Sobre a Vida Cristã – Parte 2
CAPÍTULO II
Por João Calvino
Um Resumo da Vida Cristã – A Autonegação
Daí segue o outro princípio, que não estamos buscando o que é propriamente nosso, mas a vontade do Senhor, e agindo com vistas a promover a sua glória. Grande é a nossa proficiência, quando, quase esquecendo de nós mesmos, adiando a nossa própria razão, nós fielmente a usamos para o nosso estudo de obedecer a Deus e seus mandamentos. Porque quando a Escritura nos exorta a deixar de lado o nosso interesse em nós mesmos, isto não somente se refere a despojarmos nossas mentes de um desejo excessivo de riqueza, ou de poder, ou favor humano, mas eliminarmos toda a ambição e sede de glória mundana, e outros desejos secretos. O cristão deve, de fato, ser assim treinado e disposto a considerar, que durante toda a sua vida ele tem a ver com Deus. Por esta razão, como ele trará todas as coisas para a eliminação e a estimativa de Deus, então ele vai religiosamente direcionar toda a sua mente para Ele. Porque aquele que aprendeu a olhar para Deus em tudo o que faz, é ao mesmo tempo, desviado de todos os pensamentos vãos. Isto é aquela autonegação que Cristo impõe tão fortemente a seus discípulos, desde o início (Mt 16.24) que, tão logo se apodera da mente, não deixa lugar, quer, em primeiro lugar, para o orgulho e ostentação; ou, em segundo lugar, para a avareza, a luxúria, ou outros vícios que são engendradas pelo amor próprio. Pelo contrário, sempre que isto não reina, os vícios mais vis são exibidos sem vergonha; ou, se houver alguma aparência de virtude, ela é viciada por um desejo depravado que busca por aplauso. Mostre-me, se você puder, um indivíduo que, a menos que tenha renunciado a si mesmo em obediência ao mandamento do Senhor, esteja disposto a fazer o bem para o seu próprio bem. Aqueles que não têm assim renunciado a si mesmos têm seguido a virtude, somente por causa do louvor. Os filósofos que têm contendido mais fortemente que a virtude é para ser desejada em sua própria conta, estavam tão inchados com arrogância como para tornar isto evidente, que eles buscavam a virtude por nenhuma outra razão do que como uma base para serem indulgentes com o orgulho. Quão longe, portanto, está Deus de ser agradado por esses caçadores de aplauso popular com seus seios inchados, que ele declara que já receberam a sua recompensa neste mundo (Mt 6.2) e que as prostitutas e os publicanos estão mais próximos do reino do céu do que eles (Mt 21.31). Nós não temos ainda suficientemente explicado quão grandes e numerosos são os obstáculos, pelos quais o homem é impedido de buscar a retidão, desde que ele não tenha renunciado a si mesmo. O velho ditado é verdadeiro, há um mundo de iniquidade, entesourado na alma humana. Também não se pode encontrar qualquer outro remédio para isso do que negar a si mesmo, renunciar à sua própria razão, e direcionar toda a sua mente para a busca das coisas que o Senhor exige de você, as quais você esteja buscando apenas porque são agradáveis a Ele.
Traduzido e adaptado por Silvio Dutra.
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