Comentário de Judas 1.14,15
Por João Calvino
“14. E destes profetizou também Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos;
15. Para fazer juízo contra todos e condenar dentre eles todos os ímpios, por todas as suas obras de impiedade, que impiamente cometeram, e por todas as duras palavras que ímpios pecadores disseram contra ele.”
“E também Enoque”. Prefiro pensar que esta profecia não estava escrita, ao invés de ter sido tirada de um livro apócrifo. Ela pode ter sido transmitida de memória pelos antigos à posteridade. Se alguém questionar: Visto que sentenças semelhantes ocorrem em muitas passagens da Escritura, por que ele não citou um testemunho escrito por um dos profetas? A resposta é óbvia: Ele queria repetir desde a mais remota antiguidade o que o Espírito havia pronunciado a respeito deles. E isto é o que as palavras sugerem, pois diz expressamente que este era o sétimo depois de Adão, a fim de recomendar a antiguidade da profecia, porque ela existia no mundo antes do dilúvio.
Mas eu disse que esta profecia era conhecida dos judeus por relato. Mas se alguém pensa de outro modo, não contenderei com ele, e, na verdade, nem a respeito da própria epístola, se é de Judas ou de algum outro. Em coisas duvidosas, apenas sigo o que parece provável.
“Eis que vem, ou é vindo, o Senhor”. O tempo passado, segundo o modo dos profetas, é usado em lugar do futuro. Ele diz que o Senhor viria com milhares de seus santos. E por santos ele se refere aos fiéis, bem como aos anjos, pois ambos adornarão o tribunal de Cristo, quando ele descer para julgar o mundo. Ele diz milhares, como também Daniel menciona miríades de anjos (Dn 7.10), a fim de que a multidão dos ímpios não sobrepuje, como um mar bravio, os filhos de Deus, mas para que pensem nisto, que o Senhor um dia reunirá o seu povo, parte do qual está habitando no céu, invisível a nós, e parte está oculta sob uma grande quantidade de pó.
Mas a vingança que está suspensa sobre as cabeças dos ímpios deveria manter os eleitos em temor e vigilância. Ele fala de obras e palavras, porque seus corruptores cometeram muito mal, não somente pela sua vida ímpia, mas também pela sua linguagem falsa e impura. E as suas palavras foram duras, por conta da audácia obstinada, pela qual, sendo orgulhosos, agiram insolentemente.