Comentário de 2 Tessalonicenses 3.4,5
Por João Calvino
“4. E confiamos quanto a vós no Senhor, que não só fazeis como fareis o que vos mandamos.
5. Ora o Senhor encaminhe os vossos corações no amor de Deus, e na paciência de Cristo.”
4. “Confiamos”. Através deste prefácio ele prepara o caminho para prosseguir dando a instrução, a qual o encontraremos acrescentando logo em seguida. Pois a confiança que ele diz possuir com respeito a eles os tornara muito mais prontos para obedecer do que se tivesse exigido obediência deles de um modo duvidoso ou desconfiado. Contudo, ele diz que esta esperança que nutria em relação a eles estava fundamentada no Senhor, porquanto cabe a ele constranger seus corações à obediência, e conservá-los nela; ou, por esta expressão (como me parece mais provável), ele pretendia testificar que não é sua intenção prescrever coisa alguma senão por mandamento do Senhor. Aqui, portanto, ele estabelece limites para si mesmo quanto a prescrever, e para eles quanto a obedecer – de que isto deveria ser apenas no Senhor. Portanto, todos os que não observam esta limitação recorrem sem propósito ao exemplo de Paulo, com o fim de constranger a Igreja e sujeitá-la às suas leis. Talvez ele tivesse isto em vista, que o respeito devido ao seu apostolado permanecesse intacto entre os tessalonicenses, por mais que os ímpios tentassem privá-lo da honra que lhe pertencia; pois a oração que ele acrescenta em seguida tende a este objetivo. Pois, contanto que os corações dos homens continuem a estar direcionados para o amor a Deus, e em paciente espera de Cristo, as demais coisas estarão em um estado desejável,– e Paulo declara não desejar nada mais. A partir disto fica manifesto quão distante ele está de buscar domínio propriamente para si. Pois está satisfeito, desde que eles perseverem no amor a Deus, e na esperança da vinda de Cristo. Ao acompanhar com oração a sua expressão de confiança, ele nos admoesta de que não devemos relaxar no ardor da oração pelo fato de nutrirmos boa esperança.
Contudo, como ele declara aqui de forma sumária as coisas que sabia eram extremamente necessárias para os cristãos, que todos façam do seu esforço ter aproveitamento nestas duas coisas, tanto quanto desejem fazer progresso em direção à perfeição. E, sem sombra de dúvida, o amor de Deus não pode reinar em nós a menos que o amor fraternal também seja exercido. Aguardar a Cristo, por outro lado, nos ensina a exercitar o desprezo pelo mundo, a mortificação da carne, e a resignação da cruz. Ao mesmo tempo, a expressão poderia ser explicada no sentido de paciência de Cristo – aquela que a doutrina de Cristo produz em nós; mas prefiro entender isto em referência à esperança da redenção final. Pois esta é a única coisa que nos sustenta na batalha da vida presente, que aguardemos o Redentor; e, ademais, esta espera exige resignação paciente em meio aos exercícios contínuos da cruz.