Ir a Cristo para Ser Aliviado
Por João Calvino
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei.” (Mateus 11.28)
“Vinde a mim todos que os que estais cansados e sobrecarregados”. Jesus convida gentilmente para si aqueles a quem reconhece estarem aptos para se tornarem seus discípulos. Embora ele esteja pronto para revelar o Pai a todos, todavia a maior parte é descuidada sobre ir a ele, porque eles não são afetados por uma convicção de suas necessidades. Muitos não têm qualquer preocupação a respeito de Cristo, porque estão intoxicados com a sua própria justiça, e nem têm fome e sede (Mateus 5. 6) da sua graça. Aqueles que são devotados ao mundo não dão qualquer valor à vida celestial. Seria em vão, portanto, Cristo convidar cada uma destas pessoas, e, portanto, ele se vira para os miseráveis ​​e aflitos. Ele fala deles como sobrecarregados, ou gemendo e cansados sob um fardo, e não se refere necessariamente àqueles que estão oprimidos por dor e dissabores, mas àqueles que são oprimidos por seus pecados, que estão cheios de temor do juízo de Deus, e que estão prontos para afundar sob tão pesado fardo. Existem vários métodos, de fato, pelos quais Deus humilha seus eleitos; mas como a maior parte daqueles que estão sobrecarregados com aflições ainda permanece obstinada e rebelde, Cristo define como pessoas cansadas e oprimidas, aqueles cujas consciências estão angustiadas por causa da sua exposição à morte eterna, e que estão interiormente tão pressionados por suas misérias que eles desmaiam; para que por este mesmo desmaio os prepare para receber a sua graça. Ele nos diz que a razão pela qual a maioria dos homens despreza a sua graça é porque não estão sensatos da sua pobreza espiritual; mas que não há nenhuma razão para que o seu orgulho ou insensatez devam manter almas aflitas tanto tempo longe para o alívio.
Vamos, portanto, nos despedir de todos os que, enredados pelos laços de Satanás, também estão convencidos de que eles possuem a justiça de Cristo, ou imaginam que estão felizes neste mundo. Que as nossas misérias nos levem a buscar a Cristo; e como ele não admite ninguém para desfrutar do seu descanso, senão aqueles que estão afundando sob o fardo, vamos aprender, que não há nenhum veneno mais mortal do que a negligência, que é produzida em nós, quer pela felicidade terrena, ou por uma opinião falsa e enganosa de nossa própria justiça e virtude. Que cada um de nós trabalhe diligentemente para despertar, em primeiro lugar, por vigorosamente sacudir as luxúrias do mundo; e, por outro, deixar de lado toda a falsa confiança. Agora, embora esta preparação para ir a Cristo lhes torne como homens mortos, no entanto, deve ser observado, que isto é o dom do Espírito Santo, porque é o início do arrependimento, para que nenhum homem confie em sua própria força. Cristo não tinha a intenção de mostrar o que o homem pode fazer de si mesmo, mas apenas nos informar quais devem ser os sentimentos daqueles que vêm a ele.
Aqueles que limitam o fardo e o cansaço às cerimônias da Lei, têm uma visão muito estreita ao interpretarem estas palavras de Cristo. Eu reconheço, que a Lei de Moisés foi intoleravelmente pesada, e opressora para as almas dos adoradores; mas devemos ter em mente o que eu disse, que Cristo estende a mão a todos os aflitos, e, portanto, estabelece uma distinção entre seus discípulos e aqueles que desprezam o Evangelho. Mas temos de atender à universalidade da expressão; porque Cristo incluiu todos, sem exceção, que estão cansados ​​e oprimidos, de modo que nenhum homem possa fechar o portão contra si mesmo por dúvidas ímpias. E, no entanto todas essas pessoas são poucas em número; porque, entre a multidão inumerável daqueles que perecem, poucos estão conscientes de que estão perecendo espiritualmente. O alívio que ele promete consiste no livre perdão dos pecados, o único que pode nos dar a paz.
Traduzido e adaptado por Silvio Dutra.
(Nota do Pr Silvio Dutra: Ficamos surpreendidos com o modo como Calvino apresenta o assunto, uma vez que estas palavras de Jesus têm sido interpretadas sob o enfoque da auto-ajuda, ou consolação psicológica para pessoas que estão desanimadas e sofridas. A abordagem de Calvino pode portanto até mesmo espantar, e ser considerada dura e áspera, todavia é a mais pura expressão da verdade quanto ao único modo de se achar a real consolação e salvação em Jesus, e portanto, é uma fiel interpretação das palavras do Mestre, pois se acha em conformidade com todo o restante do Seu ensino e significado da Sua missão redentora.)