Comentário de João 1.15
Por João Calvino
“João testemunha a respeito dele e exclama: Este é o de quem eu disse: o que vem depois de mim tem, contudo, a primazia, porquanto já existia antes de mim.” (João 1.15)
“João dá testemunho”. Ele agora relata o que foi a pregação de João Batista. Por usar o verbo o testemunhar (marturei) no tempo presente, ele denota um ato continuado, e, certamente, essa doutrina deve ser continuamente vigorosa, como se a voz de João estivesse ressoando continuamente nos ouvidos dos homens. Do mesmo modo que ele usa depois a palavra “clamar”, para insinuar que a doutrina de João não se encontrava em nenhum grau obscura ou ambígua, e que ele não murmurava entre alguns homens, mas abertamente, e com grande voz, pregava a Cristo. A primeira frase se destina a transmitir a declaração, que ele foi enviado por causa de Cristo, e que, portanto, teria sido razoável que ele deveria ser exaltado, enquanto Cristo não entrasse em cena.
“Este é aquele de quem eu falava”. Por essas palavras ele quer dizer que a sua intenção foi, desde o início, que Cristo fosse conhecido, e que esta era a razão de seus discursos públicos; como, de fato, não havia outra maneira para que ele pudesse cumprir o seu dever como embaixador do que conduzir seus discípulos a Cristo.
“Já existia antes de mim”. Apesar de que João Batista fosse mais velho do que Cristo por alguns meses, todavia ele não fala agora de idade; mas como ele tinha cumprido o ofício de profeta por um curto período antes de Cristo aparecer em público, então ele faz a si mesmo o predecessor em relação ao tempo. No que diz respeito, por conseguinte, à manifestação pública, Cristo veio depois de João Batista. As palavras que se seguem podem ser literalmente declaradas, “ele veio depois de mim, tem contudo a primazia porque já existia antes de mim”; mas o significado é, que Cristo foi justamente preferido a João, porque ele era mais excelente. Ele, portanto, rendeu seu ofício a Cristo e – assim como diz o provérbio “passou-lhe o bastão", ou deu a ele lugar como seu sucessor. Mas, como Cristo surgiu mais tarde na ordem do tempo, João lembra seus ouvintes que isso não é razão para que ele não devesse ser preferido a ele mesmo, como sua posição merecida. Assim, todos os que são superiores aos outros, quer nos dons de Deus ou em qualquer grau de honra, devem permanecer na sua própria posição, de modo a ser colocada abaixo de Cristo.
Traduzido e adaptado por Silvio Dutra.