Comentário de Judas 1.11
Por João Calvino
“Ai deles! porque entraram pelo caminho de Caim, e foram levados pelo engano do prêmio de Balaão, e pereceram na contradição de Coré.” (Judas 1.11)
“Ai deles!”. É de se questionar por que Judas os censura tão severamente, quando acabara de dizer que não fora permitido a um anjo pronunciar acusação injuriosa contra Satanás. Mas não era o seu propósito estabelecer uma regra geral. Ele apenas explicou brevemente, pelo exemplo de Miguel, quão intolerável era a loucura deles quando censuravam insolentemente o que Deus honrou. Sem dúvida era lícito a Miguel fulminar Satanás com a sua maldição final. E sabemos quão veementemente os profetas ameaçavam os ímpios. Mas, quando Miguel absteve-se da severidade extrema (de outro modo legítima), que loucura seria não observar moderação para com aqueles que se sobressaem em glória? Mas quando pronunciou maldição sobre eles, ele não imprecou tanto o mal sobre eles, mas antes lembrou-os o tipo de final que os aguardava. E fez isto para que não levassem outros consigo à perdição.
Ele diz que aqueles eram imitadores de Caim, o qual, sendo ingrato a Deus e pervertendo a sua adoração por um coração ímpio e mau, perdeu o seu direito de primogenitura. Ele diz que estavam enganados pela recompensa como Balaão, porque adulteravam a doutrina da verdadeira religião por lucro imundo. Mas a metáfora que ele usa expressa algo mais, pois diz que eles transbordavam, ou seja, porque o seu excesso era como água transbordante. Ele diz, em terceiro lugar, que eles imitavam a contradição de Coré, porque perturbavam a ordem e tranquilidade da igreja.