Comentário de João 8.34
Por João Calvino
“Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado.” (João 8.34)
“Todo homem que comete pecado é escravo do pecado”. Este é um argumento tirado de coisas opostas. Os judeus se gabavam de que eram livres. Jesus prova que eles são escravos do pecado, porque, sendo escravizados pelos desejos da carne, pecavam continuamente. É surpreendente que os homens não sejam convencidos por sua própria experiência, de modo que, deixando de lado seu orgulho, eles possa aprender a ser humildes. E isso é muito frequente ocorrer nos dias de hoje, que, quanto maior a carga de vícios pela qual um homem é puxado para baixo, mais ferozmente ele profere palavras sem sentido exaltando o livre arbítrio.
Cristo parece dizer aqui nada mais do que aquilo que foi dito anteriormente por filósofos, que os que são dedicados às suas paixões estão sujeitos a uma escravidão mais degradante. Mas há um significado mais profundo e oculto, ou seja; pois ele não argui o que os homens maus trazem em si mesmos, mas o que é a condição da natureza humana. Os filósofos pensavam que qualquer homem é escravo por sua própria escolha, e que pela mesma escolha ele retorna à liberdade. Mas aqui Cristo afirma, que todos os que não são livrados por ele estão em um estado de escravidão, e que todos sofreram o contágio do pecado da natureza corrompida, sendo escravos desde seu nascimento. Nós devemos atentar para a comparação entre a graça e a natureza, à qual Cristo aqui se refere; a partir da qual pode ser facilmente visto que os homens estão destituídos de liberdade, a não ser que sejam resgatados desta condição por uma ajuda externa.
Traduzido e adaptado por Silvio Dutra.