É Somente em Jesus que Temos Revelação do que é Celestial - Comentário de João 3.13

Por João Calvino

“Ora, ninguém subiu ao céu, senão aquele que de lá desceu, a saber, o Filho do Homem que está no céu.” (João 3.13)

“Ninguém subiu ao céu”. Jesus novamente exorta Nicodemos a não confiar em si mesmo e em sua própria sagacidade, porque nenhum homem mortal pode, por seus próprios poderes, entrar no céu, senão somente aquele que vai para lá sob a orientação do Filho de Deus. Porque subir ao céu signfica aqui, "ter um conhecimento puro dos mistérios de Deus, e a luz de entendimento espiritual." Porque Cristo dá aqui a mesma instrução que é dada por Paulo, quando declara que o homem natural não compreende as coisas que são de Deus (1 Coríntios 2.14), e, portanto, ele exclui as coisas divinas de toda a agudeza do entendimento humano, pois está muito abaixo de Deus.

Mas devemos entender das palavras, que só Cristo, que é celestial, ascende aos céus, mas que a entrada está fechada para todos os demais. Pois, na frase anterior, ele nos humilha, quando ele exclui todo mundo do céu. Paulo ordena àqueles que desejam ser sábios com Deus que devem ser tolos em relação a si mesmos (1 Coríntios 3.18).

Nada há para o que temos maior relutância. Para este propósito devemos lembrar, que todos os nossos sentidos falham e fogem quando intentamos ir a Deus; mas, depois de nos ter colocado fora do céu, Cristo rapidamente propõe um remédio, quando ele acrescenta, que o que foi negado a todos os outros é concedido ao Filho de Deus. E isso também é a razão pela qual ele se chama o Filho do homem, para que não duvidemos que podemos ter uma entrada no céu em comum com ele, que se vestiu com a nossa carne, para que pudesse nos fazer participantes de todas as bênçãos. Uma vez que, portanto, somente ele é Conselheiro do Pai (Isaías 9. 6), ele nos admite naqueles segredos que de outra forma teriam permanecido em segredo.

“Que está no céu”. Pode-se pensar ser absurdo dizer que ele está no céu, enquanto ele ainda habitava na terra. Se for respondido que isso é verdade no que diz respeito à sua natureza divina, o modo de expressão significa alguma outra coisa, a saber, que, porquanto ele fosse homem, ele estava no céu. Pode-se dizer que nenhuma menção é feita aqui de qualquer lugar, mas apenas que Cristo é distinguido dos outros, no que diz respeito ao seu estado, porque ele é o herdeiro do reino de Deus, do qual toda a raça humana está banida; mas, uma vez que muito frequentemente acontece, em virtude da unidade da Pessoa de Cristo, que o que pertence propriamente a uma natureza é aplicado a outra, não devemos procurar outra solução. Cristo, portanto, que está nos céus, se vestiu da nossa carne, para que, esticando a mão fraternal para nós, ele possa nos elevar para o céu juntamente com ele.

Traduzido e adaptado por Silvio Dutra.

João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 06/10/2014
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