“porque é impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados”. 

Por isso, ao entrar no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste; antes, um corpo me formaste”;

“não te deleitaste com holocaustos e ofertas pelo pecado”.

“Então, eu disse: Eis aqui estou (no rolo do livro está escrito a meu respeito), para fazer, ó Deus, a tua vontade”.

“Depois de dizer, como acima: Sacrifícios e ofertas não quiseste, nem holocaustos e oblações pelo pecado, nem com isto te deleitaste (coisas que se oferecem segundo a lei)”,

“então, acrescentou: Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade. Remove o primeiro para estabelecer o segundo”.

“Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas”.

“Ora, todo sacerdote se apresenta, dia após dia, a exercer o serviço sagrado e a oferecer muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca jamais podem remover pecados”;

“Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus”,

“aguardando, daí em diante, até que os seus inimigos sejam postos por estrado dos seus pés”. 

“Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados”. [Hb 10: 4-14]

 

Se Jesus não tivesse se oferecido como sacrifício, para expiar nossa culpa e pecados, jamais poderíamos ser salvos e, por conseguinte santificados de fato, para que pudéssemos ser aceitos por Deus.

A oferta do Seu corpo em sacrifício na cruz, para satisfazer a justiça de Deus foi de tal ordem, que por esta única oferta somos aperfeiçoados para sempre, por meio da santificação que se tornou possível por Sua morte e ressurreição.

É por meio da fé neste sacrifício e em toda a obra que Jesus realizou, e tem realizado ainda por nós, no céu, intercedendo junto ao Pai como nosso Sumo Sacerdote, que podemos nos tornar agradáveis a Deus, e receber dEle os dons e as graças prometidos aos que creem, para que sejam santificados.

Agora, tudo isto não é por mera teologia, ou doutrina sobre a nossa salvação, mas é a mais profunda e infinita história do verdadeiro amor, demonstrado pelo Pai por nós, e o Filho pelo Pai.

É aqui que tudo se resolve, e o problema do pecado é dissolvido, ou seja, nas profundezas do amor de Deus, porque não há maior motivação para vivermos da maneira certa, senão o amor que devotamos a Deus, a nós mesmos e aos outros.

Foi por amor que Jesus se santificou a Si mesmo, para que fôssemos santificados. Foi por amor que Ele se humilhou, se entregou a nós e morreu naquela terrível cruz. É por este mesmo amor, que devemos nos consagrar a Ele com todo o nosso ser e vontade. Somente pelo amor podemos vencer multidões de transgressões. Onde faltar este amor por Deus de nossa parte, não seremos sequer movidos a resistir ao pecado, porque o mal só pode ser vencido pelo bem, ou seja, onde há o verdadeiro amor ágape.

 

Deus abriu esta fonte, para que pudéssemos ser purificados pelo sangue do Senhor de nossos pecados, mas esta purificação se mostra eficaz, apenas naqueles que buscam se lavar continuamente no mesmo, como no dizer de Hebreus 10: 26.

"se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados."

E acrescenta para o caso deste pecar conscientemente, e não por ignorância, que repele de nós o perdão de Deus:

"pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários." (v.27).

 

A razão disso é que esta atitude configura a profanação do sangue da aliança com o qual a pessoa foi santificada, e o ultraje do Espírito Santo, quanto à disponibilidade de graça que foi pisada e rejeitada, para que não se pecasse impiamente (v. 28 e 29). Deus promete se vingar daqueles que procederem de tal forma no meio do Seu povo, e os julgará (v.30).

E o autor de Hebreus conclui: 

"Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo." (v.31)

 

Então se exige da parte de todo crente, um andar em temor e tremor diante do Senhor, pela fé em Jesus, levando o pecado muito a sério, já que é capaz de produzir tal prejuízo horrível, até mesmo na vida de um crente.  

 

Por isso Jesus diz "Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; assim como também eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e no seu amor permaneço." O novo mandamento que Jesus nos deu de nos amarmos uns aos outros assim como ele nos amou só pode ser cumprido se nascermos de novo do Espírito e se vivermos e andarmos no Espírito, porque o amor ágape que é espiritual e divino somente pode existir e se manifestar desse modo, porque é um grau de amor muito mais elevado do que o simples amor eros (entre cônjuges), ou filéo (entre amigos). O amor ágape exige que sejamos obedientes aos mandamentos de Jesus para que possamos permanecer em unidade de amor com Ele. Daí sermos sempre exortados na Palavra a vigiarmos e a orarmos sem cessar, para que não nos afastemos do Senhor, por falta de obediência à Sua vontade.

 

Jesus não é ministro do pecado, nem nos salvou em nossos pecados, mas para nos libertar do pecado, de maneira que tudo o mais na vida cristã decorrerá deste princípio indispensável da fé, que nos une ao Senhor Jesus Cristo, para que O sirvamos e O adoremos em Seu corpo, que é a Igreja; para o benefício do corpo, e para a glória do Pai.

Nossas boas obras serão verdadeiras e glorificarão a Deus, se partirem do referido princípio e pela operação do Espírito Santo em nós que, é quem opera todas as graças, dons e serviços  segundo a Sua boa vontade.

 

Seria injusto se Deus sacrificasse Seu Filho, que não tinha pecado, e abençoasse a pecadores ímpios, que são seus inimigos.

Mas, se não havia no próprio Jesus qualquer razão legal para que morresse, uma vez que era perfeitamente santo e justo, contudo havia essa necessidade, de que a justiça e a santidade de Deus fossem de novo honradas e vindicadas -  Deus fez isto visitando todo o Seu ódio contra o pecado, em Seu próprio Filho, e não haveria forma mais explícita de se revelar aos anjos, e a todas as criaturas debaixo do céu, o quanto Ele detesta o pecado, pois que o pecado realmente gera a morte. Onde o pecado se manifestar sempre será necessário haver um desagravo da justiça e da santidade de Deus, e daí se impor a confissão e o arrependimento, e não raro disciplinas que são ordenadas, como por exemplo o desligamento da comunhão dos santos na Igreja, para a restauração daqueles que pecarem deliberadamente. E assim mesmo, este caminho de ligação com Deus para que sejamos corrigidos foi aberto somente por causa da morte de Jesus, pois sem isto jamais seríamos sequer corrigidos e aceitos por Ele.

 

Assim, tendo Jesus feito a Si mesmo maldição, sem que fosse de fato um maldito, os que creem podem agora ser resgatados da maldição, pela identificação com a morte de Jesus, e por esta aplicação da morte de Jesus a eles, para serem beneficiados com a remoção da culpa do pecado, e eles, por sua vez, daí por diante devem se esforçar para viverem sinceramente em verdadeira santidade de vida, tendo por alvo tornarem-se pessoas realmente piedosas.

Deus se revela justo e justificador, de todo aquele que crê em Jesus, porque com isto atribui uma razão justa e santa, para aquela morte horrível na cruz, para carregar sobre Si a sentença devida ao pecado de todos aqueles que viessem a crer nEle, para que sendo santificados por meio da fé nEle, venham a receber herança entre todos os demais que são assim santificados.

Mas, ainda que nenhum pecador viesse a ser beneficiado por Sua morte expiatória, por causa da incredulidade, contudo a justiça e santidade de Deus teriam sido plenamente vindicadas, através da vida de Jesus, tanto em Sua perfeita obediência ativa aos mandamentos da Lei, quanto em Sua obediência passiva, oferecendo-Se como sacrifício, para morrer em favor do resgate da dignidade e honra do Pai, de maneira que Sua morte não seria vã, em qualquer circunstância. E isto deve ser devidamente pesado quando se pensa no grande número de incrédulos que não serão beneficiados por Sua morte e sujeitados ao castigo eterno.

 

Como teremos oportunidade de ver em partes posteriores do nosso estudo, que Jesus é tudo em todos, e que toda a nossa vida espiritual, não somente em relação à santificação, é dependente inteiramente dEle, e da nossa união em amor com Ele, permanecendo nEle, para que Ele possa permanecer em nós, podemos entender melhor as Suas repreensões dirigidas a cinco, das sete igrejas citadas no livro de Apocalipse, e ter iniciado com a Igreja de Éfeso, por ter abandonado seu primeiro amor.

Qual era o problema com Éfeso, uma vez que foi elogiada pelo Senhor, com as seguintes palavras:

“2 Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua perseverança, e que não podes suportar homens maus, e  puseste à prova os que a si mesmos se declaram apóstolos, e não são, e os achaste mentirosos;

3 e tens perseverança, e suportaste provas por causa do meu nome, e não te deixaste esmorecer.”  [Ap 2: 2, 3]                                                

E ainda:

“6 Tens, contudo, a teu favor que odeias as obras dos nicolaítas, as quais eu também odeio.” [Ap 2: 6]

(os nicolaítas ensinavam que o crente podia ser mundano, em razão de ter a cobertura da graça de Jesus).

 

Veja que eles tinham recomendações, muito maiores e melhores do que aquilo que se vê em muitas igrejas em nossos dias, no entanto estavam em falta no que era o principal, pois apesar de todos os dons, serviços, fé, e perseverança que eles tinham, nada disso lhes aproveitaria, porque não eram movidos pelo amor, que é a principal graça, e a única que permanecerá no porvir. Daí, a dura repreensão dirigida à Igreja de Éfeso:

“4 Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor”.

“5 Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas.” [Ap 2: 4, 5]

 

Eles deveriam se arrepender voltando à prática das primeiras obras, em verdadeira santificação, que nos impõe tudo fazer em união espiritual com Jesus, por amor a Ele e aos Seus mandamentos.

Por isso, Ele intercedeu junto ao Pai para que todos os crentes fossem santificados, na Palavra da verdade [Jo 17: 17], que nos aponta tudo o que é necessário para um viver agradável a nós, e a Deus.

 

Alguns anos antes da escrita da carta por João, dirigida a Éfeso, o apóstolo Paulo havia encarregado Timóteo de ordenar presbíteros idôneos naquela igreja, porque havia alguns que estavam ensinando outras doutrinas, e já não andavam segundo a regra do amor cristão; daí o apóstolo ter escrito:

“Ora, o intuito da presente admoestação visa ao amor que procede de coração puro, e de consciência boa, e de fé sem hipocrisia.” [1 Tm 1: 5]

Eles haviam no entanto, apesar dessa admoestação, negligenciado a importância do coração puro, santificado, da consciência formada e dirigida pelo Espírito Santo, segundo a Palavra, e do exercício de uma fé genuína que nos leva, não somente a confiar no Senhor e na Sua Palavra, mas obedecê-los, pois na falta disso, não poderiam viver e andar no amor, porque ele não pode existir na falta destas coisas necessárias.

 

O que dizer então, do proceder carnal e mundano, que é tão comum de ser visto em crentes em nossos dias?

Como podem ser santificados e voltarem ao primeiro amor, sem um andar segundo a verdade?

Éfeso não era mundana, e ainda assim foi repreendida por não possuir a verdadeira santidade.

Então, não é somente por não sermos carnais e mundanos, que nos tornamos recomendáveis a Deus, mas por um viver realmente santificado, que é a única maneira de podermos viver no amor de Deus.

 

 

Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 20/10/2021
Reeditado em 12/11/2021
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