(Tradução abaixo do original em inglês)
 
 

Tell me again that you love me… 
 (Meditation during Elul)

©Sarah D.A. Lynch
 
 

When people have gone through unspeakable horrors they have to accept they´ve lost the right to be loved – or be exposed to even more pain.
 
When someone thinks he or she loves one of those people, it´s just a matter of time until he or she gets a bit closer and perceives all the horrors stamped on them – in their words, their gestures, their reactions, their very faces – and he or she backs off in contempt and disgust.
 
People who have gone through real horrors – not a mere sickness, or the death of a loved one – well, people like that are not suitable to be loved. They are confused, irrational, many times bitter, attacking in fear anything and anyone who comes too close. And this is not a momentary state. It´s forever ingrained in them. And very few men and women are brave and great enough to be willing to embrace their whirlwind and look beyond it to see any kind of value.
 
I know it. I´m one of those unspeakable contemptible people.
 
So please don´t say you love me because your love will not pass through the sieve. Please don´t come too near. I don´t want to hurt anymore.
 
But if you already did and backed off in disgust, thinking I´m some kind of shlomeal– be sure you are entirely right. I am. And I might receive you one minute with smiles and the other with anger. I might tell you I love you in a minute and then attack you with criticism in the other.
 
That´s the price we who have gone through horrors have to pay for the insanity of men. War, genocide, rape, imprisoning, kidnapping, torture.
 
Have you ever seen a child being raped before your eyes? Have you survived a War, or seeing your loved ones survive one? Have you experienced a small replica of the Holocaust in your own life – bars and high walls and barbed wires separating you from the rest of the world, as you suffer unspeakable horrors within?
 
No, you didn´t. So – tell me again you want me, tell me again you love me – after you have seen beyond my face.
 

Amen
(Leonard Cohen)
 
Tell me again
When I’ve been to the river
And I’ve taken the edge off my thirst
Tell me again
We’re alone and I’m listening
I’m listening so hard that it hurts
Tell me again
When I’m clean and I’m sober
Tell me again
When I’ve seen through the horror
Tell me again
Tell me over and over
Tell me that you want me then
Amen…

Tell me again
When the victims are singing
And the Laws of Remorse are restored
Tell me again
That you know what I’m thinking
But vengeance belongs to the Lord
Tell me again
When I’m clean and I’m sober
Tell me again
When I’ve seen through the horror
Tell me again
Tell me over and over
Tell me that you love me then
Amen…

Tell me again
When the day has been ransomed
And the night has no right to begin
Try me again
When the angels are panting
And scratching at the door to come in
Tell me again
When I’m clean and I’m sober
Tell me again
When I’ve seen through the horror
Tell me again
Tell me over and over
Tell me that you need me then
Amen…

Tell me again
When the filth of the butcher
Is washed in the blood of the lamb
Tell me again
When the rest of the culture
Has passed through the Eye of the Camp
Tell me again
When I’m clean and I’m sober
Tell me again
When I’ve seen through the horror
Tell me again
Tell me over and over
Tell me that you love me then
Amen…
 
 

Tradução
 
 

Diga-me outra vez que me ama…
 (Meditação durante Elul)

©Sarah D.A. Lynch
 
 
 
Quando algumas pessoas passaram por horrors indizíveis, elas precisam aceitar que perderam o direito de serem amadas – ou ficarem expostas a ainda mais dores.
 
Quando alguém pensa que ele ou ela ama uma dessas pessoas, é só uma questão de tempo até que se aproximem um pouco mais e percebam todos os horrores estampados nela – nas suas palavras, nos seus gestos, nas suas reações, em seu semblante – e batam em retirada em desprezo e desgosto.
 
Pessoas que passaram por horrores reais – não apenas uma doença, ou a morte de uma pessoa querida – bom, pessoas assim não servem para serem amadas. Elas são confusas, irracionais, muitas vezes amargas, atacando com medo tudo e todos que se aproximam delas. E isto tudo não é um estado passageiro. Está para sempre enraizado nelas. E são poucos os homens e mulheres que são corajosos o suficiente, ou grandiosos o suficiente, para estarem dispostos a abraçar o turbilhão, e olhar para além dele, a fim de perceber qualquer tipo de valor.
 
Eu sei. Eu sou uma dessas pessoas desprezíveis e abjetas.
 
Então por favor não diga que me ama, porque seu amor não vai passar pelo crivo. Por favor não se aproxime. Não quero mais ser ferida.
 
Mas se você já se aproximou, e daí se afastou em desgosto, pensando que sou algum tipo de shlomeal – fique seguro de que você está certo. Eu sou. E posso num minuto receber você com sorrisos, e em outro com raiva. Posso lhe dizer em um minute que amo você, e daí ataca-lo com criticismo no outro..
 
Esse é o preço que nós, que passamos por horrores, temos que pagar pela insanidade dos homens. Guerra, genocídio, estupro, prisão, sequestro, tortura.
 
Alguma vez você viu uma criança ser estuprada bem na frente de seus olhos? Já sobreviveu a uma Guerra, ou viu seus amados sobreviverem a uma? Já experimentou na pele uma pequena réplica do Holocausto em sua própria vida – grades e altos muros e arame farpado separando você do resto do mundo, enquanto você sofre indizíveis horrores atrás deles?
 
Não, você não experimentou nada disso. Então – diga-me outra vez que me quer, diga-me outra vez que me ama – depois de ter visto o que há por detrás do meu rosto.
 

Amen
(Leonard Cohen)
 
Diga-me outra vez
Quando já fui ao rio
E saciei um pouco minha sede
Diga-me outra vez
Quando estamos sozinhos e estou escutando
Escutando tanto que me dói
Diga-me outra vez
Quando estou limpo e sóbrio
Diga-me outra vez
Diga-me vez após vez
Diga-me então que você me quer
Amen...
 
Diga-me outra vez
Quando as vítimas cantarem
E as Leis do Remorso forem restauradas
Diga-me outra vez
Que você sabe o que estou pensando
Mas a vingança vem do Senhor
Diga-me outra vez
Quando eu estiver limpo e sóbrio
Diga-me outra vez
Quando ultrapassei os horrores
Diga-me outra vez
Diga-me vez após vez
Diga-me então que você me ama
Amen...

Diga-me outra vez
Quando o dia for resgatado
E a noite não tiver direito a baixar
Tente outra vez
Quando os anjos estiverem arquejando
E arranhando a porta para entrar
Diga-me outra vez
Quando eu estiver limpo e sóbrio
Diga-me outra vez
Depois que superei o horror
Diga-me outra vez
Diga-me então que você precisa de mim
Amen...

Diga-me outra vez
Quando a sujeira do açougueiro
Foi lavada no sangue do cordeiro
Diga-me outra vez
Quando o resto da cultura
Passou pelo Olho do Campo
Diga-me outra vez
Quando estou limpo e sóbrio
Diga-me outra vez
Quando superei o horror
Diga-me vez após vez
Diga-me então que você me ama
Amen...

 


fig: Animação da autora, com sua foto - "New York Tears"
Dalva Agne Lynch
Enviado por Dalva Agne Lynch em 28/09/2016
Reeditado em 28/09/2016
Código do texto: T5775064
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