O que Fazer da Nossa Pecaminosidade?

 
Por D. M. Lloyd Jones
 
Martinho Lutero, jovem piedoso e temente a Deus, preocupou-se com a sua alma e quis saber como poderia conseguir perdão dos seus pecados. Seu pai queria que ele fosse advogado, e ele começou os seus estudos, porém vivia inquieto, sua consciência o acusava. Viu que não encontraria paz vivendo no mundo, por isso abandonou tudo para fazer-se monge, tornar-se do mundo para tentar descobrir como ser justo e pôr-se em boas relações com Deus. Entregou-se ao estudo, ao jejum, ao suor dos esforços pessoais e à oração.
 
Mas, quanto mais Lutero estudava, mais via que estava total e absolutamente condenado pela justiça de Deus, e mais se encolhia na insignificância e na perdição. Desesperava-se e não sabia o que fazer com ele mesmo. Todavia, subitamente tudo se lhe tornou claro: "O justo viverá pela fé"! Viu que a justiça de Deus não é algo que a pessoa pode alcançar por si, mas que é dom de Deus, concedido mediante Jesus Cristo. Imediatamente sua alma encheu-se de gozo e paz. E esse foi o começo da Reforma Protestante.
 
Vocês sabem o que Martinho Lutero disse a respeito dos últimos versículos do capítulo 4 de Romanos? Permitam-me lembrar-lhes o que eles dizem:
 
Ora não só por ele (em atenção a Abraão) está escrito, que lhes fosse imputado, mas também por nós, a quem será imputado, os que cremos naquele que dos mortos ressuscitou a Jesus nosso Senhor; o qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação (Romanos 4:23-25).
 
E Lutero disse: "Estes versículos abrangem todo o cristianismo". E por isso que eu chamo a atenção de vocês para eles. O cristianismo todo está envolvido nessa declaração de que Abraão ouviu o chamado, e saiu; saiu da Mesopotâmia e foi para Harã, em obediência ao mandado de Deus.
 
E, como o apóstolo disse aos seus contemporâneos, eu digo agora: isso tudo não foi escrito meramente sobre Abraão. Não estou chamando a atenção de vocês para isto por estar interessado em história e por ter espírito de antiquário. Não, não; eu estou no mesmo mundo em que vocês estão e tenho que morrer e comparecer perante Deus. Quero viver decente mente enquanto estiver aqui, e sei que este caminho cristão é o único.
 
As perguntas supremas para cada um de nós são: como posso ser cristão? Como posso ser reto e justo diante de Deus? Como posso viver e morrer de maneira tal que não tema nada e que possa encarar o futuro com alegria e com ação de graças? Como os homens e as mulheres podem ser salvos?
 
A maior necessidade de cada um de nós é de ser abençoado por Deus. No Domingo da Recordação estamos considerando as guerras do presente século: isso faz parte da ira de Deus sobre "toda a impiedade e injustiça dos homens". A maior necessidade do mundo é sair de debaixo da ira de Deus e experimentar a graça e a bênção de Deus. Que fazer acerca da nossa pecaminosidade? Como podemos conhecer Deus? Como podemos encontrar esta relação abençoada? E, em última análise, chega-se a isto: somos salvos pelo que nós fazemos, ou pelo que Deus fez e faz?
 
Agora permitam que eu lhes expresse isso com muita simplicidade. Que é que coloca os homens e as mulheres em correta relação com Deus? Seria que eles têm vida moralmente boa? Seria que não fazem certas coisas que outros fazem e, em vez disso, lêem a Bíblia, oram e se empenham na prática de obras filantrópicas? E isso que os coloca em reta relação com Deus, obtém o perdão de Deus e lhes garante que estão indo para o céu? Acaso as pessoas se acertam com Deus tendo boa moral, sendo religiosas, cultivando o espírito de Cristo em seu ser? Seria esse o meio?
 
Ou será que as pessoas se tornam cristãs, obtêm o perdão dos seus pecados e encontram a salvação pela ação de uma igreja? Receberam elas o perdão e a nova vida em sua infância, quando um ministro aspergiu água sobre elas? Porventura as pessoas são salvas pelos sacramentos ou pelo ato de um sacerdócio que alega que tal ato tem esse poder?
 
Todas essas perguntas urgentes provêm justamente do problema aqui tratado. Por essa razão Estêvão e outros da Igreja Primitiva eram submetidos a julgamento. E a resposta definitiva é a seguinte: somos justificados pela fé somente; não por obras por nós praticadas, nem por obras de alguma igreja. "Creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça". É exatamente o que Estêvão está dizendo.
 
Mas será que nós entendemos bem o que significam as palavras "justificação pela fé somente"? Lembrem-se de que a sua alma e a sua salvação, o seu destino eterno, dependem do seu entendimento deste ponto. Esta é a verdadeira questão que constitui a linha divisória entre a religião e a verdadeira e viva fé cristã.

 
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D. M. Lloyd Jones
Enviado por Silvio Dutra Alves em 16/08/2014
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