“Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós. Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa. Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus.” [Mt 5: 3-16]

 

Para que as poderosas obras de Jesus em nossas vidas possam ser vistas, é necessário que Ele nos dê discernimento e olhos espirituais para poder vê-las sob a Sua luz. Ele mostrou o poder exclusivo que possui para tal, ao curar cegos de nascença durante Seu ministério terreno.

 

Pegue as palavras de Jesus nas Bem-Aventuranças, no início deste sermão do Monte, conforme as temos registradas nesta parte que destacamos, e as confronte com seu comportamento e forma de vida, e veja se há alguma coisa correspondente entre ambos, de modo a poder concluir, que é de fato um crente genuíno e que está vendo tais graças sendo aperfeiçoadas em sua vida cristã.

O Senhor Jesus Cristo nos apresenta no Sermão do Monte os preceitos da vontade de Deus, para que em sendo cumpridos sejamos de fato piedosos. A plena revelação da mente e vontade de Deus na perfeição e espiritualidade dos seus mandamentos, foi reservada para Cristo no cumprimento de seu ofício, para que tivesse toda a honra e glória na referida revelação em sua própria pessoa. E, Ele a fez para que pudéssemos ter uma regra perfeita e completa de santidade, portanto este foi o fim imediato deste trabalho, ou dever do ofício profético de Cristo.

Quando não respondemos a Ele obedientemente, rejeitamos Aquele grande profeta que Deus enviou, cuja rejeição é tão severamente ameaçada, como se vê em [Deuteronômio 18: 18, 19].

"Suscitar-lhes-ei um profeta do meio de seus irmãos, semelhante a ti, em cuja boca porei as minhas palavras, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar.
De todo aquele que não ouvir as minhas palavras, que ele falar em meu nome, disso lhe pedirei contas".


Uma parte deste cargo profético de Jesus, ou de Seu desempenho com relação à igreja de todas as épocas (que inclui o ministério dos apóstolos), tão divinamente inspirado por Ele, consistia na revelação de nossos deveres de santidade. Apesar destes deveres terem um fundamento geral na lei, sua justiça não foi estabelecida nela - sua natureza especial nunca poderia ter sido conhecida como nossa incumbência, e necessária para nós, exceto por seus ensinamentos e instruções; por isso, são chamados de mandamentos "antigos" e "novos", em sentidos distintos.

"Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros".[Jo 13: 34]

Esses são; a fé em Deus por meio de Cristo, amor fraternal, negação de nós mesmos ao tomar a cruz, retribuir o mal com o bem, com outros deveres da mesma espécie, pois por estes, como o de permanecer na Palavra do Senhor, amando-a e praticando-a, há a evidência de pertencermos de fato a Ele, pois ninguém pode viver e praticar tais coisas, sem um relação espiritual e real com Ele.

 

Nós sabemos que uma boa parte da santidade evangélica consiste nessas coisas "novas". Além dessas, Ele também nos ensina todas as ordenanças de adoração, em que nossa obediência a Ele, também pertence à nossa santidade, pela qual é ampliada e promovida.

Esta, eu digo, é a natureza e o objetivo do ofício profético de Cristo - nEle age em relação a nós, da parte de Deus, e em Seu nome, quanto à declaração da vontade de Deus em Seus comandos. A nossa santidade é seu único fim e desígnio, e está sumariamente representado em Tito 2: 11, 12.

"Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente", 

Há três coisas a serem consideradas na doutrina da obediência que Cristo ensina:

(1) Que atinge o próprio coração, com todos os seus atos mais íntimos e secretos; e está em primeiro lugar.

A prática da maioria, não vai além do que atos exteriores; os ensinamentos de muitos não vão além da moderação de afetos,  mas em primeiro lugar, Cristo requer a renovação de toda a nossa alma à imagem de Deus, em todas as suas faculdades, movimentos e atos.

O vinho novo que Ele e a Sua graça representa só pode ser colocado por Deus em odres novos, que tenham nascido de novo do Espírito.  

"A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus".

"Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus". [Jo 3: 3, 5]

É a este novo nascimento que se refere o apóstolo:

"No sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade". [Ef 4: 22-24]

(2) É extenso.

É uma regra perfeita de santidade e obediência.

 

(3) Possui clareza, nitidez, e evidência da verdade divina e autoridade em tudo.

 

[1.] Com isso, digo que a doutrina de Cristo para a obediência universal, em todos os seus deveres passa a ser absoluta, completa, e perfeita em todos os sentidos.

A razão pela qual os ensinos do mundo são mais agradáveis para os ímpios, do que os mandamentos e instruções de Cristo é, porque procedendo da fonte de luz natural, eles são adequados para o funcionamento de suas fantasias e compreensão naturais.

Mas aqueles de Cristo, provenientes da fonte de luz espiritual eterna, não são compreendidos em sua beleza e excelência, sem um princípio da mesma luz em nós, norteando nosso entendimento e influenciando nossas afeições, daí a necessidade de nascermos de novo do Espírito Santo e andarmos no Espírito para entendermos e praticarmos o ensino de Cristo.

 

Quando Cristo entrou em Seu ofício profético, a voz veio da excelente glória:

“... Este é o meu Filho, o meu eleito; a ele ouvi.” [Lc 9: 35]

Este ofício sucedeu no lugar de todas aquelas aparências e preparações terríveis, que Deus fez uso ao dar a lei, pois Ele deu a lei pelo ministério dos anjos, que sendo meras criaturas manifestou o pavor de Sua própria presença entre eles, para dar autoridade às suas ministrações.

Mas, quando Ele veio para revelar Sua vontade sob o evangelho, foi feito por aquele no qual "habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade" [Cl 2: 9], e a quem foi confiado todo o poder divino.

 

Deus levantou e enviou o grande Profeta da igreja; e quem não quisesse ouvi-lo deveria ser excluído do povo, ou seja, não entraria no reino de Deus.

O cumprimento deste mandamento, de ouvir a voz de Cristo, é o fundamento de toda santidade e obediência ao evangelho.

 

E não se pense que ser ensinado por Cristo, consiste meramente em estudar a Bíblia, mas em efetivamente estar sob o Seu poder divino de Senhor e Mestre, que aplica Sua verdade ao nosso coração, pela força sobrenatural do Seu amor.

Quão profundas e inefáveis são as operações que o Espírito Santo efetua em nós em nome de Jesus, de maneira que somente a Sua luz remove a nossa cegueira espiritual, que é derramada abundantemente sob todos aqueles que se aproximam deste maravilhoso e único Sol de justiça, pelo qual podemos discernir e viver segundo as coisas espirituais e sobrenaturais do reino de Deus.

 

Foi para o propósito de confirmar que Ele, Jesus, era o Salvador prometido que nos cura da cegueira espiritual por causa do pecado, que Ele curou muitos cegos fisicamente em Seu ministério terreno, para comprovar que somente Ele cura as nossas enfermidades espirituais, livrando-nos da morte eterna.

Assim também curou os coxos para mostrar que somente Ele pode nos colocar de pé, para andar no caminho de Deus.

“5 Então, se abrirão os olhos dos cegos, e se desimpedirão os ouvidos dos surdos;

6 os coxos saltarão como cervos, e a língua dos mudos cantará; pois águas arrebentarão no deserto, e ribeiros, no ermo.”  [Isaías 35: 5,6]

Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 05/11/2021
Reeditado em 05/09/2022
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