Comentário de Judas 1.8

Por João Calvino

“E, contudo, também estes, semelhantemente adormecidos, contaminam a sua carne, e rejeitam a dominação, e vituperam as dignidades.” (Judas 1.8)

“E, contudo, também estes”. Esta comparação não deve ser forçada muito rigorosamente, como se ele comparasse em todas as coisas estes que menciona com os sodomitas, ou com os anjos caídos, ou com o povo incrédulo. Ele apenas explica que eles eram vasos da ira designados para a destruição, e que não poderiam escapar da mão de Deus, mas que num momento ou em outro ele faria deles exemplos da sua vingança. O seu propósito era atemorizar os fiéis para os quais estava escrevendo, para que não se associassem com eles.

Mas aqui ele começa a descrever mais claramente esses impostores. E primeiro diz que eles contaminavam sua carne como que por sonhos – por cujas palavras Judas denota o seu estúpido descaramento, como se tivesse dito que eles se entregavam a todos os tipos de imundície, que os mais perversos abominariam, a menos que o sono retirasse a vergonha, e também a consciência. Nesse caso, este é um modo metafórico de falar, pelo qual ele sugere que eles eram tão grosseiros e estúpidos que se entregavam sem nenhuma vergonha a todo o tipo de infâmia.

Há um contraste a ser notado, quando ele diz que eles contaminavam, ou poluíam a carne, ou seja, degradavam o que era menos excelente, e que, no entanto, desprezavam como infame o que é considerado particularmente excelente entre os homens.

Pela segunda cláusula parece que eles eram homens sediciosos, que buscavam a anarquia, a fim de que, estando livres do temor das leis, pudessem pecar mais livremente. Mas estas duas coisas estão quase sempre conectadas, que aqueles que se entregam à iniquidade também querem abolir toda a ordem. Embora, de fato, o objetivo principal deles seja livrar-se de todo o jugo, pelas palavras de Judas parece que eles costumavam falar insolente e injuriosamente dos magistrados, assim como os fanáticos de hoje, que não apenas murmuram porque são impedidos pela autoridade dos magistrados, mas clamam furiosamente contra todo o governo, e dizem que o poder da espada é profano e contrário à piedade. Em suma, eles expulsam arrogantemente da Igreja de Deus todos os reis e todos os magistrados. “Dignidades, ou glórias”, são ordens ou postos eminentes em poder ou honra.

João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 23/09/2014
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