritual.
É dos que se dizem cristãos e vivem na prática deliberada do pecado, que os crentes os quais estão buscando se santificar devem se separar, conforme a ordenança bíblica, mas não daqueles que mesmo fracos e sujeitos a cairem em muitas tentações, no entanto continuam buscando ser purificados pelo Senhor.
A respeito daqueles que se dizem cristãos, mas não andam no Espírito, o apóstolo Paulo disse que eles se preocupam somente com as coisas terrenas, e permanecem amando o mundo sendo o seu próprio ventre o deus deles, ou seja, eles são governados pelas disposições naturais carnais, e não pela graça de Jesus que leva o verdadeiro crente a sempre priorizar as coisas que são celestiais, espirituais e divinas, tendo um interesse real em sua santificação.
É desvantajoso para o interesse do evangelho, que os homens implorem por santidade com argumentos fracos que não são retirados das reservas da verdade do evangelho, portanto não afetam realmente a consciência dos homens - isso é pernicioso para a própria santidade, a saber, ter algo defendido e pleiteado sob seu nome e título, que de fato não é santidade, mas um usurpador de sua coroa e dignidade.
Em segundo lugar, é pouco atraente e indigno ouvir homens lutando pela santidade, entretanto em todas as ocasiões expressando neles um hábito e estado de espírito que é totalmente inconsistente com o que a Escritura chama e estima por santidade.
Nós vemos e ouvimos homens se proclamando, por todo o curso de sua vida, como sendo orgulhoso, vingativo, mundano, sensual, negligente dos deveres sagrados, zombador da religião e seu poder, mas há homens que defendem uma vida santa, contra a doutrina e prática daqueles que realmente andaram de forma irrepreensível diante do Senhor, de todas as maneiras - aqueles em cujos seios e testas estava escrito "Santidade ao Senhor." [Êx 39: 30]
Tais foram a maioria dos primeiros teólogos reformados, a quem a vida desses outros homens refletem mal - isso é algo que enoja justamente, a todos os homens sóbrios; algo que Deus abomina.
A santidade não é aquela demonstração externa e fingimento que alguns defendem. Não é uma atenção ou observação de algumas, ou todas as virtudes morais apenas; não é uma prontidão para alguns atos de piedade e caridade, de uma presunção orgulhosa e supersticiosa que eles merecem graça ou glória, ou até mesmo do mero exercício de dons espirituais sobrenaturais extraordinários.
Quanto a isto, o apóstolo Paulo responde com suas palavras em I Coríntios 13, que abriu como um parêntesis entre os capítulos 12 e 14 que tratam dos dons espirituais, para por em relevo a maior importância e necessidade do fruto do Espírito Santo agindo pela graça comum, no coração dos que são santificados para crescerem no amor ágape, que é o fim, o propósito principal dos próprios dons espirituais.
As coisas que nos são reveladas por Jesus no evangelho, e posteriormente confirmadas e expandidas pelo Espírito Santo, através do ministério dos apóstolos, não são de caráter recomendável, mas obrigatório, e não deixam espaço para serem questionadas ou discutidas, pois há a absoluta vontade eterna de Deus expressada nelas, uma vez que na Nova Aliança, Deus nos falou de forma definitiva, através do Filho como, por exemplo, somos ordenados a honrar as autoridades.
“1 Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas.
2 De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação.” [Rm 13: 1,2]
“17 Tratai todos com honra, amai os irmãos, temei a Deus, honrai o rei.
18 Servos, sede submissos, com todo o temor ao vosso Senhor, não somente se for bom e cordato, mas também ao perverso;
19 porque isto é grato, que alguém suporte tristezas, sofrendo injustamente, por motivo de sua consciência para com Deus”.[I Pe 1: 17-19]
Uma parte dos sofrimentos que temos que suportar neste mundo, por nosso amor a Cristo e ao evangelho decorre exatamente de maus governantes e senhores, pois temos que suportar tristezas por causa deles, sofrendo injustamente por causa de nossa consciência para com Deus, pois muitos são inimigos da verdade, do evangelho de Cristo, e são servos de Satanás.
Então o que? Como honrar a quem desonra ao próprio Deus?
No entanto, nosso ato de honrar não se destina propriamente à suas pessoas e atos perversos, mas à posição de autoridade que ocupam, porque nos é ordenado por Deus, para que não haja motivos para rebeliões civis da parte daqueles que O amam.
É para honrar a Deus, que nos dá o comando, que devemos honrá-los, mas não significa que devemos obedecê-los nas coisas em que invadem aquilo que é de Deus, e não propriamente de César (a parte deles) como, por exemplo, o dever de pregar o evangelho a toda criatura.
Se a autoridade civil se levanta contra tal ordenança, baixando leis que proíbam a pregação do evangelho, os crentes correrão o risco de serem presos ou mortos, se obedecerem a Deus em vez deles, mas é melhor, antes obedecer a Deus do que a homens, assim como fizeram os apóstolos no passado e muitos que foram martirizados por conta da sua obediência ao Senhor.