Por que a Pregação Decaiu?

 
Por D. M. Lloyd Jones
 
Qual a causa disso? Bem, penso que posso analisá-la de maneira bem precisa no que se refere à Grã-Bretanha, e creio que isso vale em parte aqui. Na Grã-Bretanha estou certo de que um dos fatores mais importantes foi que tivemos um primeiro ministro cujo nome era Stanley Baldwin. Assumiu as suas funções em 1924. Ele seguiu certos homens do tipo de Lloyd George, que fora primeiro ministro durante a Primeira Guerra Mundial e que tivera em seu gabinete pessoas como Winston Churchill e o lorde Birkenhead. Todos esses homens eram bons para discursar, eram grandes oradores; e Stanley Baldwin não era. Era um político muito inteligente e percebeu que a única coisa que um homem como ele poderia fazer era dizer algo mais ou menos assim: pois bem, eu não sou um grande homem, não sou um grande orador, sou apenas um inglês comum, franco e simples. Passou a sugerir que a oratória é perigosa e que, se um homem é um bom orador, não se pode confiar nele. O único homem em quem se pode confiar é o homem tranqüilo, simples, que não pode proferir uma oração grandiosa mas que pode oferecer uma prosa amigável, e nesse você pode confiar.
 
Sem nenhuma dúvida, essa idéia penetrou toda a esfera da pregação. Tenho observado o desenvolvimento de certa desconfiança da pregação. Vocês tiveram neste país um homem que, penso eu, fez grande dano - S. D. Gordon. Alguns dos mais velhos de vocês se lembrarão dos livros dele e, para mim, os títulos dos seus livros põem tudo às claras: "Singelas Conversas sobre isto e aquilo" - sobre a oração, sobre o poder ("Quiet Talks on Prayer, Quiet Talks on Power"). Sempre deve ser uma conversa singela, como uma prosa amigável, nada dessa "grande oratória de púlpito", perigosa e não espiritual. Conversas singelas, apenas uma breve conversação! Esses fatores, vocês vêem, atuaram juntos.
 
Depois veio a terrível invenção do rádio e da televisão - eles têm sido uma grande maldição. E têm sido uma maldição por muitas e muitas razões. Uma delas, naturalmente, é que em geral você tem o tempo limitado por essas coisas, e isso é sempre destrutivo para a verdadeira pregação, como lhes mostrarei mais adiante. Em acréscimo a isso, há o elemento impessoal. Muito freqüentemente o pregador fica sozinho numa sala, o que é péssimo: não tem contato com os seus ouvintes. E há várias técnicas a respeito das quais eles têm muito que dizer; tem havido vários cursos sobre "técnicas de televisão" aos quais não faltam freqüentadores. Não posso imaginar algo tão patético como pregadores se deixarem instruir por esses pequenos peritos em televisão sobre como se conduzirem, até quanto àquele sorriso ridículo, e tudo mais. Tais cursos destroem todo o conceito e idéia da pregação. Estou aqui para lhes falar a verdade, e devo criticar coisas que tenho observado entre vocês aqui, como noutros lugares. Não entendo esse costume de um pregador ir para o púlpito domingo de manhã, olhar para as pessoas presentes e dizer-lhes: "bom dia". Isso é o mundo; o pregador não deve fazê-lo. Vieram ouvir a Palavra de Deus, e o pregador vem de Deus. Não há necessidade desse tipo de coisa, e já sinto que isso interfere no elemento essencial da pregação.
 
Outro fator ligado à decadência da pregação tem a ver com o lugar da leitura. Conforme as pessoas se tornam mais instruídas e buscam cada vez mais a leitura, toda a noção de pregação tende a ser depreciada. O homem inteligente dá-se conta de que não precisa agüentar uma arenga lançada sobre ele por um homem num púlpito; ele pode fazer a sua leitura em casa, pode ler os mesmos livros que o pregador lê. Daí, por que deverá ouvir o pregador? E mais intelectual ele próprio sentar-se e ler um livro. Penso que isso tem feito realmente grande dano. A idéia é que os nossos antepassados não liam, não tinham os livros, e com freqüência muitos deles não sabiam ler, e assim dependiam desse homem que parecia ser uma autoridade. Mas a geração moderna rebelou-se contra tudo isso, e a leitura tomou o lugar da pregação. Bem, cada um desses pontos, é claro, poderia ser tomado, e poderíamos mostrar a tremenda diferença que há entre a leitura, mesmo de bons livros, e a pregação. Não há comparação entre as duas. A pregação é o método e processo ordenado por Deus, e a leitura jamais poderá ser um substituto da pregação. Há algo peculiar acerca da pregação que a leitura jamais poderá alcançar.
 
Outro fator que tem feito grande dano a toda a questão da pregação em nosso país, e creio que também no de vocês, tem sido um mal e falso tipo de pregação popular. Tivemos um excesso disso, especialmente em Gales, minha terra natal. Houve homens que transformaram a pregação em diversão, homens que estavam mais interessados na maneira como diziam as coisas do que nas coisas que diziam, e homens que eram peritos naquilo que, em minha bem ponderada opinião, é uma abominação, a saber, o uso exagerado de ilustrações e histórias. Todo o objetivo do sermão era conseguir uma ilustração eficiente! Sabiam que conseguiriam produzir efeito sobre as pessoas. A noção do sermão e da pregação veio a ser uma noção de entretenimento. E com isso você tinha uma falsa pregação popular, com a qual toda pessoa verdadeiramente espiritual, na verdade toda pessoa inteligente, ficava pouco menos que desgostosa.
 
Houve também um termo que se usava e que eu abomino, o termo "pulpiteiro" ("pulpiteer"). Havia esses grandes pulpíteiros, os Henry Ward Beecher e gente desse tipo, que causaram infinito prejuízo à pregação. Eles eram grandes mestres de assembléias, homens bombásticos que dominavam nos períodos médio e final da era vitoriana. Entendo que eles fizeram grande dano a todo o conceito e noção da pregação verdadeira.
 
Depois, apenas para acrescentar outro fator a esta lista, há o movimento sacramentalista, que teve sua influência sobre diferentes segmentos da Igreja, particularmente na Igreja Anglicana, em diferentes países ao redor do mundo. A mesma influência tem permeado as igrejas livres, a idéia de que o sacramento é o encargo central da igreja, mais importante que qualquer outra coisa. Pois bem, a história disso na Igreja Anglicana na Inglaterra é realmente muito fascinante. O movimento anglicano-católico iniciou-se na década de 1830, introduzindo vestes e novas idéias quanto ao sacramento - o qual se aproximava cada vez mais de Roma. E à medida que isso tudo se desenvolvia, a pregação declinava correspondentemente.
 
Assim o sermão veio a ser mera trivialidade. O importante era a administração dos sacramentos.
 
O derradeiro elemento que colocarei nesta categoria de coisas que prejudicaram muito a pregação é a noção geral do trabalho pessoal que eu creio que vocês denominam "aconselhamento". Isso também tem militado contra a pregação. A idéia é que o realmente necessário é uma conversação pessoal em que as pessoas podem apresentar as suas perguntas e as suas dificuldades e as podem solucionar juntas. Talvez a pregação ainda seja considerada uma espécie de função, mas apenas como uma introdução geral para conseguir que as pessoas venham falar com você; o vital será realizado quando você tiver privadamente uma conversação. Este é um dos resultados do interesse pela psicologia e pela introdução do elemento psicológico na obra pastoral e, na verdade, em toda a atividade da vida da Igreja. E na medida em que esta ênfase ao aconselhamento tem aumentado, correspondentemente a ênfase à pregação tem decaído. Eu poderia ilustrar de novo, no caso de Gales, onde, naturalmente, sempre acreditamos na pregação mais do que jamais se acreditou nela na Inglaterra. Acreditava-se na pregação mais na Escócia e em Gales do que jamais se acreditou nela na Inglaterra, porém a pregação tem se esvaído em ambos os países, e em grande parte por causa dessa ênfase à obra pessoal. Em Gales deveu-se a mudança quase inteiramente a um professor que foi diretor de uma das faculdades da Igreja Presbiteriana Galesa. Ele próprio não podia pregar, pobre sujeito; era supostamente um grande psicólogo, no entanto nunca se deu conta do seu próprio complexo, claro para alguns de nós. Ele resolveu o seu problema pessoal menosprezando a pregação e acentuando o valor do aconselhamento e da obra pessoal. Era um homem tão hábil e afável que influenciou duas ou três gerações de jovens pregadores que não acreditavam mais na pregação como tal. E, naturalmente, eles podiam contrastar o que estavam fazendo com a falsa pregação popular, e o resultado foi que toda a noção de pregação veio a ser depreciada. Pois bem, aí estão alguns dos fatores que têm militado contra o verdadeiro entendimento da pregação e do lugar da pregação na vida da Igreja.
 

 
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D. M. Lloyd Jones
Enviado por Silvio Dutra Alves em 25/08/2014
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