Comentário de Judas 1.20
Por João Calvino
“Mas vós, amados, edificando-vos a vós mesmos sobre a vossa santíssima fé, orando no Espírito Santo,” (Judas 1.20)
“Mas vós, amados”. Judas mostra o modo como poderiam vencer todos os artifícios de Satanás, a saber, tendo o amor unido à fé, e ficando em guarda como que em sua torre de vigia, até a vinda de Cristo. Mas como usa muitas vezes e densamente as suas metáforas, ele apresenta aqui um modo de falar peculiar a si, que deve ser brevemente comentado.
Ele lhes manda primeiro se edificarem a si mesmos sobre a fé, significando por isto que o fundamento da fé deveria ser mantido, mas que a primeira instrução não é suficiente, a não ser que aqueles que já foram estabelecidos na verdadeira fé prossigam continuamente em direção à perfeição. Ele chama a fé deles de santíssima, a fim de que repousassem totalmente nela, e para que, apoiando-se da sua firmeza, nunca vacilassem.
Mas, visto que toda a perfeição do homem consiste na fé, pode parecer estranho que lhes mande construir outro edifício, como se a fé fosse apenas um começo para o homem. Esta dificuldade é removida pelo Apóstolo nas palavras que seguem, quando ele acrescenta que os homens edificam sobre a fé quando é acrescentado o amor. Exceto, talvez, que alguém prefira considerar este sentido, de que os homens edificam sobre a fé enquanto fazem proficiência nela. E, sem dúvida, o progresso diário da fé é tal que ela mesma se ergue como um edifício. Assim o Apóstolo nos ensina que, para crescermos na fé, precisamos ser constantes em oração e manter o nosso chamado pelo amor.
“Orando no Espírito Santo”. O modo de perseverar é quando somos investidos do poder de Deus. Por isso, sempre que a questão for a respeito da constância da fé, devemos fugir para a oração. E, como geralmente oramos de uma maneira formal, ele acrescenta: “no Espírito”, como se tivesse dito que tal é a nossa indolência, e que tal é a frieza da nossa carne, que ninguém pode orar corretamente a não ser que seja despertado pelo Espírito de Deus; e que também somos tão inclinados à desconfiança e ao estremecimento que ninguém se atreve a chamar Deus de Pai, exceto através do ensino do mesmo Espírito. Pois dele é a solicitude, dele é o fervor e a veemência, dele é a vivacidade, dele é a confiança em obter o que pedimos, em suma, dele são aqueles gemidos inexprimíveis mencionados por Paulo em Romanos 8.26. Sendo assim, não é sem razão que Judas nos ensina que ninguém consegue orar como deveria sem ter o Espírito Santo como seu guia.