Sobre a Vida Cristã – Parte 10
CAPÍTULO II
Por João Calvino
Um Resumo da Vida Cristã – A Autonegação
Também não é somente a este respeito que as mentes piedosas devem manifestar essa tranquilidade e resistência; isto deve ser estendido a todos os acidentes para os quais a vida presente é responsável. Somente aquele, portanto, que se negou adequadamente, e que se consagrou inteiramente ao Senhor, colocando todo o curso de sua vida inteiramente à sua disposição; aconteça o que acontecer, aquele cuja mente está assim composta não irá nem se considerar miserável, nem murmurará contra Deus por causa de sua porção. Quão esta disposição é necessária aparecerá, se você considerar os muitos acidentes a que estamos sujeitos. Várias doenças de tempos em tempos nos atacam: a peste se enfurece numa ocasião; em outra estamos envolvidos em todas as calamidades da guerra. Geada e granizo, destruindo a promessa do ano, causando esterilidade, a qual nos reduz à miséria; esposas, pais, filhos, parentes, são levados pela morte; nossa casa é destruída pelo fogo. Estes são os eventos que fazem os homens amaldiçoarem sua vida, detestar o dia de seu nascimento, execrar a luz do céu, até mesmo censurar a Deus, e (como eles são eloquentes em blasfêmias) acusando-o de crueldade e injustiça. O crente deve nessas coisas também contemplar a misericórdia e a indulgência verdadeiramente paternal de Deus. Assim, ele verá a sua casa com a remoção de sua parentela ser reduzida à solidão, mesmo assim, ele não deixará de bendizer ao Senhor; seu pensamento será, ainda a graça do Senhor, que habita dentro de minha casa, não vai deixá-la desolada. Se as suas culturas são destruídas, mofadas, ou queimadas pela geada, ou atingidas por granizo, e vê a fome diante dele, ele não irá no entanto desanimar ou murmurar contra Deus, mas manterá a sua confiança nele: "Nós teu povo e ovelhas do teu pasto, te daremos graças para sempre" (Sl 79.13); ele me suprirá com comida, mesmo ao extremo de esterilidade. Se ele está aflito com a doença, a agudeza da dor não irá vencê-lo, para fazê-lo sair com impaciência, e protestar contra Deus; mas, reconhecendo a justiça e misericórdia na vara da correção, irá suportar pacientemente. Em suma, tudo o que acontece, sabendo que isto é ordenado pelo Senhor, ele irá recebê-lo com uma mente plácida e grata, e não resistirá ao governo dAquele, a quem sob cuja disposição se colocou e tudo o que ele tem. Especialmente, deixe que o peito do cristão evite a tola e mais miserável consolação dos pagãos, que, para reforçar a sua mente contra a adversidade, imputaram isto à sorte, a qual consideraram absurda e ficaram indignados. Pelo contrário, a regra de piedade é que a mão de Deus é o governante e árbitro do destino de todos, e, em vez de correr com violência impensada, dispensa o bem e o mal com perfeita regularidade.
Traduzido e adaptado por Silvio Dutra.
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