Jesus é Elevado pelo Evangelho à Vista dos Que se Salvam - Comentário de João 3.14,15

Por João Calvino

“14 E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado,

15 para que todo o que nele crê tenha a vida eterna.”

14. “E como Moisés levantou a serpente”. Jesus explica mais claramente por que ele disse que é somente para ele que o céu é aberto; ou seja, que ele traz para o céu somente a todos os que estão dispostos a segui-lo como seu guia; pois ele atesta que ele vai ser aberto e publicamente manifestado a todos, para que ele possa difundir seu poder sobre os homens de todas as classes. Ser levantado significa ser colocado numa situação elevada, de modo a ser exibido à vista de todos. Isso foi feito através da pregação do Evangelho; porque a explicação que alguns dão, como se referindo à cruz, nem está de acordo com o contexto, nem é aplicável ao presente assunto. O simples significado das palavras, portanto, é que, pela pregação do Evangelho, Cristo seria exaltado, como um padrão para o qual os olhos de todos deveriam ser dirigidos, como Isaías tinha predito (Isaías 2.2). Como um tipo desse levantamento, ele se refere à serpente de bronze, que foi erguida por Moisés, a visão da qual era um remédio salutar para aqueles que foram feridos pela picada mortal de serpentes. A história desta ocorrência é bem conhecida, e é detalhada em Números 21.9. Cristo a introduz nesta passagem, para mostrar que ele deve ser colocado diante dos olhos de todos pela doutrina do Evangelho, para que todos os que olham para ele pela fé possam obter salvação. Por isso, deve-se inferir que Cristo é claramente exibido a nós no Evangelho, a fim de que ninguém possa se queixar de obscuridade; e que esta manifestação seja comum a todos, e que a fé tem o seu próprio olhar, pelo qual é percebida como presente; como Paulo nos diz que um retrato vivo de Cristo com a cruz é exibido, quando ele é verdadeiramente pregado (Gálatas 3.1).

A metáfora não é imprópria ou rebuscada. Assim como era apenas a aparência de uma serpente, mas não continha nada em si que fosse pestilento ou venenoso, assim Cristo vestiu-se com a forma de carne do pecado, e ainda sendo puro e livre de todo o pecado, para que pudesse curar em nós a ferida mortal do pecado. Não foi em vão que, quando os judeus foram feridos pelas serpentes, que o Senhor preparou previamente este tipo de antídoto; e isto intentava confirmar o discurso que Cristo entregou. Porque quando viu que ele seria desprezado como uma pessoa desconhecida, ele poderia produzir nada mais apropriado do que a elevação da serpente, para dizer-lhes, que eles não devem achar isto estranho, mas, ao contrário da expectativa dos homens, ele foi levantado de sua muito baixa condição, porque isso já havia sido tipificado nos termos da Lei pela serpente de bronze.

A questão agora é: Será que Cristo comparou-se à serpente, porque há alguma semelhança; ou, ele pronunciou isto para ser um sacramento, como foi o maná? Porque embora o maná fosse um alimento material, Paulo ainda testifica que era um mistério espiritual (1 Coríntios 10.3) sou levado a pensar que este também foi o caso com a serpente de bronze, tanto por essa passagem, e pelo fato de ter sido preservado para o futuro, até que a superstição das pessoas a tivessem convertido em um ídolo (2 Reis 18. 4). Se qualquer um formar uma opinião diferente, eu não debato o ponto com ele.

Traduzido e adaptado por Silvio Dutra.

João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 06/10/2014
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