“Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra. Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus. Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus.” [Mt 5: 17-20]

 

Um dos grandes motivos de Jesus ter vindo a este mundo foi o de honrar a Lei de Deus, vindicá-la da profanação, do agravo recebido dos pecadores, e da rebelião contra ela. Ele o fez cumprindo-a perfeitamente em todos os sentidos.

Por Sua autoridade divina, sendo o próprio autor da Lei, veio dar cumprimento à mesma, segundo o que o próprio Deus disse a Moisés, acerca de Jesus ser o grande profeta que revelaria de forma completa e consumada toda a Sua vontade, quando se manifestasse em Seu ministério terreno. [Dt 18: 18,19]

De modo que, ninguém poderia ser considerado como sendo parte integrante do povo de Deus, sem ouvi-Lo e obedecê-Lo.

 

Daí Jesus ter feito várias aplicações como as que encontramos no Sermão do Monte, para melhor explicar o significado da Lei, e para reorientá-la em seus mandamentos no que cabia ser feito para a nova dispensação que passaria a ser inaugurada com Sua morte e ressurreição; como, por exemplo, que não deveria ser aplicado pelo povo da nova aliança preceitos como os relativos ao “olho por olho e dente por dente” da Lei de Moisés; e também as prescrições cerimoniais da Lei como a relativa a alimentos e coisas limpas e imundas; aos leprosos se declararem imundos etc.

O sacrifício de animais, também seria abolido na nova dispensação, como também o ofício sacerdotal do Antigo Testamento, que era um tipo do grande e definitivo sacerdócio de Jesus.

Deus projetou ter uma muito maior glória com a dispensação da graça do que com a da Lei, pois nesta última a glória recebida seria da obediência do próprio homem aos mandamentos, e esta sempre seria muito imperfeita e a própria Lei não respondia a todo o propósito divino na criação do homem. Mas, por meio de Jesus, que é quem nos capacita a fazer a vontade de Deus e que nos conduzirá à perfeição em glória, o Pai é muito mais glorificado nEle, do que jamais teria sido pelos próprios crentes, pois sem Jesus são servos inúteis e nada podem fazer. De modo que é dito pelo próprio Senhor: "E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho." Veja que Ele diz que é nEle, Jesus, que o Pai é glorificado, pois é Ele que tudo faz em nós e através de nós. Não é sem motivo que os próprios anjos declarem que a Jesus pertence toda a honra, glória, força, poder e louvor, como se vê em várias passagens do livro de Apocalipse. 

 

É, portanto, a maior loucura, assim como maldade, para os homens projetarem, implorarem ou pretenderem que devemos aprender os deveres de obediência de outros, em vez de Cristo, o Profeta da igreja, e mais do que isso, depender deles ou de nós mesmos para fazermos o que seja da vontade de Deus.

Para que possamos entender melhor o que significa o processo da nossa santificação, podemos refletir sobre a formação da natureza humana do próprio Jesus, pelo poder do Espírito Santo, a qual deveria crescer e se desenvolver até o seu amadurecimento em perfeição, enquanto sua natureza divina permanecia intacta e dotada de todas as suas faculdades, às quais o Senhor não recorreu em seu ministério terreno, tudo fazendo pelo poder do Espírito, para que pudesse realizar a obra que faria na condição de homem perfeito em nosso lugar e favor.

 

Conosco dá-se o oposto, pois ao recebermos na conversão uma nova natureza da parte de Deus, pelo poder do Espírito Santo, a qual é em nós tal como era a natureza humana em Jesus na manjedoura e, que deve ser aperfeiçoada em amadurecimento até a perfeição pelo processo da santificação, enquanto permanece intacta em nós a  natureza terrena, com nossa personalidade dotada das faculdades naturais que são também amadurecidas através do seu exercício.

O corpo humano de Jesus, depois de sua ressurreição foi conduzido à glorificação, tornando-se um corpo sobrenatural e glorificado não mais sujeito às limitações e à morte. O mesmo ocorrerá conosco no arrebatamento, quando receberemos um corpo glorificado como o de Jesus.

Uma antecipação desta glória na qual nosso Senhor se encontra presentemente foi feita na revelação do monte da transfiguração, quando Moisés e Elias vieram ter com Ele.

O primeiro representava a Lei que vigorou no Velho Testamento, e o segundo o ministério dos profetas posteriores daquele mesmo período, mas Jesus, do qual ambos eram feitura de Suas mãos, sendo Deus, resplandeceu com glória muito maior do que a deles, não sendo ainda toda a glória que Ele possui como Criador e Senhor.

Pedro se refere a este fato em uma de suas epístolas, para confirmar a veracidade da palavra do evangelho que ele pregava, pois viu a glória do Senhor no monte, e isto era uma evidência externa suficiente para sustentar sua fé em Jesus, e em tudo o que nos é prometido por meio dEle, porém Pedro tinha uma evidência maior e melhor do que qualquer outra que fosse externa, porque tinha o testemunho do Espírito Santo habitando nele, e operando através dele, de maneira que tinha íntima comunhão espiritual com Jesus, e a plena certeza da vida vindoura e da glória que há de se manifestar nos crentes.

Caso suceda como um fato possível, que a alguns que se encontram no inferno seja dado contemplarem a glória dos santos no céu, assim como foi o caso do rico que clamou desde o inferno a Lázaro, que se achava no seio de Abraão, conforme a parábola contada por Jesus, haverá certamente um horrível peso de consciência em muitos por terem deixado de crer em Cristo, e assim não terem sido salvos das chamas eternas, e perdido toda a bem-aventurança que existirá para aqueles que estiverem no céu.

 

Desde que o primeiro homem pecou, Jesus foi prometido para esmagar a cabeça da Serpente, e também para abençoar a descendência de Abraão; e muitos outras promessas foram feitas acerca dEle e da obra que realizaria em favor de pecadores, pelo ministério dos profetas, sendo Ele próprio o grande e último profeta que falaria pessoalmente de Si mesmo e de toda a vontade de Deus, para que pela fé em Sua palavra fôssemos salvos.

Como podemos então, deixar de dar a devida consideração a tudo o que Ele fez e ensinou, para ser guardado por nós?

Como arriscaremos tão grande salvação, por fazer concessão a fraquezas e a pecados?

Como deixaremos de atender à Sua ordenança de orarmos e vigiarmos sem cessar, para não cairmos em tentação?

E assim, em relação a todas às demais ordenanças, alertas e ameaças que faz para aqueles que forem negligentes e não perseverarem em segui-Lo em vidas santificadas que glorifiquem o Seu grande nome?


O ensino de Jesus é contínuo e presente à igreja, por Sua palavra e Espírito. Ele dá tal poder e eficácia a ela, que a cada dia demonstra por seus efeitos, que é de Deus, sendo acompanhada com a evidência e demonstração de um poder espiritual.

As experiências, consciência e vida de multidões dão testemunho disso continuamente. Elas atestam, e o fará por toda a eternidade.

Que poder sua palavra teve para iluminar suas mentes, para subjugar suas luxúrias, para mudar e renovar seus corações, para aliviar, confortá-los em suas tentações e angústias, com efeitos semelhantes de graça e poder!

 

A Palavra do evangelho é a única geradora da fé, pois a fé vem pelo ouvir a pregação desta Palavra, e nunca por qualquer outra. As palavras de Jesus são espírito e vida, destinadas a produzir a verdadeira vida espiritual, sobrenatual e celestial naqueles nos quais opera a salvação, simplesmente por meio do arrependimento e fé nesta Palavra, que nos foi trazida pelo grande Profeta da Igreja, do qual falaram todos os profetas do Antigo Testamento, quanto à revelação final que Ele nos traria da vontade de Deus.

Ele foi designado desde o princípio, para ser também o Sumo Sacerdote de uma nova aliança, que por meio da Sua manifestação ao mundo faria com que a antiga fosse revogada, conforme temos testemunho disso em várias passagens bíblicas, inclusive na própria história de Israel e da Igreja.

Por exemplo; ao falar em "nestes últimos dias Deus nos falou pelo Filho", em Hebreus 1. 2 - a referência ali, se aplica ao tempo em que a antiga aliança estava para ser encerrada totalmente, quando o templo de Jerusalém seria destruído pelo romanos em 70 d. C., condição em que permanece até os nossos dias, para que por isto Deus confirmasse que de fato, todo o sistema de culto que havia sido estabelecido por Ele nos dias do Velho Testamento seria por fim, encerrado com uma nova instituição sob um novo sacerdócio eterno, a saber, o de Jesus Cristo, pois todo aquele culto antigo era apenas uma figura daquele que é perfeito e eterno que foi manifestado na pessoa do próprio Cristo.

 

Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 08/11/2021
Reeditado em 27/01/2022
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