Comentário de 2 Tessalonicenses 2.1
Por João Calvino
“Ora, irmãos, rogamo-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com ele,” (2 Tessalonicenses 2.1)
1. “Ora, rogamo-vos, pela vinda”. Isto pode na verdade ser lido como: concernente à vinda, mas é mais conveniente considerá-lo como um pedido sério, a partir do assunto em questão, como em 1 Co 15:31, quando, discursando a respeito da esperança de uma ressurreição, ele faz uso de um juramento por aquela glória que deve ser esperada pelos crentes. E isto tem muito maior eficácia, quando conjura os crentes, pela vinda de Cristo, a que não imaginem temerariamente que o seu dia esteja próximo, pois ao mesmo tempo ele nos admoesta a não pensarmos nisto senão com reverência e sobriedade. Pois é costumeiro conjurar pelas coisas que são consideradas por nós com reverência. Portanto, o sentido é: “Assim como atribuís grande valor à vinda de Cristo, quando ele nos reunirá consigo, e realmente aperfeiçoará aquela unidade do corpo que até agora nutrimos apenas em parte, através da fé; do mesmo modo rogo-vos seriamente pela sua vinda a que não sejais demasiadamente crédulos, caso alguém afirme, sob qualquer pretexto, que o seu dia está próximo”.
Como, na sua Epístola anterior, ele havia se referido, até certo ponto, à ressurreição, é possível que, a partir disto, alguns fanáticos e inconstantes tomassem ocasião para determinar um dia próximo e fixo. Pois não é provável que este erro não tivesse se originado entre os tessalonicenses antes. Pois Timóteo, ao voltar de lá, havia informado a Paulo toda a sua condição, e, como homem prudente e experimentado, não havia omitido nada que fosse de importância. Ora, se Paulo tivesse recebido notícia acerca disto, ele não teria se silenciado quanto a uma questão de tão graves consequências. Assim, sou da opinião que, quando fora lida a primeira Epístola de Paulo, a qual continha uma vívida descrição da ressurreição, alguns que estavam dispostos a favorecer a curiosidade filosofaram inoportunamente quanto ao seu tempo. Contudo, esta era uma fantasia absolutamente destrutiva, assim como eram também outras coisas da mesma natureza, que depois se disseminaram, não sem artifício por parte de Satanás. Pois, quando se diz que algum dia está próximo, se não chegar rapidamente, sendo a humanidade por natureza impaciente com maiores dilações, seus espíritos começam a definhar, e logo depois essa languidez é seguida pelo desespero.
Portanto, isto era uma sutileza de Satanás; como ele não podia subverter abertamente a esperança de uma ressurreição, com vistas a solapá-la secretamente, como que por meio de buracos subterrâneos, ele prometera que o seu dia estaria próximo, e logo chegaria. Em seguida, também, ele não cessara de inventar várias coisas com vistas a ofuscar das mentes dos homens, pouco a pouco, a crença de uma ressurreição – uma vez que não podia erradicá-la abertamente. De fato, é algo plausível dizer que o dia da nossa redenção está definitivamente fixado, e por esta causa isto é recebido com o aplauso por parte da multidão, tal como sabemos que os devaneios de Lactâncio e dos quiliastas antigamente causaram grande deleite; e contudo eles não tiveram outra tendência senão a de subverter a esperança de uma ressurreição. Este não era o propósito de Lactâncio, mas Satanás, conforme a sua sutileza, perverteu a sua curiosidade, e a dos seus semelhantes, não deixando nada definido ou fixo na religião, e até os dias atuais ele não deixa de empregar os mesmos meios. Agora vemos quão necessária era a admoestação de Paulo, uma vez que, não fosse por isso, toda a religião teria sido subvertida entre os tessalonicenses sob um pretexto plausível.