Sobre a Vida Cristã – Parte 8

 
CAPÍTULO II
 
Por João Calvino
 
Um Resumo da Vida Cristã – A Autonegação
 
Vamos considerar novamente e mais plenamente a parte principal da auto-negação, que como já dissemos faz referência a Deus. Muitas coisas já foram ditas em relação a isto que seria supérfluo repetir; e, portanto, será suficiente vê-lo como uma forma de equanimidade. Primeiro, então, em busca da conveniência ou tranquilidade da vida presente, a Escritura nos chama a nos resignarmos, e colocarmos tudo o que temos, à disposição do Senhor, para dar-lhe as afeições do nosso coração, para que ele possa domá-las e subjugá-las. Nós temos um desejo frenético, uma ânsia infinita, para possuir riquezas e honra, intriga pelo poder, acumular riquezas, e coletar todas as frivolidades que parecem favoráveis ​​ao luxo e esplendor. Por outro lado, temos um medo extraordinário, um ódio notável à pobreza, a uma condição humilde, e sentimos um desejo muito forte de nos  protegermos deles. Assim, no que diz respeito àqueles que moldam a sua vida segundo seus próprios conselhos, vemos quão inquietas são suas mentes, quantos planos eles experimentam, em quantas fadigas eles se submetem, a fim de que possam ganhar o que a avareza ou a ambição desejam, ou, por outro lado, saírem da pobreza e mediocridade. Para evitar embaraços semelhantes, o curso que os cristãos devem seguir é este: primeiro, eles não devem ansiar, esperar, ou pensar em qualquer tipo de prosperidade além da bênção de Deus; na qual eles devem se lançar. Pois, por mais que a mente carnal possa parecer suficiente para si mesma, quando na busca de honra ou riqueza, que depende de sua própria indústria e zelo, ou ajudada pelo favor dos homens, é certo que tudo isto é nada, e que nem intelectualidade, nem labor serão de qualquer valor, exceto na medida em que o Senhor prospere a ambos. Pelo contrário, a Sua bênção por si só faz um caminho através de todos os obstáculos, e torna cada coisa alegre e favorável. Em segundo lugar, embora sem esta bênção nós possamos ser capazes de adquirir algum grau de fama e opulência (como nós diariamente vemos os ímpios cheios de honras e riquezas), ainda nós vemos aqueles sobre os quais a maldição de Deus repousa não desfrutarem da mínima partícula da verdadeira felicidade, porque o que quer que obtenham sem a Sua bênção deve se tornar pernicioso. Mas, certamente, os homens não devem desejar o que contribua para a sua miséria.
 
Traduzido e adaptado por Silvio Dutra.

 
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João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 14/08/2014
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