Alimentando-se da Verdade
Timóteo já havia servido ao evangelho por muitos anos juntamente com Paulo, quando este lhe escreveu a sua segunda epístola, e é interessante observar que o apóstolo lhe disse que deveria dar a devida atenção a tudo o que lhe estava escrevendo porque o Senhor lhe daria entendimento de todas as coisas.
Este estendimento espiritual é uma referência ao crescimento progressivo do conhecimento da pessoa de Jesus Cristo, pelo qual nos tornamos cada vez mais participantes da graça e da paz que nele se encontram (2 Pe 1.2).
É por nos alimentarmos progressiva e espiritualmente de Cristo e da sua Palavra, que nos tornamos fortalecidos e aptos para fazer a Sua vontade, vivendo do modo que lhe seja agradável.
Tal como Timóteo sempre temos muito o que aprender de Deus.
Um espírito humilde e submisso muito nos ajudará nisto.
Por isso devemos sempre fugir do endurecimento do orgulho espiritual que nos incapacita a aprender tudo o que necessitamos da parte de Deus, para que obtenhamos crescimento espiritual.
Se não nos acomodarmos e se não tentarmos fazer com que as coisas se ajustem às nossas conveniências, mas se ao contrário, nos entregarmos inteiramente ao bom combate da fé, trabalhando incansavelmente na seara do Senhor, e correndo a carreira que nos está proposta na busca da nossa santificação para a Sua glória, então Ele nos dará entendimento destas verdades que Paulo disse a Timóteo na segunda epístola que lhe dirigiu, e nos fará entender qual é o caráter da obra que devemos fazer debaixo do senhorio de Cristo.
É somente Deus quem pode nos dar compreensão das coisas espirituais, porque elas se discernem espiritualmente, mas se não estivermos compromissados com Ele, considerando devidamente a necessidade de nos empenharmos no Seu serviço, não poderemos ter os nossos olhos espirituais abertos para compreender o mundo espiritual.
Para encorajar Timóteo a suportar os sofrimentos impostos pelo evangelho com paciência, Paulo lhe aconselhou a trazer em memória o fato de que Jesus havia ressuscitado dentre os mortos, e era por causa do testemunho desta Sua ressurreição que estava sofrendo trabalhos e até prisões como se fosse um malfeitor.
Cristo havia padecido grandemente e sofreu a terrível morte de cruz por amor aos homens, para que eles pudessem ser salvos e livrados do poder da morte, através da ressurreição.
Assim, os cristãos já têm triunfado sobre a morte por causa da morte e ressurreição de Cristo.
Este poder da vida celestial, plena e eterna foi comprovado na vida de nosso Senhor, através da sua firme e completa disposição para vencer todo tipo de tentação, por se entregar inteiramente ao cuidado do Pai, e por confiar nEle em toda e qualquer circunstância, para que tudo vencesse por meio da fé nEle. Nisto também somos chamados para seguir o Seu exemplo, uma vez que importa dar o testemunho desta nova vida resssurecta que obtivemos na nossa comunhão com Ele, inclusive nos Seus sofrimentos.
Como este testemunho deve ser dado até que Cristo volte, para que sejam salvas pessoas de todas as gerações, então a Palavra de Deus nunca estará presa e impossibilitada de operar eficazmente.
Cristo morreu e ressuscitou por amor aos escolhidos, e Paulo tudo sofria também por amor deles para que pudessem alcançar a salvação que está em Cristo Jesus, e isto deveria ser lembrado por Timóteo e por todos os ministros de Cristo para que tenham a mesma atitude de Paulo e que façam o mesmo que ele fazia, estando bem cientes de qual é a principal missão da Igreja.
O cristão não pode portanto ficar intimidado ainda que seja pela morte porque já triunfou sobre a morte pela sua identificação com a morte de Cristo.
Além da esperança da vida, há uma esperança de reinar em glória com Cristo para aqueles que sofrerem por causa do seu amor a Ele e da obra do evangelho, neste trabalho de salvação dos pecadores.
Cristo honrará grandemente àqueles que Lhe honrarem, mas negará diante de Seu Pai e dos santos anjos a qualquer que negar o Seu nome.
Entretanto, por maior que seja o número daqueles que venham a negar o Seu nome, Ele jamais deixará de ser fiel em cumprir o que prometeu, porque não pode negar a si mesmo.
Veja que Paulo alertou a Timóteo, e a todos os ministros do evangelho que o dever deles é pregar a morte e ressurreição de Cristo para a salvação dos pecadores.
Eles devem suportar sofrimentos por amor aos perdidos, de maneira que possam alcançar a salvação que é pela fé em Cristo Jesus.
Nenhum ministro deve se permitir ser desviado deste grande objetivo e alvo de Deus para eles, por causa de contendas de palavras, que não servem para nada, senão apenas para perverter os seus ouvintes.
O trabalho de um ministro do evangelho é o de edificar aqueles que estão debaixo do seu cuidado, e lhes trazer em memória aquelas coisas que eles já conhecem, porque este é o trabalho dos ministros: não falar coisas diferentes daquelas que pertencem ao evangelho, mas o que foi revelado por Deus em Sua Palavra para a nossa edificação na verdade.
É por isso que a contenda entre ministros ou quaisquer cristãos por causa da interpretação do uso e significado de palavras, que em nada contribua para a pregação clara e direta do evangelho, é um desserviço à causa de Cristo.
A contenda de palavras em vez de conduzir os ouvintes a Cristo, servirá apenas para lhes afastar dEle.
Os ministros têm um trabalho a fazer e terão que suportar dores para realizá-lo.
E qual é o trabalho deles?
É principalmente compartilharem a palavra da verdade. Não inventarem um novo evangelho, mas pregarem o evangelho que foi confiado por Deus a eles, conforme revelado aos apóstolos que testemunharam a morte e ressurreição de Cristo.
A palavra que os ministros pregam é a palavra da verdade, porque o Seu autor é o Deus verdadeiro.
Então se requer grande sabedoria, estudo da Bíblia e cuidado para se compartilhar esta palavra da verdade da maneira adequada e ter a vida conformada a ela. Foi por isso que Paulo ordenou a Timóteo que se aplicasse ao manejo correto da Palavra.
Por conseguinte, todo ministro que não maneja bem a palavra da verdade não pode se apresentar aprovado diante de Deus. E ele será envergonhado por não estar capacitado a desempenhar o serviço para o qual foi encarregado por Ele.
Como a obra do evangelho possui tal caráter com tais demandas que exigem especialmente dos ministros toda diligência e cautela, eles devem dar muita atenção a tudo aquilo que possa ser um obstáculo para o desempenho do trabalho deles, como por exemplo falatórios profanos que em vez de uma vida piedosa produzem impiedade e se espalham rapidamente como uma gangrena que põe a perder todo o corpo.
Quando os erros e heresias entrarem na Igreja, a infecção de um se espalhará rapidamente infectando a muitos, tal como ocorreu com a heresia de Himeneu e Fileto nos dias de Paulo, que perverteu a fé de alguns, porque estavam ensinando que a ressurreição era um fato que pertencia ao passado, porque seria, segundo eles, um modo alegórico de Cristo se referir à ressurreição espiritual relativa à conversão.
É verdade que há uma ressurreição espiritual, mas afirmar que não haverá uma real ressurreição do corpo é o mesmo que afirmar que Cristo mentiu ao fazer tal promessa à Igreja.
Ao negarem a ressurreição do corpo deviam também estar negando qualquer recompensa futura pelos nossos sofrimentos por causa do evangelho, e isto desestimularia os cristãos na diligência para a santificação deles e empenho no serviço de Cristo.
Apesar de todos estes abalos que são produzidos pelas heresias no edifício da Igreja, o seu fundamento permanece firme, porque a infidelidade e incredulidade dos homens não podem anular a promessa de Deus e a Sua vontade.
Até mesmo importa que haja a investida do reino das trevas e do erro para que os cristãos fiéis sejam inflamados de zelo para a defesa da verdade, e da busca de Deus para as respostas e ações necessárias para se combater o erro, e com isto a verdade é mantida entre os cristãos; a saber, entre aqueles que são conhecidos de Deus, como sendo efetivamente participantes do Seu povo; e estes se desviarão da iniquidade e não se deixarão vencer pelo erro.
Daí o apóstolo afirmar: “O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade.”.
Então não se deve apenas resistir às heresias, como também a toda forma de iniquidade, porque é isto que esfria o amor.
Quando deixamos de andar no amor, conforme o mandamento que temos recebido do Senhor, ficamos à mercê das investidas do diabo e da carne, e podemos até mesmo, em nome de sermos zelosos pelas coisas de Deus, agirmos tal como os fariseus, produzindo muitas dores em nossos irmãos em Cristo, e com isso podemos até mesmo impedir uma obra que o Espírito esteja fazendo em nosso meio.
Logo, o dever de combater as heresias não se restringe apenas ao dever de manter a sã doutrina através de uma pregação e de um ensino ortodoxo, mas também e sobretudo em manter a disciplina ordenada por Cristo na Igreja.
Baseado no segundo capitulo de 2 Timóteo