Prelúdios...
 
     Perpasso perdido os inevitáveis, lúgubres túneis, para tanto, acendo os faróis, mas somente as luzes em seus finais, fazem-me ver os meus pais, como nas longínquas chegadas, dos lúdicos e arrepiantes trens fantasmas… quando venço aquele “a parte” do meu trajeto, derrapo numa curva qualquer… apenas avisos...
     Sofro nos infindos, serpenteados (em esses) e empinados aclives… e relaxo nos esperados declives, declives que podem ser morais, ou da excitante estrada, onde deve-se verificar os freios… é quando dizem que todo santo ajuda… mas podem ser também aqueles santos esquecidos, no ato de antes, jogarem uma para eles… É aí, nesse trecho, que tudo se vulnerabiliza: estabilidade, direção, assiduidade… é aí que se ultrapassa os limites da amplitude do percurso, que se livra de vez da liberdade do arbítrio, que "finca-se o prego no angu". Esse é o trecho onde são suas as decisões, entre provações, amarguras e delícias,vento no rosto ou sol escaldante, serrações ou límpidos horizontes…
     Pelo retrovisor esvaem-se as escolhas, formam-se as lembranças e à frente vence-se ou perde-se para as consequências… É a aventura do Espírito em um corpo, como a de um formula um, em plena temporada, em seu limitado cockpit.
     Venço as angustura, que eu mesmo, impensadamente,optei por estreitar, com saudades, ansiedades e as incessantes e frequentes sensações de solidão…
     E numa imensa e rara reta de paz, nem é percebida, e surge a ponte para o outro lado, para um outro momento... pois quando olho para trás, ouço sussurros e murmúrios, vejo flores, velas e alguns lamentos e, depois da ponte, de espessa e cegante névoa, de repente clareia, e vejo que me aguardam novíssimos containers coloridos...
     Que me sejam as cargas leves, não como a leveza desejada por Bentinho, pois assim, em seus julgamentos, a Capitu, somente pela terra, não seria encoberta, mas que me sejam realmente leves, Senhor!