Comentário de 2 Tessalonicenses 2.8

Por João Calvino

“E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda;” (2 Tessalonicenses 2.8)

“E então será revelado”, ou seja, quando aquele impedimento (katechon) for removido; pois ele não assinala o tempo da revelação como sendo quando aquele que agora tem a supremacia for tirado do caminho, mas tem em vista o que havia dito antes. Pois ele dissera que havia certo impedimento no caminho do Anticristo para que este chegasse à posse declarada do reino. Em seguida, acrescentou que ele estava incubando uma obra secreta de impiedade. Em terceiro lugar, intercalou uma consolação, com base em que esta tirania chegaria a um fim. Ele agora repete novamente que aquele que ainda estava oculto seria revelado neste tempo; e a repetição tem este objetivo – que os crentes, estando equipados com a armadura espiritual, possam, não obstante, lutar valorosamente sob Cristo, e não se permitirem vencer, ainda que a avalanche de impiedade seja tão difusa.

“A quem o Senhor”. Ele havia prenunciado a destruição do reinado do Anticristo; agora, assinala o modo da sua destruição – que ele será reduzido a nada pela palavra do Senhor. Contudo, é incerto se ele fala da aparição final de Cristo, quando ele será manifestado desde o céu como o Juíz. As palavras, de fato, parecem ter este sentido, mas Paulo não quer dizer que Cristo realizaria isto em um só momento. Por onde devemos entendê-lo no sentido de que o Anticristo seria totalmente e em cada aspecto destruído, quando aquele dia final da restauração de todas as coisas chegasse. Contudo, Paulo sugere, ao mesmo tempo, que Cristo colocará em fuga, através dos raios que emitirá antes do seu advento, a escuridão em que o Anticristo reinará; assim como o sol, antes de ser visto por nós, afugenta as trevas da noite pela emanação dos seus raios.

Portanto, esta vitória da Palavra se revelará neste mundo, pois o espírito da sua boca simplesmente se refere à Palavra, assim como também em Is 11.4; passagem à qual Paulo parece aludir. Pois ali o Profeta toma no mesmo sentido o cetro da sua boca, e o sopro dos seus lábios, e também provê Cristo destas mesmas armas, a fim de que ele aniquile seus inimigos. Esta é uma notável recomendação da verdadeira e sã doutrina – que ela seja apresentada como suficiente para pôr um fim a toda a impiedade; e como destinada a ser invariavelmente vitoriosa, em oposição a todas as maquinações de Satanás; como também quando, pouco depois, a sua proclamação é expressa como a vinda de Cristo a nós.

Quando Paulo acrescenta: “esplendor da sua vinda”, ele sugere que a luz da presença de Cristo será tal que tragará as trevas do Anticristo. Ao mesmo tempo, ele sugere indiretamente que o Anticristo terá permissão para reinar por um tempo, quando Cristo, de certa forma, se tem retirado, como geralmente acontece quando, ao se apresentar, voltamos nossas costas para ele. E, sem sombra de dúvida, este é um triste afastamento de Cristo, quando ele retira sua luz dos homens, a qual foi imprópria e indignamente recebida, de acordo com o que se segue. Ao mesmo tempo, Paulo ensina que, apenas pela sua presença, todos os eleitos de Deus estarão abundantemente seguros, em oposição a todas as sutilezas de Satanás.

(Nota do Pr Silvio Dutra: Quão temerário é que coloquemos a confiança e segurança da nossa salvação nas mãos de determinadas instituições religiosas, sejam elas quais forem, porque poderemos afinal estar apoiando simplesmente homens e projetos humanos, que podem ser inclusive contrários aos propósitos de Deus. Somos portanto advertidos constantemente nas Escrituras a colocar tão somente a nossa confiança em Jesus Cristo e em nada e ninguém mais, quando o que está em foco é a segurança eterna da nossa alma. Ademais, o ensino doutrinário que nos convém é aquele que é afirmado na Bíblia – faremos bem portanto, em rechaçar tudo o que não esteja conformado à sã doutrina bíblica).

João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 09/09/2014
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