A Alegria é Um Dever

 

 

                                                                                    João Calvino 


 “1Tes 5:16 Regozijai-vos sempre.
1Tes 5:17 Orai sem cessar.
1Ts 5:18 Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.”
 

“Alegrai-vos sempre”.

Refiro-me a isto como sendo a moderação do espírito, quando a mente se mantém em calma sob a adversidade, e não é indulgente com a dor; por conseguinte eu uni essas três coisas - alegrar-se sempre, orar sem cessar, e dar graças a Deus em todas as coisas, pois quando ele recomenda oração incessante, ele aponta o caminho da alegria perpétua para que por estes meios, peçamos a Deus alívio em relação a todas as nossas angústias.

 

Da mesma forma, tendo dito:

“Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, alegrai-vos".

"Seja a vossa moderação conhecida de todos os homens. Perto está o Senhor".

"Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças".

”E a paz de Deus, que excede todo entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus".   Fp 4: 4-7

Ele chama a atenção para os meios de se alcançar isto – “mas em todas as orações sejam as vossas petições conhecidas diante de Deus, com ações de graças.”
 

Nessa passagem, como podemos ver, ele apresenta como uma fonte de alegria uma mente calma e composta, que não seja indevidamente perturbada por injúrias ou adversidades, mas para que nós não ficássemos abatidos pela dor, tristeza, ansiedade e medo, ele nos convida a repousar na providência de Deus.

E, como dúvidas frequentemente nos perturbam quanto a que se Deus, de fato cuida de nós, ele também prescreve o remédio - que pela oração lancemos nossas ansiedades, por assim dizer, no Seu seio, como Davi nos manda fazer no Salmo 37: 5 e 55: 22; e também Pedro, a seguirmos o seu exemplo. (1 Pedro 5:  7)

 

No entanto, como somos precipitados indevidamente em nossos desejos, ele impõe um exame sobre eles - que, apesar de desejarmos o que necessitamos, ao mesmo tempo não devemos deixar de dar graças.
Ele apresenta isto, aqui, quase na mesma ordem, embora em menor número de palavras, pois em primeiro lugar, deveríamos ter e guardar os benefícios de Deus em tal estima, que o reconhecimento deles e a meditação sobre eles superaria toda tristeza.

E, sem dúvida, se considerarmos o que Cristo nos tem conferido não haverá amargura de tristeza que seja tão intensa, que não possa ser aliviada, e dará lugar à alegria espiritual, pois se esta alegria não reina em nós, o reino de Deus é ao mesmo tempo banido de nós, ou nos afastamos dele.

 

É muito ingrato, que o homem de Deus não tenha em tão alto valor a justiça de Cristo e a esperança da vida eterna, assim como alegrar-se em meio à tristeza.

Como, no entanto, nossas mentes são facilmente desanimadas até que elas dão lugar à impaciência, devemos observar o remédio que ele acrescentou imediatamente depois, porque ao sermos desanimados e derrubados, somos ressuscitados por orações, porque nos lançamos sobre o Deus que nos carrega.

Como, porém há em cada dia, ou melhor, a cada momento, muitas coisas que podem perturbar a nossa paz e estragar a nossa alegria; Ele, por esta razão nos manda orar sem cessar.

 

Agora, quanto a esta constância na oração, nós temos falado em outro lugar.

A ação de graças, como já disse, é adicionada como uma limitação, porque muitos oram de tal maneira, que ao mesmo tempo murmuram contra Deus, e se preocupam se Ele não satisfará imediatamente seus desejos.

Mas, ao contrário, é apropriado que nossos desejos sejam restringidos de tal maneira que, contentes com o que nos é dado, sempre misturemos a ação de graças com nossos desejos.

Podemos legitimamente, é verdade, perguntar, suspirar e lamentar, mas deve ser de tal forma, que a vontade de Deus seja mais aceitável para nós do que a nossa.
 

Traduzido e adaptado por Silvio Dutra.

 

 

 


 

 

 

 

João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 29/08/2014
Reeditado em 29/11/2023
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