“Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim, também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus. Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais. Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.” [I Co 2: 11-14]
Há algo mais profundo neste texto do que possa parecer transmitir se considerado superficialmente, pois o ensino ministrado pelo Espírito não se limita à compreensão de palavras, conforme inspiradas por Ele próprio, mas ao Seu poder que acompanha tais palavras, porque se a fé vem pelo ouvir a pregação da Palavra de Deus, é esta mesma fé que abre o canal para a manifestação do poder do Espírito Santo em nós, transformando, renovando, abençoando e consolando. Por isso o apóstolo se referiu à sua pregação do evangelho da seguinte forma: “porque o nosso evangelho não chegou até vós tão somente em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção.” [I Ts 1: 5]
O poder do Espírito aqui referido é tanto para a destruição das obras da carne relacionadas pelo apóstolo em Gl 5: 19-21, e para a produção do fruto do Espírito citado em Gl 5: 22,23, o qual se refere à implantação e crescimento das graças correspondentes ao referido fruto (fé, amor, bondade, longanimidade, paz, etc.), pelo uso dos meios designados para seu exercício (oração, pregação, adoração, ensino, meditação e prática da Palavra, louvor, comunhão, vigilância, uso dos dons e serviços espirituais, etc.)
E assim, quem seria capaz de discorrer sobre todas estas coisas, como elas são em verdade, a não ser pela instrução, direção, e poder do Espírito Santo?
É nosso dever inquirir sobre a natureza da santidade evangélica, pois é um fruto ou efeito em nós do Espírito de santificação, porque é obscuro, misterioso, e indiscernível aos olhos da razão carnal.
Podemos falar disso em algum sentido, como Jó falou de sabedoria:
“Donde, pois, vem a sabedoria, e onde está o lugar do entendimento?
Está encoberta aos olhos de todo vivente e oculta às aves do céu.
O abismo e a morte dizem: Ouvimos com os nossos ouvidos a sua fama.
Deus lhe entende o caminho, e ele é quem sabe o seu lugar".[Jó 28: 20-23]
"E disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e o apartar-se do mal é o entendimento. [Jó 28: 28]
Esta é aquela sabedoria, cujos caminhos e residência estão ocultos da razão natural e compreensão dos homens.
Nenhum homem, eu digo, por sua mera visão e conduta pode conhecer e compreender corretamente a verdadeira natureza da santidade evangélica, portanto não é de admirar que sua doutrina seja desprezada por muitos, como uma fantasia entusiástica.
A sabedoria diz respeito às coisas do Espírito de Deus; na verdade é o efeito principal de todas as suas operações em nós e para conosco.
"...Assim, também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus.[1 Co 2: 11]
É somente pelo Espírito, que somos capazes de "conhecer as coisas que nos são dadas gratuitamente por Deus" (v 12), como elas são, se alguma vez recebermos dEle neste mundo, ou o fará para a eternidade.
“O olho não viu, o ouvido não ouviu, nem entraram no coração do homem, as coisas que Deus preparou para aqueles que o amam.
Compreender essas coisas não é obra de nenhuma de nossas faculdades naturais, mas "Deus as revela a nós pelo seu Espírito”, (v 9, 10)
Muitas vezes acontece, como aconteceu com os judeus e fariseus da antiguidade, que aqueles que são mais zelosos e trabalhadores por uma justiça legal; caminhando estritamente no atendimento aos deveres na proporção de sua luz e convicções, pretendendo ser justos, são os mais ferozes e inimigos implacáveis da verdadeira santidade evangélica.
Eles não sabem disso, portanto a odeiam; eles abraçaram outra coisa em seu lugar, a desprezam e perseguem como acontece com aqueles que abraçam o erro pela verdade, em qualquer tipo.
Os próprios crentes, muitas vezes não estão familiarizados com a santidade, tanto quanto a apreensão de sua verdadeira natureza, causas e efeitos, ou pelo menos quanto a seu próprio interesse e preocupação com ela.
Assim como de nós mesmos, não sabemos as coisas operadas em nós pelo Espírito de Deus, então raramente atendemos como deveríamos nos instruir nelas.
Pode parecer estranho, porque uma vez que todos os crentes são santificados e tornados santos, eles compreenderiam ou apreenderiam o que é trabalhado neles, para eles, e o que permanece com eles.
Mas, infelizmente, quão pouco sabemos de nós mesmos; do que somos e de onde vêm nossos poderes e faculdades, mesmo nas coisas naturais!
Nós sabemos como os membros do corpo são formados no útero?
Estamos aptos a buscar e dar razões para todas as coisas, e descrever o andamento da produção de nossa natureza do primeiro ao último, senão para nos satisfazer, mas para agradar e divertir os outros, pois;
"Mas o homem estúpido se tornará sábio, quando a cria de um asno montês nascer homem." [Jó 11: 12]
Os melhores resultados de nossa consideração sobre isso é a do salmista:
"Pois tu formaste o meu interior, tu me teceste no seio de minha mãe. Graças te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem; os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra", [Sl 139: 13-16]
Pela consideração diligente dessas coisas podemos obter uma base sólida para permanecer firme, em uma santa admiração da infinita sabedoria e bondade daquele Arquiteto soberano, que ergueu este tecido para Sua própria glória; e tudo o que nós tentamos além disso, é vaidade e curiosidade.
Por isso, são os que são e se reconhecem pobres de espírito, que são bem-aventurados, porque serão ensinados pelo Espírito Santo, e capacitados por Ele a produzirem os frutos esperados por Deus.
“Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o SENHOR pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus.” [Mq 6: 8]
“Agora, pois, ó Israel, que é que o SENHOR requer de ti? Não é que temas o SENHOR, teu Deus, e andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração e de toda a tua alma, para guardares os mandamentos do SENHOR e os seus estatutos que hoje te ordeno, para o teu bem”? [Dt 10: 12,13]
Veja que já nos dias do Velho Testamento foi revelado, que o propósito de Deus escolher um povo para Si estava relacionado ao amor sobrenatural que o deveria ligar a Ele, e sabemos que Jesus se manifestou principalmente, para que este propósito fosse cumprido. Então, é somente aqui que acharemos descanso e paz para nossas almas, a saber, sendo participantes e praticantes deste amor.
O amor ágape, que é celestial e divino, é derramado na nova criatura gerada em nós pelo Espírito Santo, e é dependente para que seja mantido e aumentado, que cultivemos uma boa consciência, um coração puro e uma fé não fingida. [I Tm 1: 5]
Caso não cheguemos a formar esta boa consciência, mas permitirmos que ela seja cauterizada, perdendo-se a sensibilidade do toque do Espírito nos indicando o que é precioso e o que é profano, o que é verdadeiro e o que é falso, o que é aprovado e o que é reprovado, para que rejeitemos o que é mau, e pratiquemos o que é bom e agradável a Deus, dificilmente poderemos ser santificados pelo Espírito; a fé falhará e o coração puro será perdido ou não alcançado.
Então, em resumo de tudo quanto foi dito anteriormente, devemos estar bem conscientes de que não será o mero aprendizado intelectual das próprias Escrituras, ou a investigação da história da Igreja que garantirá que sejamos santificados, uma vez que esta obra invisível, silenciosa e progressiva do Espírito é realizada, sobretudo pelas operações do Seu poder sobrenatural para o nosso aperfeiçoamento e amadurecimento espiritual. E, é o próprio Deus quem abre o nosso entendimento dando-nos coração para compreendermos estas coisas espirituais, que são reveladas e manifestadas em nós pelo Espírito Santo.