Comentário de João 6.65
Por João Calvino
“E prosseguiu: Por causa disto, é que vos tenho dito: ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido.” (João 6.65)
(Nota do tradutor: Que majestade, honra, poder, domínio e glória teria Deus Pai e Jesus Cristo se tivessem que regatear com os homens acerca da salvação deles, como que lhes implorando o favor de se converterem? Reis terrenos fariam isto com malfeitores? Quanto mais jamais o fará a Majestade santa e perfeitamente justa do Céu. Por isso se diz que somos bem-aventurados se nos humilharmos diante do Senhor, se chorarmos por nossos pecados e lhe estendermos nossas mãos implorando que seja misericordioso para conosco, pecadores que somos. Sabendo que se Deus não inclinar o seu cetro para nos perdoar, estamos irremediável e eternamente perdidos.)
65. “ Por isso eu vos disse”. Mais uma vez Jesus afirma que a fé é um dom incomum e notável do Espírito de Deus, de modo que não devemos ficar atônitos com o fato do Evangelho não ser recebido em todos os lugares e por todos. Porque, sendo fracos para virar a nosso favor o curso dos acontecimentos, pensamos da forma mais mesquinha do Evangelho, porque o mundo inteiro não concorda com ele. Surge o pensamento em nossa mente, como é possível que a maior parte dos homens deva recusar deliberadamente a sua salvação? Cristo, portanto, atribui a razão pela qual há tão poucos crentes, ou seja, porque nenhum homem, seja qual for a sua inteligência, pode chegar à fé por sua própria sagacidade; pois todos são cegos, até que sejam iluminados pelo Espírito de Deus, e, portanto, somente deste modo eles podem participar da grande bênção que o Pai designou para que sejamos participantes da mesma. Se esta graça fosse concedida a todos, sem exceção, teria sido inoportuno e inadequado ter mencionado isto nesta passagem; pois devemos entender que era o desígnio de Cristo mostrar que não muitos acreditam no Evangelho, porque a fé procede apenas da secreta revelação do Espírito.
“Se, pelo Pai, não lhe for concedido”. Ele agora usa a palavra “conceder” no lugar que tinha usado no versículo anterior, “atrair”; pelo que ele diz que não há outra razão pela qual Deus nos atraia, senão por causa da livre graça com a qual ele nos ama; porque o que obtemos pelo dom e graça de Deus, nenhum homem adquire para si mesmo por sua própria operosidade.
Traduzido e adaptado por Silvio Dutra.